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Interior

Deputados discutem conflito indígena e cobram solução do Estado

Morte durante confronto em Antônio João foi tema da sessão desta quarta; parlamentares se exaltaram

Por Natália Olliver e Fernada Palheta | 18/09/2024 12:15
Deputado Pedro Kemp abriu sessão falando sobre conflito (Foto: Agência ALEMS)
Deputado Pedro Kemp abriu sessão falando sobre conflito (Foto: Agência ALEMS)

Deputados usaram a tribuna da Alems (Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul), nesta quarta-feira (18), para cobrar ações efetivas do Estado e governo federal sobre conflito agrário e a morte do indígena identificado como Neri, na cidade de Antônio João, a 319 quilômetros de Campo Grande. O tema foi o assunto principal da sessão. Os ânimos ficaram exaltados durante a fala de alguns dos parlamentares.

“Há 2 dias a comunidade iniciou a retomada de uma área próxima a fazenda. Não tem ação efetiva para por fim a esses conflitos. Meses atrás tivemos o caso da Douradina. Existem estudos avançados pela demarcação dos dois lugares e esse projeto está parado. A comunidade está cansada”, disse o deputado Pedro Kemp (PT).

Ele explica que fez um apelo ao governo federal e estadual, principalmente à segurança pública, para que não haja mais vítimas, ou seja, que a ação da Polícia Militar seja repensada em casos de conflito. “Existe um gabinete de crise, mas ele precisa atuar e não podemos ficar achando que isso tudo é normal”.

Gleice Jane (PT) completou a fala e alertou que a comunidade quer que a polícia federal investigue a morte de indígena. Ela pontuou que a população sul-mato-grossense não tem tanta proteção quanto uma área privada.

Deputado Coronel David  fala que não vai admitir que culpem a PM (Foto: Sessão on-line)
Deputado Coronel David  fala que não vai admitir que culpem a PM (Foto: Sessão on-line)

Incomodado com as falas, o deputado Coronel David (PL) rebateu as críticas à Polícia Militar e disse que não vai admitir que usassem a tribuna para falar sem conhecimento sobre o assunto.

“A PM não não sai de casa pra matar ninguém, mas também não sai de casa para morrer”. Eu não vou admitir que uma pessoa ocupe a tribuna para chamar a PM de assassina. Falta conhecimento para as pessoas que vem aqui criticar a polícia”.

Ele afirma que na sexta (13) os agentes foram chamados no local novamente para evitar conflito e os indígenas ameaçaram os policiais de morte, inclusive deram uma flechada em um comandante na região abdominal.

“Falaram que ele não sairia com vida nem os fazendeiros. Ontem foi mandado reforçar do batalhão de choque, hoje às 6h novamente entraram em confronto, usando arma longa e dispararam contra os policiais que revidaram. Um indígena levou um tiro e faleceu”, completou David.

Pedro Kemp mostra foto de indígena morto em Antônio João (Foto: Sessão on-line)
Pedro Kemp mostra foto de indígena morto em Antônio João (Foto: Sessão on-line)

Pedro Kemp incrementou o discurso inicial alfinetando o deputado do PL que não poderia afirmar quem matou o indígena, mas que a morte aconteceu com uma arma de fogo. Ele também ironizou a fala do deputado.

"Não posso afirmar quem matou, mas alguém matou, partiu de uma arma de alguém. Eu não entendo nada de segurança pública, quem entende é ele [Coronel], mas entendo que o papel da polícia é fazer a defesa da vida e das pessoas. Aconteceu um assassinato, a polícia estava lá e deveria estar para proteger as pessoas. E aí, coronel, como você não admite que ataque a PM, eu não admito que ataque a comunidade indígenas. São um bando de pobres, miseráveis que passam fome e estão desprotegidos”.

Conforme Kemp, ele recebeu informações de que há uma tentativa de ocultação de cadáver e relembrou o caso do líder indígena Nísio Gomes, morto em 2011, cujo restos mortais ainda não foram encontrados. Ele era da etnia guarani-kaiowá, do acampamento Tekoha Guaiviry, em Amambai.

“No caso de Antônio João o proprietário já se prontificou a vender. Tenho no gabinete de 30 a 40 ofícios de proprietários que querem vender as terras”, completou.

O deputado Pedrossian Neto (PSD) também rebateu a fala dos petistas Gleice e Kemp e ressaltou que não acha justo que os fazendeiros sejam taxados como vilões. Que para ele nem todos são vítimas. Ele contextualiza a fala dizendo que os proprietários rurais receberam a terra do Estado para poder colonizar  em títulos com mais de 150 anos.

“Eles não buscam lucro, gostaria de ter certeza que o governo vai resolver. Estamos no terceiro governo Lula e não tivemos alteração. A realidade do conflito aqui é diferente da visto na Amazônia, onde a presença dos não indígenas é recente. Aqui é uma política, o Estado doou áreas pras pessoas”.

Reunião - O deputado Zeca do PT quer que a demanda dos indígenas seja discutida durante reunião com ministros nesta quarta-feira, em Campo Grande. O encontro acontece para tratar da agricultura familiar e os impactos na produção e sustento de famílias devido aos impactos dos incêndios do Pantanal. "O presidente precisa estar a par de tudo o que está acontecendo", disse.

Indígena morto com tiro na cabeça, na manhã de hoje, em área de conflito em Antônio João (Foto: Divulgação)
Indígena morto com tiro na cabeça, na manhã de hoje, em área de conflito em Antônio João (Foto: Divulgação)

Caso - Indígena, até agora identificado apenas por Neri, foi morto a tiros em novo confronto com policiais militares no Território Nhanderu Marangatu, no município de Antônio João, fronteira com o Paraguai, na manhã desta quarta-feira (18).

A Aty Guasu (Grande Assembleia Guarani-Kaiowá) acusa a Polícia Militar de Mato Grosso do Sul de “massacre” e afirma em postagem nas suas redes sociais que equipes da Tropa de Choque atacaram a área de “retomada”, na Fazenda Barra, com intenção deliberada de matar.

Há quase três décadas o local é palco de conflitos e mortes na luta pela terra envolvendo os guaranis-kaiwás e fazendeiros. A Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) chamou de “assassinato” a morte.

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