Estudo liga contrabando à violência e pobreza em quatro cidades de MS
Coronel Sapucaia, Mundo Novo, Paranhos e Ponta Porã estão entre 120 cidades brasileiras da fronteira com piores índices de desenvolvimento por causa do contrabando, segundo instituto
Mato Grosso do Sul tem quatro das 120 cidades brasileiras que ficam na fronteira com países da América do Sul e sofrem com a violência e o subdesenvolvimento por causa do contrabando. Os dados fazem parte de uma pesquisa inédita feita pelo Idesf (Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras), divulgada hoje (27).
Coronel Sapucaia, Mundo Novo, Paranhos e Ponta Porã, todas na fronteira com o Paraguai, assim como as outras 116 cidades onde a pesquisa foi feita, apresentam PIB per capita abaixo da média nacional, baixos índices de escolaridade e empregabilidade, além de taxas altíssimas de homicídios, segundo o estudo.
Os índices revelados pela pesquisa estão, segundo o Idesf, muito abaixo da média nacional e de centros urbanos, como Rio de Janeiro e São Paulo. Os dados foram apresentados hoje, durante a 3ª edição do Seminário Fronteiras do Brasil, realizado em Foz do Iguaçu (PR).
Luciano Barros, presidente do Idesf, disse que os resultados mostram que o contrabando tem efeitos negativos sobre a economia das cidades. “Mesmo em locais como Foz do Iguaçu, que tem uma economia mais diversificada que as outras cidades, o crime do contrabando causa à população sofrimentos severos”, afirmou.
Os cinco principais – Conforme o estudo do Idesf, além de Foz, outros cinco municípios se destacam como os principais entrepostos de mercadorias contrabandeadas que entram no Brasil: Coronel Sapucaia (MS), Guaíra (PR), Mundo Novo (MS), Paranhos (MS) e Ponta Porã (MS).
Segundo a assessoria do Idesf, a média do PIB per capita desses municípios ficou abaixo de R$ 20 mil em 2013 (somente Foz do Iguaçu alcançou média acima de R$ 37 mil), enquanto o PIB per capita médio do brasileiro ficou acima de R$ 26 mil.
Em comparação com regiões mais desenvolvidas, os seis municípios não alcançam nem 50% do PIB per capita de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo.
“Quando se trata do volume de recursos arrecadados pelos seis municípios, observa-se a existência de uma enorme dependência dos governos estaduais e federal, que está sempre acima de 50%. Isso contribui para torná-los muito vulneráveis em momentos de dificuldades financeiras da União ou dos Estados, pois todos eles possuem uma taxa de dependência alta, que chega a mais de 90% no caso de Coronel Sapucaia”, afirma nota do Idesf.
Desemprego – Ainda de acordo com o estudo, o impacto do contrabando nessas cidades – quatro de MS e duas do Paraná – influencia na oferta de empregos.
Com exceção de Foz do Iguaçu, todos os demais municípios possuem taxa de emprego inferior a 25% da população economicamente ativa. A média brasileira é de 35%.
De acordo com o estudo do Idesf, o contrabando também afeta o rendimento escolar. Todos os analisados apresentam taxas de aprovação inferiores à média brasileira de 89,2% para o ensino fundamental e 80,3% para o ensino médio.
Coronel Sapucaia e Paranhos, os dois municípios que possuem os menores índices de empregos, também são os que apresentam as maiores taxas de abandono no ensino fundamental.
Violência – Com pouco investimento em segurança pública, as cidades arrasadas pelo contrabando convivem com altos índices de violência, segundo o estudo;
Os índices de homicídios por 100 mil habitantes chegam a ser cinco vezes superiores aos de uma cidade como o Rio de Janeiro. É o caso de Coronel Sapucaia, a 400 km de Campo Grande.
Em Guaíra, o que chamou a atenção na elaboração do estudo foram os números de mortos por armas de fogo. Foram registradas 62,13 mortes a tiros por 100 mil habitantes, contra 9,14 na cidade de São Paulo.
Luciano Barros afirma que de maneira geral os indicadores de todas as 120 cidades fronteiriças são inferiores à média nacional, demonstrando a necessidade urgente de políticas públicas específicas para a região de fronteira por parte dos governos.
“Essas são regiões isoladas e com poucas oportunidades em termos de emprego e geração de renda. E não é difícil observar que os problemas se agravam, e muito, nas cidades que também têm de enfrentar a mazela do contrabando”, afirmou Barros.
Segundo o presidente do Idesf, é preciso uma atuação forte para combater a ilegalidade, além de políticas de desenvolvimento local e investimentos em educação e saúde.