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Interior

Pecuarista preferiu deixar gado morrer após ter licenças bloqueadas

Na propriedade, foram localizados 268 bovinos mortos e 716 desnutridos em situação de maus-tratos

Por Viviane Oliveira | 12/09/2024 10:28
Polícia laçando boi atolado em barranco (Foto: divulgação / PMA)
Polícia laçando boi atolado em barranco (Foto: divulgação / PMA)

Em depoimento à polícia, o pecuarista Milton Andrade Hildebrand, de 62 anos, proprietário da Fazenda Alvorada, em Rio Verde de Mato Grosso, distante 203 quilômetros de Campo Grande, disse que acabou abandonando o gado na fazenda porque teve as inscrições bloqueadas pela Agenfa (Agência Fazendária) e Iagro (Agência Estadual de Defesa Sanitária, Animal e Vegetal).

No local, foram localizados 268 bovinos mortos e 716 desnutridos em situação de maus-tratos e com risco de morte. Conforme a polícia, a propriedade rural se encontrava em estado crítico: abandonada, sem água, pastagens ou qualquer outro alimento para os animais, com a situação agravada pela seca severa dos últimos dias. Os animais que ainda estão vivos foram encontrados “em um estado deplorável, extremamente debilitados, fracos, sem alimento, desprovidos de feno, sal e pasto, onde era possível ver a exposição do solo árido pela estiagem prolongada”, informou a PMA, por meio de nota.

Segundo Milton, a fazenda tem 18 mil hectares, onde criava 6 mil cabeças de gado de corte. Na propriedade, tinha passagem para o Rio Taquari, represa e vários açudes, que se secaram em razão da estiagem, prevista para novembro, mas neste ano começou em julho. Além disso, o pasto formado acabou, mas como os bois estavam nas invernadas [local onde se confina o gado para engorda], não conseguia juntá-lo para levar até o rio para beberem água.

Ainda de acordo com o pecuarista, durante fiscalização na propriedade, em data que não foi informada, a Iagro fez a contagem do gado e o número foi inferior ao que havia sido documentado, gerando um deficit. Depois dessa fiscalização, o pecuarista acabou recebendo multa e teve sua inscrição bloqueada na Agenfa e Iagro. Dessa forma, não pôde mais vender o gado nem transportá-lo e ficou sem dinheiro.

Milton afirmou que não tinha conhecimento do deficit, posteriormente descobriu que o capataz da sua fazenda, responsável pelo controle e informação do animal, furtava as cabeças de gado. Ele disse que teve mais de 300 animais furtados. Na ocasião, o fato foi registrado na delegacia da cidade.

A defesa do pecuarista informou ao Ministério Público que Milton foi para a fazenda nesta semana, com o filho, para tomar as providências necessárias e dar assistência aos bovinos. A reportagem entrou em contato com a Iagro para saber sobre as inscrições bloqueadas, por meio de e-mail, e aguarda retorno.

Animal atolado em lamaçal (Foto: divulgação / PMA)
Animal atolado em lamaçal (Foto: divulgação / PMA)

Investigação - O MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) vai investigar denúncias de maus-tratos a bovinos na Fazenda Alvorada. A Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente da Comarca de Rio Verde instaurou um inquérito civil e, ainda, notificou o proprietário rural a informar se foram adotadas medidas para fazer cessar a situação, encaminhando relatório e registros fotográficos que comprovem as providências.

O promotor de Justiça Matheus Bukcer também propôs, na notificação, a assinatura de um Termo de Ajuste de Conduta, com o objetivo de solucionar os danos ambientais, por via consensual.

Conforme registros da Polícia Militar Ambiental, o proprietário rural foi preso no dia 8 de setembro, em Campo Grande. A prisão foi motivada por investigação que resultou no flagrante de animais mortos e agonizando às margens do rio Taquari, na Região do Pantanal, que enfrenta período de seca intensa. A propriedade apresentava características de abandono, e não havia pastagem, alimentos ou água para o rebanho.

Sem água e na tentativa de matar a sede, os animais entravam na área de preservação permanente do Rio Taquari,  mas como estavam fracos acabavam atolando no barranco e morrendo à míngua.

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