Em busca de avião de cantor, polícia quer periciar aeronaves na Bolívia
Dracco pediu apoio do Ministério da Justiça para vistoriar 66 aviões do tráfico apreendidos há quase 1 ano
A polícia de Mato Grosso do Sul espera, há 9 meses, autorização do governo da Bolívia para periciar 66 aviões apreendidos naquele país em operação contra o narcotráfico, em março do ano passado.
O objetivo é descobrir se entre as aeronaves apreendidas estão os três aviões roubados do Aeroclube de Aquidauana, em setembro de 2021. Um deles pertence ao cantor sul-mato-grossense Almir Sater.
No dia 27 de março do ano passado, o Grupo Especial de Ações Táticas da polícia boliviana fez operação no aeroporto La Cruceña, no município de Cotoca (nos arredores de Santa Cruz de La Sierra), apreendeu 66 aviões usados no tráfico de cocaína e prendeu 38 pessoas, entre elas um brasileiro.
No início de abril de 2022, alguns dias após a operação na Bolívia, a Secretaria Estadual de Segurança Pública de Mato Grosso do Sul acionou o Ministério da Justiça para conseguir autorização para a perícia nos aviões.
O pedido foi feito pelo Dracco (Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado), responsável pelas investigações. Segundo a delegada Ana Claudia Medina, diretora do Dracco, todos os procedimentos em âmbito nacional foram feitos, mas até agora não houve resposta do governo da Bolívia. “Estamos no aguardo”, disse a delegada ao Campo Grande News.
Segundo ela, apesar de os aviões apreendidos no aeroporto La Cruceña terem sido adulterados (foram pintados com cores diferentes e receberam identificações falsas), alguns modelos são bem semelhantes às aeronaves roubadas em Aquidauana.
Para a polícia, não há dúvida de que as aeronaves roubadas em MS tenham sido levadas para o país vizinho e colocadas a serviço do narcotráfico. Bolívia, Colômbia e Peru são grandes produtores de cocaína.
Segundo a diretora do Dracco, a diligência excepcional requerida pelo órgão é fundamentada nas diretrizes da “Carta de Intención”, firmada em outubro de 2021 entre Acre, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia com a República da Bolívia, visando estratégias integradas para combater o roubo de aeronaves.
O roubo – Na madrugada de 6 de setembro de 2021, pelo menos 15 homens fortemente armados e encapuzados invadiram o Aeroclube de Aquidauana, renderam o caseiro e seus familiares e os mantiveram em cárcere privado mediante ameaças e violência.
Do local, os bandidos brasileiros e bolivianos levaram o avião Bonanza Modelo V35B (matrícula PT-ING) e dois Cessnas 182, matrículas PT-KDI e PT-DST. O Bonanza e o Cessna PT-KDI pertenciam a dois pecuaristas da região e o Cessna PT-DST pertencia a Almir Sater.
Logo após o roubo, policiais civis de Aquidauana e do Dracco encontraram o local usado como base operacional dos criminosos. Quatro envolvidos no crime foram identificados, entre eles o mentor do assalto, Laudelino Ferreira Vieira, o “Lino”. Dois homens presos em flagrante confessaram envolvimento no roubo dos aviões e delataram os comparsas.
No dia 8 de setembro de 2021, em Anastácio, a Polícia Civil prendeu Ivanildo Dias da Silva, o “Nego”, proprietário de um Fiat Palio utilizado para levar os assaltantes até o aeroclube. Ele também teria feito fotos do local dias antes do roubo usando uma moto. Os dois veículos foram apreendidos.
Em outubro do mesmo ano, Lázaro da Silva Ramires, apontado como gerente da organização, responsável pela logística do roubo, foi preso na Bolívia e recambiado para Mato Grosso do Sul, onde continua recolhido.
Além de Ivanildo e Lázaro, estão presos Roger Breno Wirmond dos Santos, o “Zóio”, e Cristhofer Cristaldo Rocha. Outros envolvidos continuam foragidos, entre eles Laudelino Ferreira Vieira, o “Lino”, apontado como mandante do roubo. Eles estariam refugiados na Bolívia.
Laudelino já estava foragido na época do roubo. Em junho de 2021, ele protagonizou fuga misteriosa do Estabelecimento Penal Jair Ferreira de Carvalho, a Máxima de Campo Grande.
Ele tinha autorização para trabalhar na faxina da escola localizada no interior do presídio. A suspeita é de que tenha escapado escondido em um dos carros de empresa terceirizada.