A ordem. Uma história global do poder dos maçons
Na infância, ouvia a historieta de que maçons matavam bodes. A mentira, logo a seguir, tomou nova versão: os maçons viravam bodes em um passe mágico. O medo determinava que mudasse de calçada, para não passar em frente de uma loja maçônica. Na juventude, descobri que era tudo mentira. A Maçonaria era uma confraria, uma irmandade que prestava numerosos auxílios aos desvalidos da sociedade, e, ao mesmo tempo, protegia seus membros. Ainda que fosse uma pauta que me interessasse, tão somente por diletantismo, há poucos livros bem pesquisados e escritos. Esse buraco acaba de ser preenchido com a publicação do "A ordem. Uma história global do poder dos maçons", do respeitável historiador John Dickie (ainda não há tradução para o português, mas acaba de sair em espanhol).
George Washington torna a maçonaria no credo dos EUA.
Ainda que a maçonaria esteja envolta em um facho de mistério, sua história é povoada por algumas das pessoas mais importantes dos últimos séculos, como Churchill, Disney, Mozart, Garibaldi, Bolívar e muitos outros. Fundada em um pub de Londres, em 1.717, com uma clara vocação de irmanar homens - e só homens, mulheres não são aceitas - a maçonaria se expandiu com rapidez. Mas foi só no mandato de George Washington que adquiriria tamanho respeitável, e se converteria no credo da nova nação norte-americana.
Adoradores do diabo para Hitler, Mussolini e Stalin.
Para o trio da morte Hitler, Mussolini e Stalin, a maçonaria era percebida como adoradores do diabo. Foi uma época de absoluta obsessão destruí-la e matar todos seus membros. A maioria das pessoas pensa que a maçonaria estava em todas partes conspirando, mas é só um modelo organizativo, uma irmandade formada por células locais, as lojas, que formam uma rede mais ampla. Influenciou a igreja dos mórmons e os rotarys e muitas outras organizações que necessitam da prevalência de segredos e mistérios. A perseguição do maçon é um dos momentos fundamentais para a exacerbação das ideias de conspiração.
Jesuítas, inimigos vitais dos maçons.
O historiador acredita que o grande erro do Papa Pio IX foi dar aos jesuítas um papel crucial em sua luta contra os maçons ao colocá-los no comando, em 1.850, da revista "Cività Cattolica", uma publicação concebida para difundir a mensagem da Santa Sé. Foi assim que os jesuítas se converteram no inimigo número um dos maçons. Mas tudo se revelou como um "tiro no pé", ao invés de esmagar a maçonaria, lhe deu enorme publicidade e criou muita curiosidade. A maçonaria cresceu. Os jesuítas culparam os maçons de todos os males do mundo e de inventar uma conspiração universal. A maçonaria ficou encantada com a relevância que lhe era dada.
Stop ateu!
Para entender a maçonaria há necessidade de entendê-la como uma religião paralela - o historiador a chama de religião de segunda ordem - em que todos podem pertencer a qualquer outra religião, só não podem ser ateus. O autor entende que o crucial é a sensação de união entre seus membros e que seus rituais - rasgar vestes, entrega de símbolos, ajoelhar ou juramentos - não devem ser tomados de maneira literal, deve ser reduzidos em importância. Se os entendêssemos literalmente, teríamos de considerar a comunhão dos católicos como canibalismo. E ninguém pensa assim. Dickie afirma que o grande segredo dos maçons é que "todos vamos morrer". Os três grandes graus ou níveis maçônicos se resumem em "ser uma boa pessoa, tentar um mundo melhor e que a morte é algo muito sério ".