Líder guarani-kaiowá, criador do Aty Guasu, morre aos 101 anos
Atanásio Teixeira estava com dores no estômago e faleceu na madrugada desta terça-feira
O povo guarani-kaiowá perdeu, na madrugada desta terça-feira (18), o criador do Aty Guasu (Grande Reunião), assembleia geral em que os indígenas debatem sobre recuperação dos territórios kaiowá e guarani em Mato Grosso do Sul. O líder espiritual, Atanásio Teixeira, faleceu aos 101 anos e era um dos mais conhecidos rezadores (ñanderus) do povo.
Nos últimos dias, ele vinha sofrendo com dores no estômago, o que pode ter contribuído com o estado delicado de saúde do líder. Atanásio morava na Aldeia Limão Verde, em Amambai, 350 quilômetros de Campo Grande, e também era conhecido como ñamoi (avô) e Ñanderu (nosso pai). Ele deixa um legado de força, fé e amor.
O Cimi Regional (Conselho Conselho Indigenista Missionário de Mato Grosso do Sul) lamentou a morte do indígena. “Atanásio enfrentou todos os tipos de batalha. Guiando e dialogando com os encantados, sendo elo da marcha atual do povo com seus ancestrais, foi pilar irredutível para seu povo e seus territórios. Quantos batizados, quantas gerações caminham hoje protegidas pela bênção sagrada destas mãos tão quentes e mágicas”, disse.
O movimento Kuñangue Aty Guasu, assembleia das Mulheres Guarani e Kaiowá de Mato Gosso do Sul, disse que Atanásio fez uma passagem difícil, que marca a caminhada do povo, mas que o líder descansou do mundo físico. "Descanse Ñamoī Atana".
Ao Campo Grande News, Elvis Terena, de 40 anos, novo coordenador da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) de Campo Grande também lamentou a morte do líder.
“Ele é muito respeitado entre as lideranças Guarani-Kaiowá. Tive o privilégio de conhecê-lo em 2010, em Antônio João. Ele sempre lutou pelos pelo povo Guarani-Kaiowá e sempre esteve à frente de luta para demarcação do seu território. Infelizmente perdemos ele, que estava com a idade bem avançada. Hoje o povo Guarani-Kaiowá está em luto ali na aldeia Limão Verde”.
Além dos ensinamentos deixados, o povo guarani-kaiowá busca conforto nas relatos presentes no livro "Cantos dos animais primordiais", lançado em 2022. Nele, o líder apresenta 26 histórias de aves e outros animais da mata, acompanhados pelos cantos "guahu" que cantam sua história desde o princípio dos tempos. O livro também fala sobre o amor por ajudar o povo e a certeza de permanência, mesmo após a morte.
“Eu já tenho quase 100 anos e quero ajudar no que puder. Assim estarei junto com vocês. Para isso, eu vim para que todos nós sejamos abençoados e para que a divindade que está lá no céu possa estar junto conosco, e eu estou aqui junto com vocês. Eu vim aqui para cumprir minha função como Ñanderu, que é se comunicar sempre com a divindade. Eu vim aqui fortalecer todos nós e todos vocês. Até aqui eu quero falar, seguir todos juntos. Podemos plantar. E tudo o que plantarmos certamente vamos colher”.