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Interior

Movimentação em "conta paralela" atraiu investigação sobre esquema em Maracaju

Ao todo, movimento realizado na conta foi de R$ 23 milhões, desviados da conta oficial da prefeitura

Nyelder Rodrigues e Bruna Marques | 23/09/2021 12:35
Dracco é o departamento da Polícia Civil responsável por apurar crimes como lavagem de dinheiro e desvio de recursos públicos. (Foto: Mirian Machado)
Dracco é o departamento da Polícia Civil responsável por apurar crimes como lavagem de dinheiro e desvio de recursos públicos. (Foto: Mirian Machado)

Seiscentas lâminas de cheque movimentando R$ 23 milhões em pouco mais de um ano em uma conta bancária aberta, em Maracaju - cidade localizada a 160 km de Campo Grande -, acabaram atraindo a atenção da polícia para a investigação que culminou ontem (22), na Operação Dark Money, que já prendeu seis pessoas.

Os alvos do Dracco (Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado) na ação deflagrada no município com 48 mil habitantes são servidores públicos, empresas aliadas ao esquema e o ex-prefeito Maurílio Azambuja (MDB), de 73 anos.

"Eles tiravam valores da conta oficial da prefeitura, alegando que era para usar com a folha de pagamento, só que isso não existia e o dinheiro ia parar nesta conta paralela aberta pelo grupo", explica a delegada que chefia o Dracco e toda a operação realizada em Maracaju, Ana Claudia Medina.

Ainda segundo a delegada, a movimentação era realizada em valores fracionados, somando cerca de 600 cheques com valor médio de R$ 38 mil. Tudo isso acontecia para fugir das notificações oficiais ao Banco Central.

Em caso de transferências de grandes quantias no Brasil, obrigatoriamente, os dados das transações devem ser repassados pelos bancos ao Banco Central e depois, ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) - entidade que motivou divergências entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro Sérgio Moro.

Para fugir dessas notificações, foi preciso uma grande quantidade de cheques de menor valor, assinados por diversas pessoas - todas já presas por envolvimento no esquema apurado pela Dark Money. A conta e movimentações começarem em 2019, penúltimo ano do mandato de Maurílio Azambuja como prefeito.

"Tudo ocorreu sem conhecimento, naquele momento, dos órgãos oficiais. Assim que essa informação chegou até nós, fizemos um trabalho técnico junto ao setor de tecnologia e lavagem de dinheiro, identificando essas 600 lâminas de cheque e a movimentação dos R$ 23 milhões que já citamos", explica Medina.

Daiana Cristina Kuhn e Iasmin Cristaldo Cardoso foram para a cela da 2ª DP (Delegacia de Polícia Civil) de Campo Grande, enquanto os demais, quatro homens, foram divididos entre a Derf (Delegacia Especializada de Roubos e Furtos) e Defurv (Delegacia Especializada de Furtos e Roubos de Veículos).

Os homens presos são Pedro Everson Amaral Pinto, Fernando Martinelli Sartori e Moisés Freitas Victor, além do ex-chefe da pasta de Finanças de Maracaju, Lenilso Carvalho Antunes, que estava em um hotel de Umuarama (PR) e lá foi preso, vindo ontem mesmo para Campo Grande. Já Maurílio Azambuja segue foragido.

Maurílio Ferreira Azambuja (MDB) é investigado por suspeita de comandar esquema de desvio, de recursos em Maracaju. (Foto: Divulgação)
Maurílio Ferreira Azambuja (MDB) é investigado por suspeita de comandar esquema de desvio, de recursos em Maracaju. (Foto: Divulgação)

Análise de dados - Os detidos são servidores que assinaram os cheques ou pessoas responsáveis por empresas que auxiliavam as operações. Eles vão ficar cinco dias sob custódia, podendo a prisão deles ser prorrogada por mais cinco dias. Nesse período, o Dracco deve ouvir mais pessoas sobre o esquema de desvio.

"Agora, estamos em uma fase de pós-operação. Temos que fazer toda análise do que temos e cruzar dados obtidos, como transações e até depoimentos. Esse confronto deve ser feito no período em que os investigados ficarem presos", diz Medina.

A delegada ainda revela que, atualmente, estão sob posse da polícia para análise 75 lâminas de cheque, que somam R$ 3 milhões. "Nessa fase, trabalhamos com esse quantitativo", diz chefe do Dracco, dando indícios de que haverão novas fases da operação. "A investigação vai continuar", completa.

Ao todo, são 19 empresas de quatro cidades que possuem envolvimento com o esquema, todas sem relação oficial com a prefeitura que justificasse essa movimentação de R$ 23 milhões no fim do mandato, sem declaração oficial, segundo da polícia.

Quanto a apresentação do ex-prefeito Maurílio Azambuja, anunciada pela defesa a reportagem do Campo Grande News para acontecer ainda nesta quinta-feira (23), na sede do Dracco, na Capital, a delegada Medina explica que não há nada oficializado e ele ainda é considerado foragido, havendo apenas negociações sobre.

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