A diferença entre mentir e falar m...: o caso da romã e as rugas
Se você for agora em um sacolão, verá que uma romã é a fruta mais cara que há. O preço exagerado não caiu dos céus, surgiu de uma jogada que envolve essa deliciosa fruta com as rugas. Um jornalista, ligado ao nutricionismo, começou a divulgar os poderes da romã. Ele dá ao repórter um copo com suco de romã. "Dois anos a mais em sua expectativa de vida", brinca ele. Depois, vem um momento de seriedade: "Bom, seis meses para ser honesto". E a âncora "científica" logo aparece. "Um estudo recente, publicado na semana passada nos EUA, mostrou que comer romãs ou tomar suco de romã pode realmente proteger contra o envelhecimento e contra as rugas", diz ele. É o que chamamos de "ciência picareta".
Procura-se o estudo, vivo ou morto.
Você pode acreditar no divulgador de romã ou ir ao Medline, a ferramenta-padrão de busca para estudos médicos. Não existe tal estudo ou, pelo menos, eu não consegui encontrar. Talvez exista algum tipo de folheto produzido pelo setor de cultivo de romãs. O divulgador de romã continuou a venda descarada: "Todo um grupo de cirurgiões plásticos nos EUA fez um estudo fornecendo romãs e suco de romãs a mulheres, antes e depois da cirurgia plástica, e elas se recuperaram em metade do tempo, com metade das complicações e sem rugas visíveis". É a venda explícita de terreno na lua.
É mentira ou está falando merda?
Harry Frankfurt, da Universidade de Princeton, discute essa questão detalhadamente em um ensaio clássico sob o título "On Bullshit" (Sobre falar merda). Em seu argumento, "falar merda" é uma forma de falsidade distinta da mentira. O mentiroso sabe qual é a verdade e se importa com ela, mas decide enganar deliberadamente. Quem fala merda, por outro lado, não se importa com a verdade e simplesmente tenta impressionar. Ele não está nem do lado da verdade nem do lado do que é falso. Ele não se importa se as coisas que diz descrevem a realidade corretamente.