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Interior

Drenos em fazendas assoreiam rios e ameaçam animais de extinção

Somente em uma propriedade foram encontrados mais de 45 km de drenagens, que causam graves impactos ambientais e econômicos

Elci Holsback | 03/02/2017 17:08
Com as chuvas, nível dos rios sobe (Foto: Divulgação)
Com as chuvas, nível dos rios sobe (Foto: Divulgação)

Drenos irregulares construídos na região dos rios da Prata e Formoso, em Bonito, distante 257 km de Campo Grande, estão causando grandes impactos ambientais e econômicos na região, como assoreamento dos rios e influência direta na extinção de aves, peixes e mamíferos, além da interferência no turismo, principal base econômica da cidade.

A conclusão é de ação instaurada pelo MPE (Ministério Público Estadual) em fevereiro de 2016, após denúncia da Fundação Neotrópica de Projetos de Conservação da Natureza que, após estudos ambientais, encontrou 46 km de drenos construídos para ampliação de área agrícola de propriedade rural da região.

De acordo com a ação, foi feita perícia junto a pesquisadores da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) após inquérito da PMA (Polícia Militar Ambiental), onde foi constatada a construção do dreno na Fazenda São Francisco, de propriedade do produtor Adolpho Mellão Secchi.

Outra propriedade também foi autuada, mas o dreno tinha menor proporção. Consta no processo que apenas devido os drenos da primeira propriedade, mais de 975 hectares de banhados da região do rio da Prata havia sido transformados em pasto.

Deste total, cerca de 45 km de drenos eram construídos há cerca de três anos, iniciados em 2013. Ainda segundo o MPE, foi solicitada reconsideração da decisão da juíza Adriana Lampert que, à frente do caso, marcou audiência para 25 de abril deste ano para decidir. A situação, de acordo com o ministério, exige urgência, diante dos graves impactos causados.

Fauna e flora correm risco com devido  drenos (Foto: Divulgação)
Fauna e flora correm risco com devido drenos (Foto: Divulgação)

Danos ambientais e econômicos - O superintendente executivo da Fundação Neotrópica, Nicholas Kaminski, alerta para os graves danos ambientais que a região já sofre devido a gradativa extinção dos banhados - áreas destinadas ao recebimento de águas de chuvas e alamentos com vegetação natural propícia, onde também comporta animais aquáticos e serve para alimentação de pássaros e mamíferos.

De acordo com Kaminski, quando assoreados, os banhados não cumprem seu papel, o que resulta no consequente assoreamento dos rios. "isso atrapalha a navegabilidade dos rios e impacta diretamente na fauna e flora. Extingue vegetação e animais. Há estudos que apontam a gravidade da situação em diversas espécies de peixes e pássaros como o Papa-Capim e o Galito e entre os mamíferos, o Cervo do Pantanal, o cateto e a Anta, que estão ameaçados de extinção", relata.

A economia regional também é diretamente atingida, já que a economia de Bonito e região é pautada no turismo. Com os rios assoreados, o turismo é impactado e a economia sofre, o que gera dificuldades e desemprego", avalia.

Chuvas e consequências - Com as chuvas dos últimos dias, o nível dos rios Prata e Formoso já subiu mais que o esperado e isso ocorre devido o assoreamento ocasionado pelos drenos. Mas não é só Bonito quem sofre com o problema. Municípios próximos, como Jardim, também sofrem as consequências. Nesta sexta-feira, a ponte sobre o rio Guardinha caiu com as fortes chuvas e mais três pontes, a Santa Clara, Fazenda Rancho e Curê, ficaram danificadas. Esta última, segundo o superintendente, sofreu com a alta do nível do rio.

"Soubemos que em Jardim o rio subiu muito e danificou pontes, isso é reflexo dos assoreamentos em torno, todos sofrem com as consequências", detalha.

Segundo informações do portal O Eco, o banhado do Rio da Prata está localizado nas cabeceiras do Rio da Prata, a sudeste do fragmento sul do Parque Nacional da Serra da Bodoquena. Da sua área total de 11.208 hectares, parte fica no município de Jardim (7.935 ha) e parte no município de Bonito (3.273 ha).

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