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Interior

PM morto na casa de amigo traficante já foi condenado por extorquir cigarreiros

Elton Moura e outros dois PMs cobraram R$ 30 mil para liberar Kombi com cigarro paraguaio

Helio de Freitas, de Dourados | 18/08/2021 16:30
O policial militar Elton Moura em 2014, quando estava lotado no DOF. (Foto: Reprodução)
O policial militar Elton Moura em 2014, quando estava lotado no DOF. (Foto: Reprodução)

O cabo da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, Elton da Silva Moura, 36, executado a tiros na noite de ontem (17), em Dourados (a 233 km de Campo Grande), tinha sido condenado em 2017, junto com outros dois colegas de farda por exigir R$ 30 mil para liberar carga de cigarro contrabandeado do Paraguai.

Elton Moura, o 3º sargento Ivanildo Gomes da Silva, 48, e o soldado Tiago de Freitas Galvão, 27, foram condenados a oito anos, dez meses e vinte dias de prisão, inicialmente, em regime fechado com base no Código Penal Militar, por crime de concussão (quando militar se aproveita da função para exigir vantagem indevida). Tiago era cunhado de Elton.

Cigarro paraguaio – Conforme a ação penal, o crime foi praticado no dia 14 de janeiro de 2017, em Dourados. No dia 7 de março daquele ano, o juiz Alexandre Antunes da Silva, da Auditoria Militar, recebeu a denúncia do Ministério Público e decretou a prisão preventiva dos três PMs. No dia 31 de julho de 2017, eles foram condenados.

A cobrança de propina teria ocorrido na Rua Barão do Rio Branco, 124, no Bairro União Douradense. Nesse endereço, Gomes, Tiago Galvão e outros dois PMs não identificados exigiram R$ 30 mil para liberar a carga de cigarro paraguaio.

Na casa, os quatro policiais (usando carro particular e sem farda) se depararam com o cigarro contrabandeado em uma Kombi e obrigaram o morador a ligar para o sobrinho, dono da carga.

Depois de contar os pacotes encontrados no veículo, o soldado Tiago Galvão indagou ao proprietário da carga, identificado no processo como Nelson Carvalho de Souza, sobre qual valor ele poderia pagar para que não apreendessem o cigarro.

Nelson respondeu que poderia pagar R$ 10 mil, mas os policiais exigiram R$ 30 mil. Sem saída, Nelson concordou em pagar. Entretanto, ele conseguiu levantar apenas R$ 15 mil. Recebeu como resposta que os PMs ficariam com o cigarros e a Kombi até o pagamento do restante do dinheiro, cinco dias depois.

“Nesse ínterim, os policiais militares denunciados mandaram diversas mensagens para o celular da vítima, exigindo o restante da quantia pecuniária consistente em R$ 15 mil”, afirmou a denúncia.

Sem conseguir o dinheiro e cansado de tanta pressão e ameaça, no dia 27 de janeiro de 2017 o dono da carga denunciou a extorsão à Polícia Federal.

Orientado pela PF, Nelson marcou encontro com os PMs para supostamente entregar o restante do dinheiro. Ele levou um cheque de R$ 20 mil. No momento da entrega, Gomes e Tiago Galvão foram presos por dois agentes da PF e por um tenente da Polícia Militar, avisado sobre o caso.

Segundo a denúncia, Elton Moura participou da empreitada criminosa, tendo agido em coautoria com Ivanildo Gomes da Silva e Tiago de Freitas Galvão. Foi ele o terceiro policial militar que ingressou na residência onde estava o cigarro e exigiu vantagem indevida da vítima.

Em agosto de 2018, a defesa de Elton Moura conseguiu, através de recurso ao Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, reduzir a pena para cinco anos e quatro meses de reclusão. No mesmo ano, ele conseguiu benefício do regime aberto, mas ainda estava cumprindo a pena.

Funcionários de funerária carregam corpo de policial, na madrugada de hoje. (Foto: Adilson Domingos)
Funcionários de funerária carregam corpo de policial, na madrugada de hoje. (Foto: Adilson Domingos)

A morte – Ontem à noite, Elton da Silva Moura, que entre 2014 e 2015 integrou o DOF (Departamento de Operações de Fronteira), foi morto com pelo menos 12 tiros de pistola 9 milímetros por dois pistoleiros.

A execução ocorreu na casa do amigo dele, Herberte Gonçalves Mareco, 36, no Jardim Vista Alegre, região sul de Dourados. Condenado por tráfico de drogas e monitorado por tornozeleira eletrônica, Herberte também era alvo dos pistoleiros, mas conseguiu correr para a rua no momento do ataque. Ele levou tiro no ombro e de raspão na cabeça.

Antes dos tiros, os matadores recolheram os celulares do PM, do amigo dele e da mulher de Herberte, identificada como Bruna. Eles também pegaram o dispositivo onde estavam armazenadas as imagens das câmeras de segurança.

O carro usado pelos pistoleiros, um Renault Sandero preto, foi abandonado em chamas no BNH 4º Plano, a menos de 2 km do local da morte. A suspeita é que os celulares e o arquivo das imagens tenham sido destruídos dentro do veículo.

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