Chefão dos mercenários que fugiu de helicóptero vai para lista da Interpol
De família tradicional da fronteira, ele está foragido após vazamento de operação da PF
A Justiça Federal de Ponta Porã determinou que o mandado de prisão contra Antônio Joaquim Gonçalves Mendes da Mota, 30 anos, seja cadastrado na Difusão Vermelha da Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal).
Conhecido como “Dom” ou “Motinha”, ele é apontado como chefão do grupo de mercenários alvo da operação Magnus Dominus, realizada pela PF (Polícia Federal) na última sexta-feira (dia 30). O nome da ação faz referência a líder criminoso que se intitulava como Dom, título alusivo a Don Corleone, do filme "O Poderoso Chefão”.
Contudo, o alvo está foragido porque a operação vazou e Dom, que se encontrava em fazenda na fronteira de Ponta Porã com o Paraguai, conseguiu fugir dois dias antes, se valendo de helicóptero.
A chamada Lista Vermelha da Interpol é um pedido para a aplicação da lei em todo o mundo para localizar e prender provisoriamente um criminoso. Os extratos de “avisos vermelhos” são publicados por solicitação de um País membro.
A decisão da 2ª Vara Federal de Ponta Porã foi divulgada na edição de hoje do Diário Oficial do TRF 3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região). “Cadastre-se o mandado de prisão de Antônio Joaquim Gonçalves Mendes da Mota, na Difusão Vermelha da Interpol”, informa o documento.
A movimentação foi em processo, uma ação penal, que tramita sob sigilo. A defesa de Antônio Joaquim da Mota, conhecido como Tonho e pai de Dom, pediu acesso a documentos, que foi negado.
“O pedido de acesso a vários feitos formulado pela defesa de Antônio Joaquim da Mota, vulgo Tonho ou Tonho da Mota, se deferido, daria ao réu o direito de acessar elementos que sequer foram produzidos contra ele, em total desvirtuamento da súmula vinculante nº 14. Nesta linha, a denúncia apresentada está embasada nos elementos trazidos pelo MPF [Ministério Público Federal] e ponderados por este Juízo, quando do recebimento daquela, sendo estes os limites da lide penal que devem ser enfrentados pela defesa, não havendo aspectos deixados ocultos propositalmente por este Juízo”.
A Súmula 14 prevê o direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.
Paramilitares - De família tradicional da fronteira, Antônio Joaquim Gonçalves Mendes da Mota está foragido desde 30 de junho. Na operação Magnus Dominus, quadrilha de paramilitares, especializada em guerras e no combate a piratas na Somália, foi alvo de 12 mandados de prisão e 11 de busca e apreensão em Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul.
Foram presos nove brasileiros, um italiano, um romeno e um grego. Um dos alvos foi o 3º sargento da PM (Polícia Militar) Ygor Nunes Nascimento, 36 anos, conhecido como “Roma” ou “Romanov”.
“A investigação demonstra que Motinha colocou em sua rotina de vida (já que andava escoltado) e de seus atos ilícitos (tráfico de drogas) a atuação desse grupo de homens fortemente armados e com grande know-how policial/militar, sendo denominado por enésimas vezes pelos órgãos de investigação (MPF e DPF) como mercenários”, informa o despacho que autorizou a prisão.
A quadrilha atuava no tráfico de drogas e armas na fronteira entre MS e Paraguai. As investigações mostraram que a organização criminosa detinha de grande poder bélico, com equipamentos de última geração. Coletes a prova de balas, drones, óculos de visão noturna, granadas e armamento de grosso calibre como fuzis .556, 762 e .50, capazes de perfurar blindagens e abater aviões.
O Campo Grande News não conseguiu contato com a defesa de Antônio Joaquim Gonçalves Mendes da Mota.
Operações – A mansão do pecuarista Antônio Joaquim da Mota foi alvo da operação Helix, também da Polícia Federal, em 11 de maio deste ano. Na ocasião, a viatura estacionada em frente ao imóvel na Avenida Brasil repetiu cena de 19 de novembro de 2019, quando ele foi preso na operação Patrón, etapa da Lava Jato que mirou Dario Messer, o “doleiro dos doleiros”. A ação penal da Patrón foi trancada pela Justiça.
"Sublinhe-se que a Família Mota preserva raízes nas cidades de Ponta Porã/MS e de Pedro Juan Caballero/Paraguai há mais de 50 (cinquenta) anos, gozando de elevado prestígio e com incontáveis serviços prestados à sociedade fronteiriça, notadamente para o desenvolvimento da agropecuária na região, e sem qualquer envolvimento com atividades criminosas", informa nota à imprensa, assinada pelo advogado Luiz Renê Gonçalves do Amaral, que atua na defesa de Tonho.