Mandetta é recebido com protesto contra mudança na saúde indígena
Ministro e secretário de Saúde percorrem obras do hospital da mulher e da criança e do Hospital Regional de Dourados
O ministro da Saúde Henrique Mandetta foi recebido com protesto nesta sexta-feira (8) em Dourados, a 233 km de Campo Grande. Índios e profissionais que trabalham nas aldeias o esperaram com faixas e cartazes na obra do Hospital da Mulher e da Criança, anexa ao HU (Hospital Universitário).
Na cidade para vistoriar a obra da unidade anexa ao HU e a construção do Hospital Regional de Dourados, Mandetta anunciou que a ideia do governo é cobrar meta das ONGs que cuidam da saúde indígena no país. O ministro estava acompanhado do secretário estadual de Saúde Geraldo Resende.
Os manifestantes reclamam da proposta de municipalização da saúde indígena, atualmente sobre responsabilidade da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) e executada por profissionais contratados através das ONGs.
Mandetta conversou rapidamente com os manifestantes e ouviu pedidos para discutir com a comunidade e com os profissionais que trabalham nas aldeias antes da mudança.
Eles rebatem o argumento do ministro de que muito dinheiro é investido na saúde indígena do país sem que o atendimento tenha qualidade.
“O Brasil talvez seja um dos países que mais investem em saúde indígena. Quando se faz o cálculo [do valor investido] daria para fazer uma saúde de primeiríssima qualidade”, afirmou Mandetta em entrevista à rádio Grande FM.
Ele continua: “o atual sistema é paralelo ao SUS, mas só atende a atenção básica. Quando os índios precisam de uma internação hospitalar eles ‘caem’ no SUS, embora tenham um sistema de atenção básica extremamente caro”.
Meta – O ministro disse que o atual modelo é totalmente terceirizado através das ONGs, uma delas é a Missão Evangélica Caiuá, com sede em Dourados.
“As ONGs recebem algo em torno de R$ 650 milhões ao ano, sendo R$ 490 milhões para a Missão Caiuá. Essa ONG faz um trabalho complexo em mais de 20 estados, mas ainda muito distante de compromisso de resultado. Vamos repassar o recurso, mas tem que ter meta”, afirmou.
Mandetta questiona o fato de a mortalidade infantil indígena ser de três a quatro vezes maior do que entre a população não índia. “qual a expectativa de vida? O câncer de mama, o câncer de colo da mulher indígena... [as ONGs] não têm compromisso com resultado nenhum”.
Ele disse que a maioria das aldeias indígenas brasileiras não tem saneamento básico e água tratada. “Só o saneamento e água tratada reduziriam a mortalidade infantil em quatro, cinco pontos”.
Segundo Mandetta, recentemente foi montado um grupo de trabalho incluindo o Conselho de Saúde Indígena e o Conselho Nacional de Secretários para avaliar o sistema.
“Precisamos saber por que está saindo tanto dinheiro do governo federal e não está chegando à ponta, aos índios. Isso não ocorre só em Mato Grosso do Sul. Estive em Roraima, no Rio Grande do Sul, e a saúde nessas comunidades é extremamente complexa”, avaliou Mandetta.
O ministro disse que a ideia, com o projeto de municipalização, é aproximar a saúde indígena do SUS para que as decisões sejam locais e com maior pressão sobre os gestores para que o atendimento chegue às comunidades. “Mas é um caminho longo, sabemos que precisamos ir com muito tato, com muito cuidado”.