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Interior

Em Sidrolândia, índios se revoltam com chegada da Força Nacional

Paula Maciulevicius, Aliny Mary Dias de Sidrolândia | 05/06/2013 09:28
Manifestação na tarde de hoje em Sidrolândia. (Foto: Cleber Gelio)
Manifestação na tarde de hoje em Sidrolândia. (Foto: Cleber Gelio)

“Ficamos revoltados porque não somos bandidos”. É este o sentimento dos índios terena que ocupam a fazenda Buriti, na região de Sidrolândia, na manhã desta quarta-feira, em relação à chegada da Força Nacional em Campo Grande. A fala é do cacique Antônio Aparecido, da aldeia Córrego do Meio. Por enquanto não há definição sobre a saída dos terena da fazenda diante do fim do prazo para o cumprimento da reintegração de posse, concedida ao produtor rural Ricardo Bacha.

Sob nervoso e revolta, lideranças indígenas estão reunidas neste momento para chegar a um consenso sobre a vinda da Força Nacional à região.

O momento é de tensão na área da aldeia Buriti. Os terena não permitiram a entrada da imprensa e conversaram com a equipe do Campo Grande News em um acampamento montado na estrada de acesso à fazenda.

Na entrada da fazenda Buriti, cerca de 30 terena estão acompanhando quem se aproxima. Alguns estão usando binóculos. A Funai (Fundação Nacional do Índio) chegou ao local por volta das 8h e está acompanhando as conversas.

Chegada da Força Nacional na manhã de hoje. (Foto: Marcos Ermínio)
Chegada da Força Nacional na manhã de hoje. (Foto: Marcos Ermínio)

A trama ganhou um novo capítulo nesta terça-feira, quando o terena Joziel Gabriel, de 34 anos, foi baleado em Sidrolândia. O tiro atingiu o ombro e a bala está alojada na coluna. Joziel é primo de Oziel Gabriel, morto na última quinta-feira durante confronto com a Polícia Federal e PM, durante reintegração de posse da fazenda Buriti.

Segundo os terrena, Joziel foi atingido quando chegava à sede da fazenda São Sebastião, por um segurança que estava em uma caminhonete prata. Os amigos disseram que não houve tempo para anotar a placa do veículo porque priorizaram o socorro ao índio.

Como o estado dele é considerado grave, ele foi encaminhado ao hospital de Sidrolândia e acabou transferido para a Santa Casa de Campo Grande.

Há mais de duas semanas Mato Grosso do Sul enfrenta uma onda de invasões de terra e tensão. Cansados de esperar por uma posição do governo federal, os terena decidiram pela "retomada" de áreas que já foram consideradas indígenas em 2001, mas não avançam no processo de demarcação por conta de recursos judiciais dos fazendeiros que contestam laudos antropológicos da Funai.

Hoje, o maior conflito ocorre em Sidrolândia, onde na quinta-feira passada Oziel Gabriel, de 35 anos, foi morto. Nesta quarta-feira vence prazo de 48 horas para que o grupo que acampou na fazenda Buriti deixe a área, de acordo com ordem de reintegração de posse da Justiça Federal.

As famílias entraram pela primeira vez na área em 2003. No dia 15 de maio deste ano voltaram à fazenda, mas foram retirados na base da força na quinta-feira, quando incendiaram a sede da propriedade do ex-deputado Ricardo Bacha. Um dia depois, ainda revoltados com a morte de Oziel Gabriel durante a desocupação, grupo retornou à area.

Nesta semana, outras duas fazendas da região foram invadidas e hoje a São Sebastião. Os fazendeiros dizem que estão se organizando para retirar o gado das fazendas de Sidrolândia, para evitar maiores prejuízos.

Atualmente, nas contas dos terena, além da São Sebastião e Buriti, a etnia já está acampada nas fazendas Água Doce, Lindoia, São José, Querência, 3R, Flórida, Santa Clara e Bom Jesus - que também pertence à família Curado.

Comunidade indígena e produtores rurais brigam pela posse de 17 mil hectares na região de Sidrolândia e Dois Irmãos do Buriti, a maioria terras administradas pela família Bacha.

Também há ocupação recente em Aquidauana. Na sexta-feira os terena entraram na fazenda Esperança, onde fazendeiro e família também foram obrigados a sair pelo índios.

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