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Interior

PF indicia 10 por ataque a acampamento e um índio por mentir

Marta Ferreira | 21/12/2011 12:02

Inquérito diz que não houve execução de líder. Corporação diz que seguranças foram contratados para expulsar índios no Sul do Estado, mas que eles também mentiram sobre o que aconteceu.

PF disse que laudos não indicam execução de Nisio e que ataque foi esperado por índios armados e pintados para a guerra. (Foto: Divulgação Cimi)
PF disse que laudos não indicam execução de Nisio e que ataque foi esperado por índios armados e pintados para a guerra. (Foto: Divulgação Cimi)

Quatro fazendeiros, um advogado, dois administradores de empresa de segurança e mais três seguranças, totalizando 10 pessoas, foram indiciados pela Polícia Federal por envolvimento no ataque ao acampamento indígena Guayviri, em Aral Moreira, no dia 18 de novembro. Desde então, um dos líderes do acampamento, Nisio Gomes, 59 anos, está desaparecido e, segundo os índios que estavam no local, foi executado.

A Polícia Federal diz, porém, que não há indícios da execução de Nisio e afirma, ainda, que os índios mentiram sobre o que aconteceu. Tanto que o filho de Nisio, principal testemunhal foi indiciado por denunciação caluniosa. Ele foi colocado sob proteção policial desde o dia que começaram as investigações.

Nenhum nome foi divulgado. A PF informou hoje que o inquérito sobre o caso deve ser concluído na semana que vem, com os indiciamentos citados. As dez pessoas suspeitas do ataque, conforme a Corporação estão sendo apontadas como autoras dos crimes de lesão corporal, formação de quadrilha e porte ilegal de arma de fogo.

Apesar de os índios afirmarem que houve um assassinato de Nisio, a PF diz que as investigações não chegaram a essa conclusão.

Conforme a nota da PF, os fazendeiros e o advogados contrataram a empresa de segurança, sediada em Dourados, para expulsar os índios da da Fazenda Nova Aurora, na rodovia MS-386.

Todos os suspeitos estão soltos. Três chegaram a ficar presos mas foram liberados. A PF também pediu a prisão dos outros apontados como envolvidos, o que foi rejeitado pela Justiça.

Confronto-A apuração da Polícia Federal indica que os índios sabiam da chegada dos seguranças e os esperaram pintados para a guerra e armados. De acordo com a nota divulgada pela PF, as investigações indicam acontecimentos diferentes dos relatados pelos índios.

No dia, eles disseram que os pistoleiros entraram no local em camionetes, informação rechaçada pelos três homens presos. Conforme a PF, o filho de Nisio, testemunha de tudo que ocorreu, também desmentiu essa afirmação.

Pelo relato dele e dos seguranças, os homens entraram a pé no acampamento.

Existe corpo? Para o mundo todo, a notícia divulgada é que houve um assassinato durante a invasão, o de Nisio Gomes. Para a PF, porém, não há provas nesse sentido.

O laudo pericial concluiu que “ficou impossibilitado de inferir sobre suposto homicídio do indígena Nizio Gomes, visto que a quantidade de sangue que apresentava possível compatibilidade com seu perfil e os demais indícios encontrados no local, não foram suficientes para que se confirmasse tal suspeita”. Isso quer dizer que, conforme a perícia, o ferimento de Nízio Gomes, possivelmente feito com balas de borracha, não foi suficiente para causar sua morte.

Foram recolhidas em vários locais do acampamento mostras de sangue para exames de perfil genético e, conforme a nota divulgada, somente em um destes locais foi possível a compatibilidade com o perfil genético do índio Nizio Gomes, porém este lugar é o que havia menos sangue.

O sangue em maior quantidade encontrado no local ainda está em fase de análise de compatibilidade. Segundo a PF também havia sangue dos agressores, já que um deles foi ferido no local dos fatos por Nizio Gomes, que utilizou um machado com veneno de sapo, segundo os indígenas.

Foram dois laudos, um da perícia científica, sobre as amostras de sangue, feito no laboratório da PF em Brasília, e outro de local, a cargo da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul. O laudo do local também aponta que não há indícios de que Nisio tenha sido morto ali e seu corpo carregado até a camioneta.

Conforme a PF, as marcas de sangue que iam em direção a camioneta não pertencerem também ao indígena.

Ainda de acordo com a Polícia Federal, “o fato dos cartuchos deflagrados encontrados na área estarem impregnados com sangue do Nizio, demonstra, provavelmente, que o próprio Nizio Gomes tenha procedido a colheita dos cartucho deflagrados, tendo em seguida entregue ao seu filho”, principal testemunha, para que entregasse a polícia.

O fato de os cartuchos serem verdes dificulta a localização na mata e isso, segundo a PF, contribiu para a demora em avisar as autoridades. “Os fatos ocorreram no amanhecer e a comunicação a polícia se deu por volta de 09hs40min do dia 18/11/2011, portanto, quase quatro horas de intervalo”, diz a nota.

A PF afirma, ainda, que o filho de Nisio, que relatou todo o ocorrido, estava aguardando os agressores “portando uma espingarda”. Ele foi indiciado, de acordo com a PF, porque no curso das investigações, “levou ao conhecimento da Polícia Federal fato que sabia ser falso”. Isso porque, conforme a corporação, acusou “pessoas que sabia inocentes de serem integrantes do grupo armado que atentou contra os indígenas”.

“Refente ao Cacique Nizio Gomes, até o presente momento, a polícia federal ainda o considera desaparecido, até mesmo porque restam mais evidências de que ele esteja vivo do que morto”

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