Gruta do Lago Azul era para dar tiro e fazer churrasco, conta guia pioneiro
Sérgio da Gruta ganhou apelido da cantora Tetê Espíndola, que em 1982 uniu o ecos da caverna à composição Fio de Cabelo
Cartão-postal de Mato Grosso do Sul e tombada como patrimônio natural, a gruta do Lago do Azul, em Bonito, já viveu dias de menos glória. “Iam à gruta para depredar, dar tiro, fazer churrasco ou tomar banho”, conta Sérgio Ferreira Gonzalez, 62 anos, o aquidauanense mais conhecido como Sérgio da Gruta, apelido que ganhou da cantora Tetê Espíndola por ser o primeiro guia de turismo do local.
“Eu achei que poderia ser um patrimônio interessante, importante para a comunidade”, diz o guia. Autodidata, se lançou aos estudos para entender a geomorfologia do local. “Com os estudos, descobri que a nossa região já foi fundo de mar e tinha mais grutas”, conta.
Nem os 42 anos de visitas à gruta do Lago Azul foram suficientes para se acostumar com a beleza do principal atrativo turístico de Bonito.
“Cada dia é uma surpresa diferente. Um momento ímpar”, diz Sérgio. Atento às sutilezas, o olhar experimentado do guia registra as nuances conforme as estações. “Fica mais radiante no Verão, com a entrada do sol no lago, quanto no Inverno com a entrada da lua”, diz.
Não há passeios noturnos, mas Sérgio da Gruta ia ao local à noite para pesquisar animais, como roedores e insetos. Por mês, ele faz até quatro visitas ao cartão-postal de Mato Grosso do Sul. A cada dia de visita, são quatro idas ao local.
“A gente sente a energia do lugar, é outra qualidade de vida”, afirma. Nesta semana, ele foi um dos homenageados com o prêmio Piraputanga , considerado o “Oscar do Turismo”.
A gruta é um ser longevo. “Em 1992, estudo de um grupo francês descobriu fósseis de animais pré-histórico, de 12 milhões de anos atrás. A vida da gruta é muito longa”, diz Sérgio. Ele brinca que é o “homem das cavernas”, mas o apelido oficial veio de Tetê Espíndola.
“Trabalhei com ela na gruta do Lago Azul. Gravou uma música solo. Ela na caverna, tocando”. Os ecos da gruta estão na composição Fio de Cabelo, do álbum “Pássaros na Garganta”, de 1982.