Aprendemos que a economia determina o resultado eleitoral
O voto em 2022 será um "voto econômico". A escolha sobre esse prisma não é novidade, mas um padrão que se repete no país desde a redemocratização. O eleitor aposta em quem lhe pode dar um bom futuro. Eventos atípicos como o atentado ao então candidato Bolsonaro não foram determinantes para o resultado. Bolsonaro venceria sem a facada e sem o apoio de líderes evangélicos pelo fato de sua figura se encaixar como uma luva no sentimento do eleitorado naquele momento: o de rejeição total ao sistema político e à economia recessiva.
Collor, o caçador de marajás e matador da inflação.
Primeira eleição direta pós-ditadura, a vitória de Collor pelo minúsculo PRN veio na lógica econômica. Com a hiperinflação do governo Sarney, o país estava em ebulição. Greves e conflitos agrários sangrentos ocupavam a pauta brasileira. Collor apareceu como a figura que iria colocar "ordem" no país. Era o caçador de marajás - como se referia aos funcionários públicos com altos salários - e daria um "tiro de rifle" na inflação.
Lula amanheceu presidente e dormiu derrotado.
Lula era o favorito nas pesquisas de 1994. Tinha uma média de 41% nas pesquisas. Coincidentemente, a inflação também era de 41%. Os petistas comemoravam antecipadamente a vitória que chegaria. Mas tinha um Plano Real para jogar água no chopp petista. O lançamento do real como moeda em julho de 1994, gerou efeito rápido na inflação. Despencou para 6%. O Real mudou a vida das pessoas. O reflexo nas intenções de voto foi imediato. FHC, o homem do real, passou de 19% nessa época, para 47% em setembro. Lula caiu de 41% para 23%. E adiós festança vermelha.
Serra não aguentou o tranco da taxa de 11% desempregados.
O desemprego era apontado como o principal problema do país. Estava, naquele momento, com uma taxa similar à atual: 11%. Lula, líder sindical de renome, encaixava como uma luva para combater esse problema. Sempre lutara à favor de mais postos de trabalho. A excelente administração de Serra à frente do Ministério da Saúde veio na hora errada. O país não passava por uma epidemia que atingisse a preocupação da maioria, a luta era contra a Aids. Lula subiu a rampa do Palácio do Planalto. A economia vencia a saúde.
O poste do Lula venceu.
O ano de 2010 terminou com a maioria da população na classe média. Era um momento histórico. Nunca tanta gente tinha acesso a tantos produtos. A economia estava fortalecida. Os programas de educação também ajudaram. Dilma, uma desconhecida, muito mal humorada e com verve autoritária, teve uma vitória folgada sobre Serra: 54% a 46%. A economia voltava a dar as cartas.
A ruptura antissistema.
A eleição de Jair Bolsonaro foi uma forte "porrada" em todo o sistema político, e não apenas nos oposicionistas. Foi uma típica eleição de mudança. Pairava uma forte insatisfação com a economia recessiva. Os políticos, todos culpados de corrupção, impediam o avanço do país. A Ópera ao Lava Jato havia atingido seu ápice e ceifava a cabeça de centenas de candidatos nos Estados. Bolsonaro adotou ideias semelhantes à de Collor. Era o homem da "ordem". Além de exterminar os políticos, retiraria o país da economia mambembe em que estava atolado pelas diabruras de Dilma.
O futuro volta a ser vermelho, um vermelho esmaecido e entristecido.
É inquestionável que o futuro está nas mãos de Lula. Não do PT, um partido carcomido por seus inúmeros erros e arrogância, mas por seu líder de semblante triste. Não há euforia. Não há esperança. Apenas um leve sentimento de volta a um passado de classe média. "De volta ao passado", o filme que está na cabeça da maioria. Sem luzes. Um dia murcho. Chegarão às urnas de cabeça baixa. Um dia elegeram um poste, elegerão uma tábua.... da salvação. Mas, Lula conseguirá conter a inflação? Seus quadros, ligados à economia, não são competentes para essa tarefa hercúlea.