Aqueles fascistas que proíbem comer carne
O primeiro passo foi dado, a Assembleia Legislativa de São Paulo proibiu o consumo de carne às segundas-feiras. Não demora para a bancada da alface, em Brasília, impor alguma idiotice assemelhada a todos brasileiros. Em nome do combate à bancada do boi e da bala, seremos proibidos de comer nosso sagrado bife. Nada mais fascista. E esse não é um xingamento. Assim como Benito Mussolini tentou proibir os italianos de consumirem macarrão, surgem brasileiros que intentam nos proibir do consumo da carne.
Mussolini tentou banir o macarrão.
Como a Itália dependia da importação de trigo devido ao elevadíssimo consumo desse grão para a produção de pães e de macarrão, Mussolini pedia que a população reduzisse o consumo de pão e se abstivesse de comer macarronada. O ditador chegou a escrever um poeminha a respeito. Ele desejava que os fazendeiros produzissem mais arroz e o trigo italiano iria apenas para os pães.
Para além dos interesses nacionalistas, Mussolini passara mais de vinte anos sofrendo com fortes dores gástricas. O fato é que ele vivia sob uma dieta drástica. Trocara as bebidas alcoólicas e o café por leite, camomila e laranjadas que gostava de tomar geladas. Assim como comia pouco e se alimentava preferencialmente de purês.
Na encenação que Mussolini fez de sua própria pessoa, procurava exibir um físico que o ligasse a seu povo. Praticava exercícios, era um esgrimista temido e cavaleiro razoável. Aprendeu a pilotar aviões, dirigir motos e aparecia ao volante de um carro de corrida ou de uma lancha sem causar vexame. A exibição do corpo com o busto nu, forte, disposto a todas as proezas e exercícios, fazia parte da propaganda e escondia sua debilidade gástrica. Da experiência pessoal foi um pulo para a tentativa de impedir o povo de consumir macarrão. Como todos sabem, o macarrão é para os italianos o mesmo que a carne bovina é para os brasileiros. Um prato quase sagrado e onipresente. Não é difícil imaginar que o povo derrotou Mussolini em seu intento maligno. Passaram a comer mais macarrão do que nunca.
A vitória do fascista tailandês.
Pad Thai têm a mesma importância da macarronada para os tailandeses. Hoje, é seu prato predileto. Imaginamos que sempre foi assim, mas essa não é a verdade. O prato - mistura de macarrão, ovos, frango, tofu, broto de feijão, amendoim e molho de peixe - se tornou popular na Tailândia graças ao fascismo. Na década de 1930, a Tailândia, que era então chamada de Sião, estava sob o jugo de um fascista de nome Plaek Phibunsogkhram. Ele era o fã número dois de Benito Mussolini (o número um era Adolf Hitler). O maior objetivo do Plaek era unificar a Tailândia em uma só cultura. Inclusive a alimentar. Algo como abolir os pratos nordestinos e nortistas. E todos os brasileiros passarem a comer só alfacinha e rúcula. Ao invés de adotar o caminho de seu líder Mussolini e proibir alimentos variados, adotou o aumento de impostos sobre eles. Foi uma conquista a ferro e fogo, mas o Pad Thai passou a ser o alimento preferencial de todos os tailandeses.
O genial japonês e seu macarrão com molho de frango. O nascimento do macarrão instântaneo.
Há um ditador mais severo que Mussolini ou Plaek. A fome costuma cobrar com vidas qualquer insubordinação. O Japão acabara de sair da Segunda Guerra Mundial. A fome se alastrava. Como alimentar a todos, era a maior indagação do governo japonês. Havia uma quantidade insignificante de farinha no país. Como em quase todos os países do mundo, o macarrão é a solução adotada para o combate à fome.
Momofuku Ando via uma multidão quilométrica, passando por horas sob o frio inclemente, apenas para conseguir uma tigela com macarrão para toda a família. Essa tigela adiava a morte por um dia. Ele imaginou que esse problema poderia ser resolvido se pudessem cozinhar macarrão mais rapidamente.
Ando não limitou sua ideia a salvar a vida apenas dos japoneses. A Europa e parte da África e da Ásia viviam sob as mesmas condições. A fome tomara conta de amplas terras do planeta. Ele queria criar algo que alimentasse o mundo. E o macarrão foi a resposta. Mas não qualquer macarrão. Ando era um japonês culto, sabia que só o consumo de frango é permitido em todos os países do mundo. Tanto a carne bovina como a suína enfrentam restrições em muitos países. Trabalhando com equipamentos de segunda mão, em um barraco de seu quintal, Ando descobriu uma maneira de fritar macarrão em caldo de galinha e depois secá-lo em bloco, para que pudessem ser preservados por longo período de tempo.
Por causa de seu método de secagem, o macarrão do Ando poderia ser cozido em um ou dois minutos após jogar água quente sobre ele. O produto tomou conta do Japão e de toda a Europa. Demorou a chegar ao Brasil. Ando ficou multimilionário.