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Interior

Na fronteira, sucessor de Minotauro morto com 34 tiros é “defunto sem choro”

Ederson Salinas, o “Ryguasu”, tentou se firmar como chefe do crime, mas morreu abandonado por facções

Helio de Freitas, de Dourados | 27/02/2023 16:09
Ederson Salinas, o “Ryguasu”, executado sábado na capital paraguaia (Foto: Reprodução)
Ederson Salinas, o “Ryguasu”, executado sábado na capital paraguaia (Foto: Reprodução)

Seguido a tradição, o silêncio impera na fronteira do Paraguai com Mato Grosso do Sul após a execução de Ederson Salinas Benítez, 33, o “Ryguasu”, crivado com 34 tiros na noite de sábado (25), no estacionamento de supermercado na capital Asunción.

Embora tenha sido apontado em 2020 como aspirante a sucessor do narcotraficante brasileiro Sérgio de Arruda Quintiliano Netto (o “Minotauro”) no comando do crime organizado na linha internacional, “Ryguasu” tinha sido abandonado pelos antigos aliados, fez muitos inimigos e há um ano lutava para se manter vivo. Ele tinha escapado de dois atentados, mas não escapou do terceiro.

“Como costumam dizer por aqui, é ‘defunto sem choro’”, disse uma fonte da fronteira ao Campo Grande News. “Um morto sem ninguém para chorar por ele”, disse outra fonte. Em outras palavras: Ederson Salinas não contava com a simpatia dos fronteiriços e não tinha qualquer importância no submundo do crime. Apenas mais um que virou estatística.

Na avaliação de policiais da fronteira, especialmente do lado paraguaio, houve, de parte da polícia e da imprensa, supervalorização da importância de “Ryguasu” como candidato a “patrão” do crime.

“Ele até tentou ocupar o espaço deixado com a prisão do Minotauro [capturado em Balneário Camboriú em fevereiro de 2019], mas não teve força nem apoio. Se isolou, colecionou inimigos e depois teve que se dedicar a salvar a própria vida”, afirmou à reportagem um policial paraguaio que conhece bem a fronteira.

Segundo essa fonte, a prisão de Ederson Salinas por porte ilegal de arma durante briga de trânsito em Ponta Porã dias após fuga em massa na penitenciária de Pedro Juan Caballero ajudou a criar a imagem de novo chefão da fronteira.

“A transferência dele de helicóptero para Dourados por temor de uma suposta tentativa de resgate por causa da fuga em massa e depois a fiança de 80 mil reais pagos à vista ajudaram a criar essa imagem de bandido importante, mas ele morreu longe de atingir esse patamar”, afirmou o policial.

Policiais e clientes de mercado em volta do corpo de Ederson Salinas, em Asunción (Foto: ABC Color)
Policiais e clientes de mercado em volta do corpo de Ederson Salinas, em Asunción (Foto: ABC Color)

Ex-cunhado – Entre os inimigos que Ederson Salinas acumulou após tentar se tornar “patrão” do crime organizado na linha internacional estava seu ex-cunhado, o paraguaio Danilo Giménez López, o “Danilo’i”.

Os dois eram aliados, mas brigaram por motivos desconhecidos e passaram a ser inimigos. “Ryguasu” acusou o ex-cunhado de ser um dos pistoleiros que tentaram matá-lo, em 25 de março do ano passado.

Pelo menos 226 tiros foram disparados na mansão onde Salinas morava com a noiva brasileira, em Pedro Juan Caballero. Naquela noite, “Ryguasu” disse à polícia paraguaia que tinha reconhecido “Danilo’i” entre os atiradores.

Hoje (27), a noiva de Ederson Salinas, uma sul-mato-grossense que mora em Ponta Porã, foi interrogada pelo Ministério Público do Paraguai sobre a morte do suposto traficante.

Ela estava no mercado e Ederson a aguardava no estacionamento quando ocorreu o atentado. A brasileira também estava no ataque de março do ano passado. Por isso, o Ministério Público decidiu mantê-la sob custódia, por medida de segurança.

A polícia paraguaia procura agora o secretário de Ederson Salinas. O homem acompanhava o patrão e a brasileira no mercado em Asunción, foi visto na cena do crime e depois desapareceu. Antes de sumir, foi até o apartamento de “Ryguasu” e pegou uma maleta. Ele passou a ser considerado suspeito de ter colaborado com os pistoleiros.

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