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Interior

Mesmo sem ordem judicial, PM despeja indígenas

Cacique, professora e um jovem foram presos acusados de esbulho possessório, resistência e desobediência

Helio de Freitas, de Dourados | 03/03/2023 17:44
Viaturas da Polícia Militar próximo à sede da Fazenda Do Inho, reocupada hoje (Foto: Direto das Ruas)
Viaturas da Polícia Militar próximo à sede da Fazenda Do Inho, reocupada hoje (Foto: Direto das Ruas)

Mais uma vez, a Polícia Militar de Mato Grosso do Sul despejou indígenas de área ocupada antes de a Justiça determinar a reintegração de posse. Na tarde desta sexta-feira (3), famílias que durante a madrugada invadiram a Fazenda Do Inho, em Rio Brilhante (a 161 km de Campo Grande), foram retiradas à força por policiais locais com apoio de equipes de Maracaju e Dourados.

Três indígenas foram presos e levados para a DP (Delegacia de Polícia). A organização Aty Guasu (Grande Assembleia do Povo Kaiowa e Guarani) informou que o cacique Adalto Barbosa, a professora Clara Barbosa e um jovem identificado como Lucas, de 18 anos, foram algemados e jogados no camburão da Polícia Militar.

O assessor jurídico do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) Anderson Santos também confirmou as prisões. Ele se deslocou a Rio Brilhante e foi para a DP, para onde os indígenas foram levados: "Estão todos bem, sem problema algum, estive conversando com eles para orientá-los e verificar a situação em que se encontram. Agora vamos aguardar o procedimento para buscar a liberdade de todos".

A reportagem apurou os indígenas foram presos em flagrante por esbulho possessório (invasão de propriedade particular), desobediência e resistência. Adalto e Clara são casados. Policiais que participaram do despejo relatam que os índios resistiram atirando flechas contra as viaturas.

Nesta sexta, Anderson havia alertado para o risco de outro confronto em caso de despejo sem ordem judicial. No final de junho do ano passado, o indígena Vitor Fernandes, 42, foi morto policiais do Batalhão de Choque da PM em Amambai. Os indígenas denunciaram despejo ilegal, mas a Secretaria de Segurança Pública alegou na época que o Choque foi ao local após denúncia de suposto roubo praticado pelos indígenas.

Mais cedo, o assessor de comunicação da Polícia Militar tinha informado ao Campo Grande News que as equipes estavam no local apenas para evitar conflitos.

Esta é a segunda vez em um ano que os indígenas ocupam a Fazenda Do Inho e são despejados pela polícia. Em 27 de fevereiro do ano passado, o grupo foi retirado à força pelo Batalhão de Choque, mesmo sem ordem judicial. Na época, o Cimi denunciou que três indígenas ficaram feridos por balas de borracha.

A fazenda pertence aos herdeiros de Raul das Neves. O filho dele, Raul das Neves Junior, o Raulzinho, é presidente do Partido dos Trabalhadores em Rio Brilhante. A reportagem tentou falar com ele, mas o proprietário não se manifestou.

Raul das Neves Junior registrou boletim de ocorrência da Polícia Civil. Segundo ele, por volta de 3h, o funcionário que mora na fazenda entrou em contato informando que teve de sair correndo, porque a propriedade estava sendo invadida. Um botijão de gás teria sido roubado, segundo a ocorrência.

Raulzinho disse que não conseguiu acesso à fazenda, pois os indígenas trancaram o portão. Por isso, temia prejuízo com a safra, pois dos 360 hectares plantados com soja, apenas 40 hectares já foram colhidos.

Problema antigo – Os indígenas que entraram hoje na Fazenda Do Inho ocupam desde 2007 parte de uma propriedade vizinha, a Fazenda Santo Antonio. As famílias afirmam que as propriedades ocupam a área do território tradicional Laranjeira-Ñanderu, incluído em estudos de identificação e delimitação, que até agora não foram concluídos.

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