1.700, o século que organizou os horários do almoço e do jantar
Para quem assiste filmes ou lê livros sobre o passado, fica com a impressão de que os horários do almoço e do jantar eram iguais aos atuais. Ledo engano, até o século 1.700 ninguém havia pensado em organizar horários de refeições. Em uma mesma residência o almoço poderia ser servido às 12:00 horas ou às 17:00 horas. A mudança, a organização desses dois horários viria com a absurda obrigação de um convidado que não poderia comparecer a um almoço, ou jantar, ter de ir pessoalmente agradecer o convite.
Grave afronta.
Não agradecer um convite pessoalmente era considerado uma grave afronta. O resultado, na prática, é que muitas pessoas gastavam boa parte do dia correndo de lá para cá tentando ficar em dia com seus compromissos com outras pessoas. E estas também estavam correndo para tentar fazer o mesmo, da forma mais improdutiva.
Jantar ao meio-dia?
A tentativa inicial de organização das refeições determinou que o jantar sempre deveria ocorrer ao meio-dia. Não funcionou. A segunda tentativa, colocou o jantar no meio da tarde. Também não deu certo. Em 1.773, o jantar passou a ser oferecido às seis da tarde. Comer tão tarde era, para muitos um perigo para a saúde.
Teatro, influenciando o horário do jantar.
Outro fator que influenciava muito o horário do jantar era o teatro. Os espetáculos começavam por volta das duas da tarde, ou seja, não atrapalhavam as refeições. Todavia, isso se devia, sobretudo, à necessidade de luz no palco a céu aberto. Quando os espetáculos passaram para salas cobertas, o horário do teatro foi ficando cada vez mais tarde e os espectadores tiveram que adaptar sua hora de jantar, apesar de muita relutância, e até ressentimento.
Criados para segurar lugares.
Por fim, os ricos desistiram de concorrer com o teatro. Criaram o costume de enviar criados para segurar seus lugares até que eles acabassem de jantar. Em geral apareciam barulhentos, bêbados e sem vontade de se concentrar. E só assistiam os últimos atos. Durante toda uma geração, foi normal que uma companhia teatral apresentasse a primeira parte para um auditório cheio de criados cochilando. Na segunda parte o público era inebriado e mal-educado que nem fazia ideia do que estava acontecendo no palco. O jantar só se tornou a refeição noturna, que conhecemos, na década de 1,850, um século e meio depois de tentativas infrutíferas.
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