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Em Pauta

A história de amor de Jhívajhaãá que salvou os guaicurus

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 16/08/2024 07:00
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade

Desde vários anos as caçadas preenchiam as necessidades alimentares do guaicurus. Seus vizinhos brancos da fazenda Barranco Branco, com poder de fogo muito superior, impediam que continuassem atacando as tribos inimigas do outro lado do rio Paraguai. E foi para caçar que os homens adultos de duas tribos guaicurus deixaram sozinhos os idosos, mulheres e crianças. Não imaginavam que o gerente da fazenda inimiga tinha conseguido uma tropa de policiais de Corumbá para exterminá-los.


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A organização das tropas dos brancos.

Empregados da fazenda, conhecedores dos campos da região, foram agregados ao destacamento policial. Um deles, bem provido de armas e munições, subiu o rio Nabileque em uma chata rebocada por uma lancha a vapor, até a fazenda de Santo Antônio do Nabileque. Lá, deveriam arrumar cavalos que tomariam na fazenda s.João, outra fazenda próxima. O outro grupo, com mais de quarenta policiais devia, seguir montado da fazenda do Barranco Branco, alcançar o rio Aquidauana, para subirem até as duas aldeias guaicurus, onde os dois braços das tropas se reuniriam. Sabiam, de antemão, que os indígenas não aceitariam a batalha, tentariam fugir pois não dispunham de cavalos e de armas suficientes para o enfrentamento.


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Um rapaz foge.

Os brancos da fazenda Santo Antônio eram amigos dos guaicurus. Vendo tantos soldados se aproximando, começaram a conjecturar. O que essa gente estava planejando? Só havia uma resposta possível: atacar os indígenas. Um rapaz guaicurus, que trabalhava na fazenda, desconfiado, tomara o cuidado de não se mostrar. E, em razão do pedido de cavalos, que fez o chefe do destacamento, logo imaginou que sua tribo corria perigo. Entrou sorrateiramente no curral onde estavam os cavalos, e sem selá-lo, o levou escondido para trás de umas mangueiras, onde pertinho começava um carandazal, e lá, pulando em cima, fugiu em direção à aldeia de Niutaque, comandada pelo Capitãozinho, também chamado de Joãozinho. Descreveu um circulo bem grande para não ser achado. A aldeia ficava a 15 quilômetros, mas deve ter feito o dobro. Chegou tarde da noite e avisou do perigo que corriam.


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Jhivajhãá, a heroína amorosa.

Jhivajhãá, a mulher mais resoluta e enérgica da aldeia, depois de haver ouvido o que contara o jovem guaicuru, compreendeu a iminência do perigo. Acordou os anciãos que se reuniram em conselho. Deliberaram todos fugirem para os matos próximos, onde os brancos não conseguiriam encontrá-los. Também enviaram um emissário para a aldeia do Tigre, do capitão Guazú-Ãcã, que sabiam que estava caçando. E, por ultimo, tinham de enviar alguém avisar os caçadores que estavam a mais de 10 quilômetros de distância. Era impossível chegar a tempo sem um cavalo. Mas Jhivajhãá amava o Capitãozinho desde a juventude. Estava disposta a todo sacrifício para avisá-lo. É considerada a maior heroína, de todos os tempos, dos guaicurus.


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Correndo para salvar seu amor.

Sozinha, correndo impelida pela devoção que a animava desde a juventude, Jhivajhãá ignorava onde o seu amor poderia estar. Corria sérios perigos de trombar com as tropas que partiam para atacá-los. Também temia as cobras, as onças e os tamanduás pudessem atacá-la. Já tinha andado três quilômetros quando viu as barracas do acampamento dos policiais. A indígena correu bem mais de dez quilômetros procurando por Joãozinho, depois de encontrar a muito custo os rastros dos caçadores. Estava desfalecendo. Seus pés e pernas ensanguentados. Mas conseguiu avisar Joãozinho, e os outros indígenas, do perigo que corriam.


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Uma fuzilaria para “matar“ esteios do ranchos.

O chefe do destacamento preparou seus homens para o combate. Deu a ordem de abrir o fogo. A fuzilaria crepitou com raiva. As balas incrustavam-se nos esteios dos ranchos. Não sobrou um pedaço de pau sem levar bala. Para estupefação dos soldados, ninguém se mexia. Nenhuma resposta era dada. Aproximaram-se, então, com muito cuidado. A trinta metros de distância dos ranchos, outra ordem de fogo à vontade. Ao comando de cessar fogo, colocaram as baionetas em seu fuzis Mauser e avançaram. Com vivas e hurras ferozes comemoraram a vitória. Mas nada se mexeu. O silencio reinava. Após longos minutos de hesitação, alguns mais ousados, mais intrépidos, arriscaram-se. Os demais os seguiram. O seu espanto, a surpresa foi inenarrável. Nenhum cadáver jazia no campo de batalha. Jhivajhãá salvará todos. Das duas aldeias. Seu amor por Joãozinho era mais forte que a crueldade.

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