A força de vontade é um mito urbano? O caso da gagueira
Quase todo mundo culpa o obeso por ter diabete, o dependente de drogas por sua ausência do mundo real e ao procrastinador por sua demora. A todos eles falta força de vontade. Mas essa força é um conceito alheio para aqueles que estudam o cérebro humano. Não sabem em que consiste, onde se localiza e nem como medi-la. A melhor opção, até este momento, é considerá-la um mito urbano.
A consciência ocuparia ínfima parte do cérebro.
Somos meros zumbis nas mãos de uma máquina neuronal que funciona por sua conta e que dela não somos conscientes? As mais recentes e melhores pesquisas tendem a indicar que sim. Já há uma certeza: a consciência ocupa uma ínfima parte do cérebro. A imensa maior parte do cérebro, neste momento, está processando informações sem que saibamos. Esse princípio geral governa desde nossa visão de uma mera maçã, passando pela resolução de um problema cotidiano ou por um descobrimento matemático.
A gagueira e a força de vontade.
A gagueira é a repetição involuntária de sílabas que dificulta a comunicação verbal fluida. Afeta a 5% das crianças e a 1% dos adultos. Mais meninos que a meninas. Todos ouvimos a história de Demóstenes, o soberbo orador que viveu na Grécia há 2.300 anos, apesar de ter sido gago na infância. Ao longo dos séculos, foi saudado como um caso imemorável de superação. Para superar a gagueira, tentava falar com a boca cheia de pedras. As terapias contra a gagueira foram centradas, durante muito tempo, nos possíveis traumas infantis. Bastaria força de vontade.
Tem forte componente genético.
Mas o caso da gagueira "corre em família", como dizem os especialistas para significar que tem um forte componente genético. Agora descobriram que consiste na desordem durante o desenvolvimento dos circuitos do cérebro. Se desejamos tratar a gagueira - e qualquer caso de obesidade ou dependência química - temos de abandonar definitivamente a história de Demóstenes e adotar a teoria biológica correta. Deixem de comer pedras.