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Interior

Esquema milionário envolvendo hotéis abastece País com “muamba” do Paraguai

Investigação federal começou após denúncia de policiais militares, impedidos de combater o esquema

Helio de Freitas, de Dourados | 23/09/2021 18:10
Agentes da PF e da Receita em quarto de hotel, entreposto do crime organizado. (Foto: Divulgação)
Agentes da PF e da Receita em quarto de hotel, entreposto do crime organizado. (Foto: Divulgação)

Esquema que movimenta milhões e milhões de reais por mês e inunda o comércio informal das grandes cidades brasileiras com produtos contrabandeados, faz parada obrigatória no pequeno povoado de Vila Vargas, no município de Dourados.

É ali que funciona o entreposto da muamba trazida pela fronteira seca de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, que depois, é distribuída para vários outros estados da Federação.

O entreposto do contrabando funciona há anos em dois hotéis de Vila Vargas, o Guerreiro Hotel e o Hotel Vargas, localizados na margem da BR-163, na saída de Dourados para Campo Grande e acesso à BR-267, que liga Mato Grosso do Sul a São Paulo.

Hoje (23), os estabelecimentos foram alvos de mandados de busca e apreensão expedidos pelo juiz federal Fabio Fischer e cumpridos no âmbito da Operação Fronteira Legal, deflagrada pela Polícia Federal e pela Receita Federal do Brasil.

Os produtos ilegais (a maioria de eletrônicos e produtos de informática) encontrados nesta quinta-feira nos quartos dos hotéis, foram avaliados em R$ 1 milhão pelo auditor-fiscal da Receita Federal Raphael Eugênio de Souza, um dos comandantes da operação.

Levando em conta o tamanho do esquema, o volume é considerado de certa forma até modesto. Entretanto, tanto a PF quanto a Receita estão confiantes de que provas levantadas hoje vão ajudar a derrubar a rede criminosa.

“A novidade interessante é que pela primeira vez teve mandado de busca e apreensão. As investigações poderão ser aprofundadas a partir do recolhimento de materiais pessoais, tanto das pessoas que gerenciam os hotéis quanto das pessoas que estavam ali praticando crimes de contrabando e descaminho”, afirmou Raphael Eugênio.

Ele, o procurador da República Eduardo Gonçalves, os delegados da Polícia Federal Marcelo Mascarenhas e Alexander Taketomi Ferreira e outros representantes da Receita concederam entrevista coletiva na delegacia da PF para apresentar o balanço da operação.

Representantes do MPF, PF e da Receita durante entrevista para falar da operação. (Foto: Helio de Freitas)
Representantes do MPF, PF e da Receita durante entrevista para falar da operação. (Foto: Helio de Freitas)

Denúncia de PMs – O procurador Eduardo Gonçalves informou que o esquema envolvendo os hotéis de Vila Vargas começou a ser investigado após as apreensões de mercadorias no entorno do distrito e também depois de denúncias feitas por policiais militares.

O Campo Grande News apurou que PMs lotados no destacamento de Vila Vargas chegaram a sofrer perseguição e ameaças por tentarem coibir os entrepostos de muamba. “Quem insiste em apreender o contrabando deles, é perseguido até ser removido para outra cidade”, disse a fonte anônima.

Questionado pela reportagem durante a coletiva de hoje sobre suspeitas de que o esquema de Vila Vargas teria apoio de políticos de Dourados e até de policiais, o delegado Marcelo Mascarenhas evitou abordar a questão.

“Preferimos não entrar nesse mérito agora, nem fazer juízo de pré-julgamento, mas a investigação mais aprofundada vai definir no final com todas as provas e submeter ao Ministério Público, a quem caberá denunciar em caso de facilitação”, afirmou o delegado.

Presos – A Receita Federal e a PF confirmaram que quatro pessoas foram presas em flagrante durante as buscas – os donos dos dois hotéis e dois hóspedes.

Os nomes não foram divulgados, mas o Campo Grande News apurou que os empresários são Magner Alecsandre Pereira Valente, dono do Hotel Vargas, e Gladson Oliveira Guerreiro, dono do Hotel Guerreiro. Os hóspedes presos foram Leandro Henrique Bombarda e Flavio Cesar Simioli.

Os quatro já estão soltos. Gladson pagou fiança de dois salários mínimos. Para os dois hóspedes, a Justiça Federal determinou fiança de R$ 5 mil cada e deu prazo de cinco dias para o pagamento. Se a fiança não for paga, os dois terão a prisão preventiva decretada. O valor da fiança paga por Magner não foi informado.

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