População pede paz em zona de guerra com dois homicídios a cada três dias
Moradores e estudantes saíram às ruas para pedir mais segurança; morte de médico em ataque de pistoleiros a piloto do tráfico, ontem em Pedro Juan Caballero, motivou protesto de hoje
Moradores locais e estudantes morando temporariamente na fronteira para estudar medicina saíram às ruas nesta quinta-feira (28) em Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia vizinha de Ponta Porã (MS), a 323 km de Campo Grande. O protesto foi para pedir paz em uma região que se tornou zona de guerra do narcotráfico, com média de dois assassinatos a cada três dias.
Usando roupas brancas e carregando balões também brancos e cartazes, eles cobraram mais segurança e o fim da violência. A manifestação foi motivada pelo assassinato do médico paraguaio Sandro Arredondo Lugo, 45, diretor da faculdade de medicina da Universidad Central del Paraguay.
Por volta de 18h30 de ontem, Sandro acompanhava o treino do filho em uma pista de motocross nos arredores de Pedro Juan Caballero quando surgiram pelo menos 12 pistoleiros armados com fuzis e dispararam centenas de tiros em direção às pessoas no local.
O alvo era o piloto do tráfico Fernando Olmedo Calonga, atualmente ligado ao narcotraficante brasileiro Jarvis Gimenes Pavão. Calonga, que também acompanhava o filho na pista de motocross, saiu ferido junto com um de seus seguranças. Outro guarda-costas do bandido morreu. Para policiais da fronteira, a morte do médico foi “efeito colateral” do ataque.
Passeata – A manifestação começou na Laguna Punta Porã, um dos pontos turísticos de Pedro Juan Caballero, e seguiu até o memorial Pax Primavera em Ponta Porã. O diretor da Universidade Central Del Paraguay Karlos Bernardo fez uma homenagem ao colega morto e cobrou das autoridades maior segurança na fronteira.
O governador do departamento (estado) de Amambay Ronald Acevedo (Partido Liberal) participou do ato e criticou a falta de segurança na região, segundo ele esquecida pelas autoridades nacionais do Paraguai.
“Amambay se encontra a mercê do crime organizado e o governo nacional tem conhecimento disto, pois em cada reunião com eles cobramos maior número de policiais para dar segurança à população, mas continuamos esquecidos”, afirmou Ronald Acevedo ao site Porã News.
Terra sem lei – Nos últimos anos, as execuções se tornaram comuns tanto em Pedro Juan Caballero quanto em Ponta Porã. Raramente os crimes são esclarecidos. Na maioria dos casos, os mortos são ligados ao crime organizado.
Em 2018, 134 pessoas foram executadas no departamento de Amambay, cuja capital é Pedro Juan Caballero. A maioria ocorreu na cidade vizinha de Ponta Porã. Outras 82 foram mortas em sete cidades sul-mato-grossenses que fazem fronteira com o país vizinho.