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Cidades

Presos com filhos de presidente do TRE tiveram destinos diferentes

Há 12 anos, irmão de Breno foi flagrado pela polícia após assalto, passou oito dias preso e foi levado para clínica; o comparsa dele, está preso até hoje

Anahi Zurutuza | 07/08/2017 20:38
Justiça, representada por estátua no Fórum de Campo Grande (Foto: Alcides Neto/Arquivo)
Justiça, representada por estátua no Fórum de Campo Grande (Foto: Alcides Neto/Arquivo)

Bruno Edson Garcia Borges, hoje com 42 anos, e Diogo Loureiro Batista, 33, foram presos em flagrante na madrugada do dia 16 de setembro de 2005 por assalto a mão armadas. Os dois, réus primários, foram julgado em “tempo recorde”: após uma semana da prisão, ouviram do juiz que teriam de cumprir cinco anos e quatro meses no regime semiaberto, mas daí em diante o destino de cada um foi completamente diferente.

A defesa do primeiro pediu que ele fosse internado em clínica particular para tratamento de dependência química, uma vez que ele era usuário de pasta-base de cocaína, laudos comprovando a doença foram anexados ao processo e conforme consta na decisão, o magistrado que arbitrou a sentença na época autorizou a substituição da pena por três meses de internação.

No dia 24 de setembro, oito dias após a prisão, Bruno foi transferido sob escolta para a clínica Greenwood, em Itapecerica da Serra, interior de São Paulo. Já Diogo passou a integrar o quadro de internos da Colônia Penal Agrícola no dia 27 de setembro daquele ano.

Bruno, que tinha 30 anos quando cometeu o crime, passou mais de um ano internado e teve o perdão da Justiça após cumprir um terço da pena, em junho de 2009. Hoje, ele é advogado.

Já Diogo, que foi condenado no mesmo processo aos 21 anos, tem ficha no sistema penal de “reincidente crônico”.

A primeira vez que saiu do semiaberto e não voltou mais foi em novembro de 2006. Logo depois, ele teve de desistir da defesa particular por não mais dinheiro para pagar a advogada contratada e passou a ser representado pela Defensoria Pública.

Em setembro do ano seguinte, ele foi preso praticando outro assalto e por fazer parte de quadrilha que roubava motociclistas em Campo Grande, foi condenado a 15 anos e quatro meses de prisão.

A última vez que fugiu foi em maio deste ano, mas Diogo foi pego no dia 24 de julho e agora cumpre pena no Instituto Penal de Campo Grande.

Entrada da clínica Greenwood, onde Bruno ficou internado (Foto: Clínica Greenwood/Divulgação)
Entrada da clínica Greenwood, onde Bruno ficou internado (Foto: Clínica Greenwood/Divulgação)
Fachada da clínica para onde Breno foi transferido no fim de julho (Foto: Clínica Maxwell/Divulgação)
Fachada da clínica para onde Breno foi transferido no fim de julho (Foto: Clínica Maxwell/Divulgação)

Caso semelhante – Bruno e Diogo não têm mais nada em comum, a não ser o fato de terem pago pelo crime que cometeram juntos em 2005. Mas, a história de Bruno é parecida com a de Breno Fernando Solon Borges, 37, preso em abril deste ano com drogas e armas.

Dono de empresas em Mato Grosso do Sul, Breno também teve a prisão – preventiva, neste caso – substituída pela internação em uma clínica de tratamento psiquiátrico, a Maxwell, que fica em Atibaia (SP).

Bruno e Breno são filhos da desembargadora Tânia Garcia de Freitas Borges, atual presidente do TRE-MS (Tribunal Regional Eleitoral), que é investigada pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) justamente pela a “soltura” do mais novo, trama repleta de supostas irregularidades que ganhou repercussão nacional depois de noticiada pela imprensa local.

Isabela Lima Vilalva, namorada de Breno que foi presa junto com ele em abril, respondia ao processo em liberdade até o dia 20 de julho. Já Cleiton Jean Sanches Chaves, também flagrado sob a liderança do empresário no transporte de droga, continua na Penitenciária de Três Lagoas, onde o filho da desembargadora também cumpria pena. Bruno é o advogado dos dois.

Bruno posa para foto ao receber a carteira da OAB-MS em 2013 (Foto: Facebook/Reprodução)
Bruno posa para foto ao receber a carteira da OAB-MS em 2013 (Foto: Facebook/Reprodução)

Tempo recorde – Sobre o fato de há 12 anos, da investigação sobre Bruno ter sido concluída em seis dias e ele ter sido julgado no sétimo dia depois de ter sido preso, em entrevista ao Fantástico deste domingo (7), Elias Mattar Assad, presidente da Associação Brasileira de Advogados Criminalistas, comentou que um julgamento tão rápido não faz parte da rotina do Judiciário brasileiro. “Em 40 anos de profissão, eu nunca tive notícia de algo assim”.

Para o jurista, qualquer ação penal tramita por ao menos dois meses e meio até a sentença. “Três meses, dois meses e meio para observar todos os prazos traçados pelo nosso Código de Processo Penal, antes disso é praticamente impossível”.

A reportagem questionou CNJ se os fatos ocorridos em 2005 fazem parte da investigação instaurada contra a desembargadora, mas até o fechamento da matéria, a assessoria de imprensa não havia conseguido verificar a informação.

A equipe também tentou contato com o advogado Benedicto Figueiredo, que represente Tânia Borges, mas não conseguiu. Ao Fantástico ele garantiu que a cliente não usou de influência para beneficiar os filhos.

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