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Interior

Com dinheiro do tráfico, família de Jarvis Pavão ostentava vida de luxo

Hoje foram bloqueados R$ 300 milhões das contas bancárias dos investigados

Helio de Freitas, de Dourados | 27/08/2020 15:37
Policiais federais em um dos endereços onde foram cumpridos mandados, em Campo Grande (Foto: Paulo Francis)
Policiais federais em um dos endereços onde foram cumpridos mandados, em Campo Grande (Foto: Paulo Francis)

De dentro da cadeia, tanto no Paraguai quanto no Brasil, o narcotraficante sul-mato-grossense Jarvis Gimenes Pavão continuou bancando vida de luxo e ostentação para seus familiares, entre esposa, filhos, irmãos, sobrinhos, tios, mãe e padrasto.

Mesmo sem trabalhar e sem qualquer atividade lícita para justificar o padrão de vida, eles moram em condomínios de luxo e usam veículos que valem acima de R$ 100 mil.

Através de empresas de câmbio, a organização criminosa enviava o dinheiro do crime organizado para o exterior e depois outras empresas de fachada destinavam os valores para os familiares mais próximos, aqueles que o seguem na peregrinação que tem feito pelos presídios brasileiros desde dezembro de 2017 quando foi extraditado do Paraguai.

Esse “núcleo duro”, formado por familiares e apoiadores mais chegados, foi alvo da Operação Pavo Real, desencadeada hoje (27) pela Polícia Federal em cinco Estados brasileiros e no Distrito Federal.

Entre os alvos dos 21 mandados de prisão (preventiva, temporária e domiciliar) cumpridos hoje estão a mãe, o padrasto, os filhos, a esposa, os tios, irmãos e sobrinhos de Jarvis Pavão, atualmente na Penitenciária Federal de Brasília.

Durante entrevista coletiva em Brasília para apresentar o resultado da operação, o delegado Leonardo Marinho Gomes dos Santos, da diretoria de repressão ao tráfico da Polícia Federal, disse que ação de hoje representa “asfixia financeira” para descapitalizar a organização comandada por Jarvis Pavão.

“[Pavão] por muitos anos comandou a remessa de cocaína vinda da Bolívia, Peru e Colômbia e da maconha produzida no Paraguai, enviadas ao Brasil através de Ponta Porã. Ele declarou guerra contras as organizações rivais para manter esse controle”, afirmou.

Jarvis Pavão e a advogada Laura Casuso, executada em novembro de 2018 (Foto: Hoy)
Jarvis Pavão e a advogada Laura Casuso, executada em novembro de 2018 (Foto: Hoy)

Rafaat – O delegado citou que Pavão é considerado pela polícia paraguaia o mandante da execução de Jorge Rafaat, em junho de 2016, morte que só agravou a guerra na Linha Internacional. Depois da execução de Rafaat, parentes de Pavão passaram a sofrer atentados, muitos foram mortos, inclusive o irmão e a advogada dele, Laura Casuso, executada a tiros em Pedro Juan Caballero, em novembro de 2018.

“Ele continuou controlando o envio de armas e drogas para o Brasil mesmo recluso no Paraguai”, disse Leonardo Marinho. Quando Pavão foi transferido de Mossoró (RN) para Porto Velho (RO), familiares dele se mudaram para condomínio de alto padrão na capital rondoniense, ostentando vida incompatível com a realidade financeira, já que nenhum deles trabalha ou tem atividade lícita para explicar os gastos. O fato chamou a atenção da PF, que passou a investigar os parentes.

Conforme o delegado, Jarvis Pavão conseguiu construir patrimônio milionário, fora da realidade dos traficantes normais. “Tem vários imóveis e outros bens registrados em nome de terceiros. Familiares não exercem atividade lícita e vivem no luxo e ostentação”.

A investigação da PF revelou que os filhos, esposa e a mãe moram em imóveis de altíssimo padrão, ostentando riqueza oriunda do tráfico de drogas. “Mesmo condenado a mais de 60 anos, ele continua perpetuando uma série de crimes”.

Mesadas – Segundo o delegado, os familiares mais próximos recebiam mesadas para quitar os gastos. Os pagamentos eram feitos através de empresas de câmbio que remetiam os valores para o exterior e retornavam depois para o Brasil.

Na operação de hoje foram bloqueados R$ 300 milhões em dinheiro das contas de 96 investigados, entre pessoas físicas e empresas de fachada.

Enquanto esteve preso em Porto Velho, Jarvis Pavão escreveu de próprio punho uma lista com mais de 300 imóveis identificados por codinomes e símbolos. O bilhete foi fundamental para desmantelar a estrutura financeira.

“Mesmo sem ter acesso a meios eletrônicos e tendo contato com advogados e familiares apenas por palavras, ele conseguiu se recordar de todo o patrimônio adquirido ao longo desses anos”, afirmou Leonardo Marinho.

Conforme o delegado, o filho de Pavão é considerado o sucessor hierárquico e o responsável pela manutenção de toda a cadeia de tráfico de drogas e ocultação de bens. A PF não revelou qual filho exerce essa função. Um dos filhos presos hoje é Luan Azevedo Pavão, localizado em Balneário Camboriú (SC).

Além do bloqueio do dinheiro em contas bancárias, a Justiça Federal em Porto Velho determinou o sequestro de imóveis avaliados em pelo menos R$ 50 milhões e de 17 veículos de luxo.

“O poder dessas organizações de cometer atos violentos vem do dinheiro. Não adianta isolar líderes de organizações criminosas, se eles mantêm o poder financeiro na mão de familiares e de outros membros da facção”, afirmou o delegado.

O delegado Elvis Secco, coordenador de ações contra o crime organizado e tráfico de drogas, também presente na entrevista coletiva, disse que a simples prisão de membros de baixo escalão que transportam drogas não é o caminho para enfrentar o narcotráfico. “O caminho é tirar o poder, destruir a parte financeira da organização. A apreensão de droga é o risco do negócio do traficante”.

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