Estado vai contratar Evangélico para ativar hospital de cirurgias
Secretário estadual de Saúde confirmou “parceria” com unidade particular que enfrenta crise financeira e no ano passado foi acusada de “sucatear” Hospital da Vida
A Secretaria Estadual de Saúde vai contratar o Hospital Evangélico para colocar em funcionamento a unidade de cirurgias que está sendo montada pelo governo de Mato Grosso do Sul em Dourados, a 233 km de Campo Grande. O hospital de cirurgias foi lançado em julho deste ano pelo governador Reinaldo Azambuja (PSDB) e deve ser ativado ainda em 2015.
Administrado pela Associação Beneficente Douradense, o Evangélico é uma empresa privada, mas mantém convênio há vários anos com o município para atendimento pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
No ano passado, o Evangélico foi acusado pela Secretaria Municipal de Saúde de “sucatear” o Hospital da Vida, unidade pública de urgência e emergência que atende pacientes de 34 municípios da região de Dourados. Por cinco anos a instituição particular administrou o hospital do município, que foi retomado pela prefeitura em setembro de 2014.
Em crise financeira há vários anos, como admitem os próprios diretores do hospital, o Evangélico enfrenta dificuldade para pagar os salários dos funcionários, que neste ano fizeram várias paralisações contra os atrasos. Em setembro, a empresa fez acordo com a Justiça do Trabalho, se comprometendo a não atrasar mais os salários, sob pena de ter bloqueado o repasse do SUS.
A instituição privada também enfrenta dificuldade para pagar a clínica particular que atende pacientes de oncologia no “Hospital do Câncer” – uma ala do próprio Evangélico. Como tem o credenciamento do Ministério da Saúde para serviços de oncologia, o Evangélico terceiriza o atendimento para a clínica, mas constantemente atrasa o pagamento. Neste ano o atendimento aos pacientes com câncer chegou a ser suspenso duas vezes.
No antigo São Luiz – A unidade de cirurgias do Estado vai funcionar no prédio do antigo São Luiz, na Avenida Weimar Gonçalves Torres com a Coronel Ponciano, região leste da cidade. A ideia do governo é centralizar as cirurgias eletivas nesse local e acabar com a fila de pacientes tanto de Dourados quanto de municípios da região que esperam por um procedimento cirúrgico.
O superintendente administrativo da Secretaria Estadual de Saúde, Maurício Peralta, confirmou nesta quarta-feira que o Evangélico vai tocar a unidade de cirurgias. Entretanto, garantiu que a unidade de cirurgias será administrada pelo Estado e o Evangélico vai apenas “operacionalizar” o funcionamento, ou seja, vai fazer as cirurgias com sua equipe.
“Vai ser um hospital estadual de cirurgias. O Estado vai administrar. O Evangélico vai prestar serviços. O prédio é alugado pelo Estado, os equipamentos são do Estado e o Estado vai ter uma pessoa para administrar a unidade. O Evangélico vai operacionalizar, vai prestar serviços de cirurgias”, afirmou Peralta, que foi diretor administrativo do Evangélico de 2011 a 2014.
Secretário confirma – O secretário estadual de Saúde, Nelson Tavares, também confirmou o acordo com o Evangélico. “A SES vai montar e administrar o hospital, mas vamos usar o corpo clínico e estrutura de apoio e retaguarda do HE. Esse é o nosso projeto emergencial, para iniciarmos ainda este ano as cirurgias, em especial as ‘judicializadas’, que são urgentes”, afirmou ao Campo Grande News.
Estado alertado – O Campo Grande News apurou que profissionais ligados à saúde pública de Dourados alertaram o governo do Estado sobre a situação financeira do Evangélico e sobre o estado em que a empresa teria deixado o Hospital da Vida.
A Funsaud (Fundação de Saúde de Dourados), criada pela prefeitura para gerenciar o Hospital da Vida, afirma que a unidade de urgência emergência estava “aos pedaços”.
“Quando assumimos o Hospital Vida em 1º de setembro de 2014 passamos por uma situação extremamente difícil, sem o mínimo possível para manter um atendimento digno a população. Tivemos de pegar medicamentos por empréstimo, os equipamentos estavam sucateados e obsoletos. Tivemos que fazer locações de forma emergencial para manter a UTI em andamento, pois os equipamentos não tinham condições de atendimento”, afirmou o gerente da Funsaud, Cassio Humberto Rocha.
Segundo ele, após cinco anos de gerenciamento do Evangélico o Hospital da Vida tinha pacientes aguardando atendimento em macas e cadeiras de fio nos corredores. “O centro cirúrgico estava com equipamentos sucateados. O município teve de comprar uma mesa ortopédica, porque a que tinha estava totalmente sucateada. As enfermarias estavam com portas e banheiros danificados, contrariando totalmente as normas e diretrizes do Ministério da Saúde”, declarou Cassio Rocha.
Credenciado – Apesar de ter deixado de administrar o Hospital da Vida, o Evangélico continua credenciado pelo Ministério da Saúde para serviços de alta complexidade e recebe recursos do SUS para atendimentos de nefrologia (rins), cardiologia e oncologia. Os serviços de nefrologia, assim como os de cardiologia, são terceirizados pelo hospital.