Indígena grávida de 8 meses morre e entidade denuncia negligência
Conselho Indigenista Missionário alega que Dsei não prestou atendimento à vítima e isso resultou na morte
Grávida de 8 meses, indígena de 37 anos morreu na madrugada do dia 14 de junho, na Aldeia Portrero Guassu, em Paranhos, cidade a 462 quilômetros de Campo Grande, e o Cimi (Conselho Missionário Indigenista) alega negligência por parte do Dsei (Distrito Sanitário Especial Indígena). O caso foi registrado como morte natural na delegacia da cidade.
Conforme nota do Cimi, um dos filhos da indígena procurou atendimento médico por volta das 3h do dia 14, ao ver que ela estava em trabalho de parto. Uma moradora da aldeia ajudou a família e teria feito ao menos 10 ligações para a plantonista e para a coordenação técnica da Sesai (Secretaria de Saúde Indígena) do polo de Paranhos, mas não teria sido atendida.
Com isso, a vizinha da indígena teria então tentado contato com um grupo de funcionários da área da saúde da aldeia, mas não teve retorno. O hospital da cidade então foi acionado, mas um atendente teria dito que a ambulância só poderia ir ao local com autorização da Sesai.
A indígena então foi levada para o hospital junto com seu marido em um carro particular, no entanto, ao chegarem para o atendimento, ela não resistiu e morreu, assim como o bebê. Ainda de acordo com o Cimi, na certidão de óbito, a causa da morte foi colocada como “desconhecida” e isso seria uma prática recorrente na região.
Uma pessoa que acompanhou o caso teria procurado o Cimi pedindo justiça e esclarecimentos por parte dos responsáveis, alegando que houve negligência e que a indígena e o bebê morreram por conta da demora do atendimento.
O Campo Grande News tentou contato no polo da Sesai em Paranhos, mas foi informada que apenas o chefe poderia falar sobre o caso. O responsável seria Marcos Maidana, que também foi procurado pela reportagem, mas não atendeu as ligações e nem respondeu as mensagens.
De acordo com o delegado Raul Henrique Oliveira da Costa, o marido da indígena foi até a delegacia registrar o boletim de ocorrência, mas o médico ainda não havia atestado o óbito. Ele foi ouvido e disse que a mulher teria passado mal e reclamou de dores na cabeça e estômago na noite do dia 13 de junho.
A Polícia Civil foi acionada pelo hospital e o corpo da indígena foi levado para o IML (Instituto Médico Legal), onde foi constatado não haver sinais e violência ou outro indício de um possível crime. A unidade de saúde foi informada e então foi confirmada a morte da indígena. O caso foi registrado como morte natural.
“O marido disse que ela tomou um remédio e foi dormir. Acordou novamente na madrugada passando mal e apresentou fraqueza. Eles tentaram acionar a Sesai por cerca de 20 minutos e, como ela estava muito fraca, pediram ajuda ao vizinho que levou ela de carro até o hospital. Tomamos todas as cautelas, ela passou por dois médicos, o do hospital e o legista”, afirmou o delegado.
À polícia, o marido teria dito ainda que durante toda a gestação a mulher fez o acompanhamento pré-natal e não tinha problemas de saúde.
"Investigação rigorosa" - Em nota, o deputado federal Geraldo Resende (PSDB), afirmou que acionou os responsáveis e solicitou uma investigação rigorosa da morte da indígena e o feto, por suposta demora no atendimento na área de saúde indígena. O parlamentar diz ainda que os culpados devem ser punidos para evitar outros acontecimentos trágicos como esse.
“Se for constatada a veracidade das denúncias que estão sendo feitas pela comunidade indígena, essa morte é um retrato da negligência das instituições que deveriam cuidar das mulheres residentes nas aldeias indígenas do nosso Estado”, diz Geraldo Resende, que deverá entregar um documento para a Comissão Especial sobre a Violência Obstétrica e Morte Materna no Brasil, do qual é membro titular.