Com problema de energia e água, comunidade kadiwéu recorre ao MPF
Na reserva indígena, famílias enfrentam falta de abastecimento de água há 3 anos
O problema de água e falta de energia na reserva dos Kadiwéu, em Porto Murtinho, a 443 km da Capital, chegou ao MPF (Ministério Público Federal em Mato Grosso do Sul). Na tarde desta terça-feira (14), a liderança indígena participou de uma reunião com técnicos da Energisa e o DSei (Distrito Sanitário Especial Indígena),
Não é de hoje que a comunidade enfrenta dificuldades em fazer atividades básicas como cozinhar e tomar banho. Há três anos, as 23 famílias que residem na reserva têm o cotidiano atravessado por problemas no abastecimento de água.
Liderança Indígena e presidente do Conselho Tribal, Wesley Marques Pedroso, de 29 anos, fala que a situação nunca foi resolvida, embora tenham sido feitas diversas reivindicações à prefeitura de Porto Murtinho. “A gente já está sofrendo há três anos e tentamos resolver da melhor maneira, mas no mês retrasado não deu mais para esperar porque estávamos sofrendo muito”, afirma.
Em março, ele e outras pessoas da comunidade organizaram um protesto dentro da aldeia onde detiveram um carro oficial da prefeitura. A ação, conforme Weslley, foi mais uma tentativa de chamar atenção das autoridades.
“Fizemos um manifesto dentro da comunidade porque a prefeitura não atendia a gente e a escola estava sem água, pois ela usa o nosso reservatório. O prefeito não escutava a gente, a gente decidiu segurar a viatura”, explica.
Com 99 moradores, a comunidade que está situada no território de 375 hectares possui apenas uma bomba de água para fazer o abastecimento. O equipamento depende da energia solar para funcionar, mas só essa fonte não tem sido suficiente. “A placa solar não supre a necessidade da bomba da água e acaba sendo um problema porque até quando fecha o tempo ficamos sem energia”, comenta Wesley.
No dia a dia, a aldeia faz o que pode para conseguir usar o abastecimento que chega. O presidente do Conselho Tribal fala que são seguidos o cronograma do AISAN (Agentes Indígenas de Saneamento) para distribuir água aos moradores.
A medida, no entanto, não é suficiente para garantir que todos tenham acesso a água potável. “A gente faz um cronograma para saber a hora que é enchido o reservatório de cada casa, mas não enche todos porque logo acaba a água”, afirma.
A reunião de hoje no MPF é resultado de uma série de tentativas anteriores que a aldeia fez à prefeitura para resolver a falta de abastecimento e energia elétrica convencional. A Energisa enviou representantes ao MPF, mas nenhuma solução foi acordada pelas partes.
Chefe do Polo Base da Saúde Indígena de Bodoquena, que é responsável por atender a reserva em Porto Murtinho, Geraldo Ferreira Guimarães Neto explica que a aldeia solicitou à concessionária que seja instalada energia elétrica no território. “Essa reunião de hoje foi para ‘puxar a energia elétrica’ e a Energisa se recusa, porque como colocaram a energia solar já foi feito o atendimento primário”, destaca.
Conforme a liderança indígena, a prefeitura de Porto Murtinho não enviou nenhum representante para participar da reunião. Uma nova reunião foi marcada no MPF, mas ainda sem data definida.
A reportagem entrou em contato com a concessionária de energia e a prefeitura de Porto Murtinho. Por meio de nota, a Energisa disse que na ocasião enviou uma equipe técnica ao local e avaliou as especificações do equipamento de bombeamento de água, onde foi constatado falta de requisitos necessários que possibilite o fornecimento de energia elétrica através do sistema existente na região, o Sistema Individual de Geração de energia por Fonte Intermitente.
[ * ] Matéria alterada às 19h01 para acrescentar o posicionamento da concessionária.
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