26 de janeiro: o Brasil foi descoberto por um pirata
Séculos se passaram para que os historiadores brasileiros aceitassem uma verdade incontestável. O Brasil foi descoberto por um pirata. A descoberta de Cabral não passa de um mito grosseiro. Não é fácil aceitarmos que nosso primeiro documento de identidade tenha sido elaborado por um pirata. Mas não resta uma dúvida sequer: Vicente Yañez Pinzón foi o primeiro europeu a descobrir as terras brasileiras. Resta saber se esse espanhol aportou primeiro no Pernambuco ou no Ceará. A história dos Pinzón só vem escrita há pouco tempo. Há um emaranhado de viagens piratas e outras legais feitas pela família Pinzón.
Os limites entre comércio, pirataria e roubo têm sido muito difíceis de definir e precisar, e sobretudo naqueles tempos em que certas formas de pirataria tinham caráter legal. Qualquer capitão de barco que houvesse sido roubado por uma nave estrangeira recebia "patente de corso", isto é, ficava autorizado a ressarcir-se com outro barco qualquer da mesma nacionalidade dos assaltantes.
Os piratas nem sempre atacavam barcos e povoados de reis e senhores. Com frequência, simplesmente, lutavam entre eles, sem importar a nacionalidade de cada um. Uma crônica da época narra a aventura de uma nave catalã que havia saqueado a nave de outro catalão, que anteriormente se havia apropriado de um roubo de genoveses, depois de haver logrado o italiano e repelir outro ataque de um navio castelhano, que também tinha tido a intenção de abordar a nave catalã. Como se vê, tudo ficava em casa. Na casa chamada Mar Mediterrâneo. Os piratas da época aceitavam qualquer desafio. Não era imprescindível que o navio a ser assaltado tivesse seda, ouro, prata ou especiarias. Com frequência os assaltos eram feitos a barcos carregados com trigo que era muito bem recebido pelas famintas famílias do litoral. Essas necessidades básicas das populações litorâneas levaram até padres a converterem-se em piratas para socorrerem seu famintos fiéis. É nesse estado de vida "cinzenta", entre o legal e o ilegal que vivia a família Pinzón.
Vicente Yañez Pinzón, sem dúvida alguma, era um sólido marinheiro. Logo seria o piloto da caravela Pinta, na expedição de Colombo de 1492, a que descobriu a América. Essa expedição famosa saiu de Palos, um porto de onde nem um barco de importância saia. Todos os demais portos, assim como as estradas terrestres, estavam abarrotados de judeus que foram expulsos da Espanha. Vicente Pinzón era um conhecido corsário com enorme experiência marítima. Poucos, como ele, conheciam o Mediterrâneo e o Atlântico. Seu irmão, Martín Alonso Pinzón, era igualmente um prestigiado pirata, que chegou até a região entre a Inglaterra e a França, que conhecemos, hoje, como Canal da Mancha. Teria sido nesse local que conhecera um jovem e ambicioso Cristóvão Colombo. Vicente Pinzón organizou a expedição que veio ao Brasil com dezenas de parentes e amigos. Com muitas dificuldades para navegar, pois não avistavam a estrela Polar, deram o grito famoso: "Terra à vista!". Era o Brasil. Toda essa viagem esta razoavelmente descrita em documentos que fizeram lavrar logo após o retorno à Espanha. É fácil de obtê-lo na Espanha. Mas quem quer saber a verdade de uma descoberta feita por pirata?
As primeiras trocas de alimentos entre a América e a Europa.
A dieta alimentar dos povos dos dois continentes foi substancialmente enriquecida com as trocas ocorridas a partir da primeira viagem de Colombo. Os alimentos inexistentes em cada lado do Oceano Atlântico, com o passar dos séculos, começaram a fazer parte obrigatória da mesa de europeus e de americanos. Os europeus receberam o milho, a batata, o tomate e o cacau. Em menor escala, e com menor aceitação nos primeiros séculos, para a Europa também foram a mandioca, a abóbora, o abacate, o amendoim e o abacaxi.
Por sua vez, as Américas receberam da Europa o alface, a laranja, o limão, a azeitona, o repolho e, especialmente, o trigo, o arroz, o café e a cana-de-açúcar.
Se pelo lado dos vegetais há claro equilíbrio nas trocas de alimentos, na dieta animal, as Américas levaram imensa vantagem ao receber o boi, o cavalo, o porco e a galinha, enviando em troca o peru, até então inexistentes nos campos europeus.
O mais interessante nessa história alimentar foi que Colombo trombou com o cacau e não se deu conta do valor que tinha para os índios. Cortés, o espanhol que chegou no México, foi ainda pior, derrubou as plantações de cacau de Montezuma. Os astecas faziam uma bebida espumosa chamada "chocitl", que deixou os espanhóis intrigados. Foram perguntando, perguntando... As favas do cacau, além de moídas para virar a bebida espumosa, eram a moeda dos astecas.
Já as primeiras batatas que chegaram à Europa foram utilizadas para a alimentação do gado. Assim como não sabiam o que fazer com o tomate, o alimento que, depois, passaram a chamar de "Pomo de Ouro" (Pomodoro) e é adorado, principalmente na atual Itália.
E para terminar com a viagem alimentícia, vejamos a rota do vício. O tabaco, curiosamente, foi o vegetal mais usado pelos europeus. O crescimento de seu uso, ainda que tido como esnobismo por muitos, era tão importante que a corte espanhola o tratava como ouro. Chegou a proibir, por longas décadas, que navios de outros países aportassem no Caribe e o comprassem. Era um monopólio espanhol. Só foi quebrado quando os ingleses aportaram nos Estados Unidos e o levaram, inicialmente, para toda a Europa. Foi a primeira riqueza obtida pelos ingleses. Logo a seguir, o levaram para o Oriente Médio e para a Ásia. Assim, o tabaco foi o primeiro produto verdadeiramente globalizado.
E o boi chegou no Brasil... e no Mato Grosso do Sul.
Atualmente é comum vermos mulheres exercendo o papel de criadoras de gado. As fazendeiras estão presentes em qualquer cidade brasileira. Elas, talvez, não saibam que a primeira criação de gado no Brasil foi realizada por uma mulher. Ana Pimentel de Souza merece um estudo mais aprofundado. Sua história é fascinante. Esposa de Martim Afonso de Souza, mandou vir de Cabo Verde, um arquipélago português, algumas dezenas de cabeças de gado para a capitania de São Vicente, no litoral paulista. Ana é pouco conhecida, mas a boiada que veio é tema de vários estudos. A maioria concorda que era gado mestiço com sangue zebu. Foi Ana Pimentel de Souza que "abriu" as portas para os primeiros colonos subirem a Serra do Mar e se instalarem nas terras que hoje conhecemos como cidade de São Paulo. Ela governou a capitania por dois anos por procuração de seu marido e fez história... ainda não escrita devidamente. Dizem apenas que era uma mulher autoritária.
O gado que chegou ao Brasil era devidamente "acondicionado" nos porões dos navios. Construíam uma estrutura de madeira especial para que o boi não escorregasse com o balançar do mar. O gado era "encaixotado" para que não se ferisse. Essa história mostra o valor que um boi tinha.
É estranho, mas ainda não foi escrita a história da chegada do boi em terras do Mato Grosso do Sul. Há raras informações documentadas, mas ninguém foi aos arquivos da Espanha para procurar os que porventura existam . Todavia, como não há relato da vinda de boi na expedição de Álvar Núñez Cabeza de Vaca, só resta crer que a chegada do boi se deu à partir do Paraguai, chegando na região que hoje é Naviraí. Mas se conhecem as criações de gado nas missões que existiram entre a atual Aquidauana e Miranda. Após serem aprisionados, mortos e expulsos dessa região pelos bandeirantes, os índios deixaram uma boa quantidade de bois, vacas e cavalos. Esses são os animais "selvagens" que séculos depois, seriam encontrados por paraguaios, paulistas e mineiros. Esse gado é responsável pelas constantes escaramuças entre paulistas, mineiros, indígenas e paraguaios. Uma história que ainda não foi devidamente contada, mas que continua... sob a forma de posse da terra. Apenas mudamos o foco da disputa. Antes era o gado, agora é a terra onde pastam. Amanhã será a água.