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Em Pauta

A longa transformação dos indígenas em caboclos “civilizados”

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 23/08/2024 07:50
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade

Um documento do Serviço de Proteção dos Índios - SPI -, datado de 1.920, nos dá noção da população silvícola no Mato Grosso do Sul. “Só no Bananal há uma população avaliada em 800 índios Terena; que os Cayoás e Guaranys do [rio] Brilhante, [rio] Ivinhema, etc. São calculados em 10.000, que os Quiniquinaus aldeados em Miranda são mais de 300”. Havia, portanto, em todo o MS uma população pouco superior a 11.000 indígenas. E ela tinha crescido exponencialmente com a ultrapassagem das fronteiras dos povos guaranis no final do século XIX e inicio do XX. Qual era ideia do governo federal para tratar esse pequeno contingente indígena?


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Povoar, ocupar e integrar.

O governo tinha um objetivo claro para o imenso território do MS: povoar, ocupar e integrar. Como afirmei outras vezes, esta era uma região ocupada por matos e animais, as populações de brancos e de indígenas era diminuta. Foi assim que criaram o Serviço de Proteção ao Índio e Localização de Trabalhadores Nacionais - SPILTN. Pretendiam a pacificação de índios “hostis” e lhes cabia dar: “Assistência, ensino, e providenciar de toda a natureza de modo a apressar, sem nenhuma coação, a emancipação dos índios e sua digna incorporação na sociedade brasileira”. Ficava bem claro que o maior desejo era transformar os indígenas em “caboclos civilizados”. Leia-se trabalhadores rurais.


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Onde indígena encontra um poste telegráfico.

Cândido Mariano Rondon, antes de assumir o Serviço de Proteção aos Índios, acumulava experiência na Comissão de Linhas Telegráficas e passou, a partir de 1.910, a acumular duas funções no governo federal: o de diretor geral da comissão que deveria pacificar e colocar em aldeias todos os indígenas e o das Linhas Telegráficas e Estratégicas. A historia é que algumas tribos estavam lutando contra a instalação de postes telegráficos na região onde viviam. A saída era unificar os dois objetivos.


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Liberar territórios para povoar com brancos.

A partir de então, por volta de 1.910, começam a tecer o tecido do povoamento com brancos. Mas como atraí-los para um lugar tão inóspito, verdadeiramente selvagem e perigoso? Só havia uma alternativa: liberar territórios para que eles se tornassem fazendeiros. Há um documento do SPI que declara existir 17 estabelecimentos (postos indígenas que, depois, passariam a ser denominados “aldeias“) e o controle de numerosas aldeias. E que estavam fundando centros de criação de bois, cavalos e cabras. Observem que tais intentos - transformar indígenas em caboclos e povoar nosso território com brancos - não foi cumprido até os dias atuais. Continuamos a ter um território com muitas vacas, soja e milho…e pouquíssimos humanos.

 

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