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Interior

Psicólogo preso por estupro foi condenado em 2015, mas Justiça anulou sentença

Paciente de 22 anos acusou Jorge Zacarias de abusar dela durante sessão de hipnose em 2013

Helio de Freitas, de Dourados | 15/09/2022 12:40
O psicólogo Jorge Zacarias, preso acusado de estuprar pacientes durante consultas (Foto: Reprodução)
O psicólogo Jorge Zacarias, preso acusado de estuprar pacientes durante consultas (Foto: Reprodução)

Preso terça-feira (13) acusado de abusar de paciente de 15 anos durante sessão de terapia, o psicólogo Jorge Zacarias, 63, foi condenado por tentativa de estupro de outra paciente em 2015, mas a sentença de um ano e seis de reclusão foi anulada dois anos depois pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul.

Segundo o processo ao qual o Campo Grande News teve acesso, a denúncia foi feita à Polícia Civil de Dourados em julho de 2013 pela paciente, na época com 22 anos de idade. Conforme os depoimentos da vítima, Jorge Zacarias teria praticado os abusos aproveitando que ela estava hipnotizada.

Estrangeiro naturalizado brasileiro, Zacarias é formado em psicologia há 11 anos e tem como especialização a hipnoterapia educativa – técnicas hipnóticas utilizadas como auxílio para tratamento de transtornos emocionais, físicos e psicológicos). Ele também tem formação em teologia e atua como pastor evangélico.

A vítima disse em depoimentos à polícia e depois ao Poder Judiciário que procurou tratamento devido a problemas emocionais que apresentou após ter bebê, principalmente após o fim do relacionamento com o pai da criança.

Ela ainda amamentava o filho quando fazia terapia. A criança ficava com a irmã dela, na recepção, enquanto era atendida por Zacarias. Na época, Jorge Zacarias tinha consultório em uma galeria de salas na Rua Hilda Bergo Duarte, na Vila Planalto, região norte de Dourados.

Psicólogo foi preso nesta semana, após novas denúncias de paciente (Foto: Arquivo)
Psicólogo foi preso nesta semana, após novas denúncias de paciente (Foto: Arquivo)

Hipnotizada - O inquérito policial foi instaurado em 3 de setembro de 2013. A mulher denunciou que durante as sessões de hipnose, o psicólogo passava as mãos em seu corpo, tentava abrir suas pernas e falava no seu ouvido que ela deveria se apaixonar por ele para esquecer o ex-namorado.

“A vítima foi até o consultório do denunciado por quatro vezes e este lhe propôs que tentasse a técnica de hipnose, a qual ajudaria a acalmá-la. Ocorre que, a partir da terceira sessão, o denunciado passou a utilizar a hipnose para praticar atos libidinosos na vítima”, afirma a denúncia feita pelo promotor de Justiça Romão Avila Milhan Junior no dia 30 de maio de 2014.

Mesmo hipnotizada, segundo a denúncia, a vítima sentia tudo o que estava acontecendo, “porém não conseguia abrir os olhos, nem se mover, razão pela qual começou a chorar e o denunciado [Zacarias] resolveu despertá-la da hipnose”.

Ao final da terceira sessão, a vítima denunciou que o psicólogo tentou beijar sua boca, mas ela virou o rosto no momento. Já na quarta consulta, segundo ela, os abusos foram ainda mais explícitos.

“No dia 01 de agosto de 2013 a vítima retornou ao consultório para a quarta sessão de hipnose, porém, desta vez, não se deixou hipnotizar por ele, apenas fingiu que não estava consciente. Durante a sessão, o denunciado afirmou que a vítima ficaria excitada e começou a acariciar a barriga dela, levantou o cós da calça para olhar sua calcinha e ainda tentou abrir suas pernas. A vítima, transtornada com a ação do denunciado, levantou-se e foi embora do consultório imediatamente”, afirma outro trecho da denúncia.

Negou tudo – A mulher relatou em seus depoimentos que ao chegar à recepção, onde estava sua irmã com seu filho no colo, disse que não voltaria mais ao local porque o psicólogo era “um tarado”.

Jorge Zacarias foi intimado a prestar depoimento na delegacia e negou todas as acusações. Apesar de alegar sigilo profissional sobre detalhes das consultas, disse que a ex-paciente apresentava transtornos de humor e “comportamento estranho”. A denúncia do MP foi recebida pela Justiça no dia 3 de junho de 2014.

A defesa do psicólogo pediu arquivamento do processo alegando “ausência absoluta de provas da materialidade, inexistência de comprovação e presença apenas de depoimentos derivados da versão da suposta ofendida”. Também apontou “completa incoerência das declarações” e “comprometido do estado mental” da vítima.

Na fase processual, o MP entendeu que o crime se tratava de tentativa de estupro, cuja pena mínima é inferior a um ano de reclusão, e propôs a suspensão do processo mediante algumas condições, entre as quais doação de 10 salários mínimos em dez parcelas para um abrigo de crianças. Entretanto, Jorge Zacarias rejeitou o acordo.

Sentença – Em 17 de agosto de 2015, o juiz Marcus Vinícius de Oliveira Elias, da 2ª Vara Criminal de Dourados, condenou o psicólogo a um ano, seis meses e 20 dias de reclusão, mas decidiu substituir a pena privativa de liberdade por restrições de direitos, entre as quais suspensão do exercício da psicologia pelo tempo de cumprimento da pena.

Jorge Zacarias recorreu então ao Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul alegando que a condenação se baseava apenas nos depoimentos da paciente. O recurso da defesa chegou a apontar a vítima como pessoa com graves problemas mentais.

O recurso foi analisado pela 3ª Câmara Criminal. O relator do caso, desembargador José Ale Ahmad Netto, votou pela manutenção da condenação, mas seu voto foi vencido pelos desembargadores Carlos Eduardo Contar e Ruy Celso Barbosa Florence. No dia 10 de julho de 2017, a sentença foi anulada.

Jorge Zacarias quando chegava à delegacia após ser preso em sua casa, terça-feira (Foto: Adilson Domingos)
Jorge Zacarias quando chegava à delegacia após ser preso em sua casa, terça-feira (Foto: Adilson Domingos)

Prisão – Na terça-feira desta semana, Jorge Zacarias foi preso em sua casa por policiais civis de Dourados e de Fátima do Sul, onde foi registrada a denúncia de abusos contra a adolescente de 15 anos, moradora aquela cidade.

Segundo a polícia, os abusos denunciados pela adolescente aconteciam há pelo menos dois meses, mas se intensificaram em 26 agosto, dia em que ela saiu correndo do consultório e relatou o crime à família.

A Justiça decretou a prisão temporária de Zacarias. Como se trata de estupro qualificado (vítima menor de 18 anos), o mandado tem validade de 30 dias. Até ontem, outras três mulheres – duas de Fátima do Sul e uma de Dourados já tinham procurado a polícia para denunciar abusos praticados pelo psicólogo.

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