Indígenas resistem e mantêm bloqueio até reunião com secretária de Riedel
Comunidade que enfrentou Batalhão de Choque hoje em Dourados não aceitou liberar rodovia estadual
Nem mesmo o confronto com Batalhão de Choque da Polícia Militar fez os indígenas das aldeias de Dourados recuarem do bloqueio da MS-156 que entrou no terceiro dia nesta quarta-feira (27).
RESUMO
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Indígenas de Dourados, MS, mantêm bloqueio na MS-156 pelo terceiro dia, apesar de confronto com a Polícia Militar e proposta governamental de aumento no fornecimento de água tratada via caminhões-pipa e construção de poços. Embora lideranças aceitem a proposta, a comunidade decidiu manter o bloqueio até quinta-feira, aguardando a assinatura pessoal da secretária de Cidadania do documento que garante os recursos. A secretária deve se reunir com os indígenas no Ministério Público Federal para formalizar o acordo, após o qual o bloqueio deve ser encerrado.
Em assembleia no final desta tarde, eles rejeitaram a proposta de liberar a estrada imediatamente, como queria o governo de Mato Grosso do Sul. O protesto cobra abastecimento de água tratada nas áreas indígenas.
Apesar de as lideranças das aldeias Bororó e Jaguapiru concordarem com a liberação da rodovia, a maioria dos moradores decidiu manter o bloqueio pelo menos até esta quinta-feira (28).
Para amanhã, está prevista a vinda a Dourados da secretária estadual de Cidadania, Viviane Luiza da Silva. Por ordem do governador Eduardo Riedel, ela vai se encontrar com representantes da comunidade indígena, às 8h, no MPF (Ministério Público Federal).
Os indígenas exigiram a presença da secretária para assinar pessoalmente o documento com o compromisso do governo em ampliar o fornecimento de água através de caminhões-pipa e para construção de dois poços na reserva.
Pela proposta, os caminhões-pipa serão fornecidos pela Sanesul e pela Prefeitura de Itaporã (parte da reserva fica no município vizinho) e os dois poços (um em cada aldeia) serão construídos com R$ 250 mil de emenda federal, já garantidos.
Além disso, há compromisso de liberação de R$ 53 milhões em 2025 para a construção de dois “super poços” que resolveriam em definitivo a falta de água nas aldeias. Após essa reunião, os indígenas devem liberar a rodovia.
A reportagem apurou que mesmo com a manutenção do bloqueio, a equipe do Batalhão de Choque não deve voltar ao local para tentar a desobstrução, como ocorreu na manhã de hoje. Os policiais estão baseados no 3º Batalhão da PM em Dourados.
Confrontos – A MS-156, entre Dourados e Itaporã, o acesso ao Hospital da Missão Caiuá e o anel viário foram bloqueados na segunda-feira (25). Nos dois primeiros dias de protesto não houve avanço nas negociações.
Na tarde de terça-feira, a proposta de mais caminhões-pipa e a perfuração de dois poços foi aprovada pelas lideranças das duas aldeias, mas a maioria da comunidade decidiu manter a interdição.
Na manhã de hoje, equipes do Batalhão de Choque chegaram ao local. Em entrevista coletiva, o governador Eduardo Riedel confirmou ter dado a ordem para liberação das estradas.
Já nos primeiros bloqueios houve resistência. Bombas de gás e tiros de munição “não letal” foram disparados pelos policiais para afastar os manifestantes.
Usando estradas internas das aldeias, os policiais chegaram ao bloqueio principal, na rotatória da MS-156, entre Dourados e Itaporã. Ali o confronto foi ainda mais intenso. Vários indígenas ficaram feridos. Duas mulheres foram levadas para o Hospital da Vida com sangramento no ouvido esquerdo.
A Polícia Militar informou que seis viaturas ficaram danificadas e 12 policiais sofreram ferimentos leves. Três pessoas foram presas. Revoltados com a ação policial, outros moradores da reserva se juntaram aos “parentes” para enfrentar o Choque.
Após intensos confrontos, os policiais recuaram e a rodovia segue interditada. “Somos um povo que resiste há 1.500 anos. Isso aqui não vai adiantar, vamos voltar e fechar de novo. Vamos provar para o senhor que somos nós que mandamos aqui. A comunidade é nossa. Vamos resistir”, disse morador em vídeo em que cita o governador Eduardo Riedel.
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