As crianças brancas de hoje são menos racistas?
Vemos nas crianças aquilo que gostaríamos de ter no presente. Cada nova geração de pessoas brancas, segundo o pensamento corrente, será natural e inevitavelmente mais aberta e tolerante do que as anteriores. Mas temos algum motivo para acreditar nisso? É verdade que as crianças são menos racistas que seus pais?
Há dezenas de anos as pesquisas no mundo ocidental, inclusive no Brasil, mostram resultados dúbios. De acordo com alguns pesquisadores, as crianças de hoje são menos racistas, expressam menos preconceitos que as gerações anteriores. Mas um segundo grupo de pesquisadores discorda. Descobriram que as crianças e jovens de hoje passaram a expressar preconceito de novas maneiras.
É o que estão chamando de "apatia racial". Uma total e cabal indiferença em relação à cor da pele. É uma forma mais passiva de preconceito do que articulações explícitas de fanatismo e hostilidade racial. Mas tal apatia pode, no entanto, levar as pessoas brancas a apoiar políticas e práticas que se alinham com a mesma lógica racista do passado. Mas também é verdade que muitas crianças não seguiram o passado de preconceito de seus pais.
Por que há tantas diferenças raciais entre as crianças.
Não é simples. Não é apenas crianças repetindo a opinião de seus pais. As crianças são menos influenciadas pela opinião de seus pais e mais pelos ambientes sociais em que vivem e como seus pais construíram esses ambientes. Decisões tomadas pelos pais de onde morar, onde enviar seus filhos à escola, quais atividades extracurriculares devem ser realizadas, para onde viajaram e que mídia consumiram trabalham para criar o que denominam de "contexto racial da infância".
Dentro desse contexto social, as crianças desenvolvem ideias sobre raça observando e interpretando o que está acontecendo a seu redor. E por causa das variações existentes nesses ambientes sociais, as crianças vão adquirindo seus próprios conceitos de intolerância racial ou de não aceitação do racismo com todas as variações possíveis e imagináveis. Não é difícil pensar que no Mato Grosso do Sul existam mais crianças com aversão a índios do que a negros. O desmantelamento do racismo exigirá mais do que apenas esperança passiva. Está muito mais distante do que podemos imaginar.
Antirracismo leva a Nike a faturar R$25 bilhões.
Enquanto boa parte dos cidadãos mais conservadores dos Estados Unidos queimavam seus tênis Nike em sinal de boicote, os investidores da companhia tinham lucros celestiais. A companhia esportiva incrementou seus faturamentos em R$25 bilhões desde o lançamento do anúncio protagonizado pelo jogador de futebol americano e ícone antirracista Colin Kaepernick. Em apenas três semanas da propaganda antirracista, chegaram a uma cifra recorde. Nunca haviam vendido tantos tênis e camisetas da Nike na história. O presidente Trump, inimigo declarado de Kaepernick, afirmou que a campanha mandava uma "terrível mensagem" e que "a Nike seria destruída com fúria e boicotes", teclou na rede social. O poderoso magnata não imaginava que a campanha se traduziria nesse gigantesco sucesso.
O incalculável valor da exposição gratuita em todas as mídias mostrou o acerto da propaganda. Não seria estranho que outras empresas comecem a trilhar esse mesmo caminho. O quarterback de 30 anos, que desenvolveu sua carreira esportiva no São Francisco 49ers, foi o primeiro jogador a se colocar de joelhos durante a execução do hino nacional norte americano em sinal de protesto pela opressão da comunidade negra. O jogador não disputa uma só partida desde 2016 e entrou na justiça contra o delito de conspiração para impedir sua contratação em todos os times.
Atualmente, Kaepernick é o maior símbolo antirracista. Admirado por todos não racistas por colocar sua luta à frente de seus interesses como jogador. A corajosa campanha da Nike mostra a cara do ícone com um forte slogan: " Acredite em algo. Inclusive se significar o sacrifício de tudo".
Era uma vez um lobo vegano e três porquinhos milionários.
Era uma vez um lobo vegano que não engolia a avózinha, três porquinhos que se dedicavam aos investimentos na bolsa de valores e uma Rapunzel que não saia do cabeleireiro. Não deveria surpreender-nos que os contos de fada fossem adaptados a nosso tempo. Afinal, eles estão sendo submetidos a alterações no processo de transmissão - oral ou escrita - ao longo dos séculos.
Sempre foram adequados aos gostos e costumes de cada momento. Tomemos, por exemplo, Chapeuzinho Vermelho. Em 1697, quando foi escrito, Charles Perrault o ligou a uma moral, com a finalidade de prevenir às meninas para temerem as intenções perversas dos desconhecidos. Pouco mais de um século depois, os irmãos Grimm adoçaram o conto e o coroaram com um final feliz.
Se a Chapeuzinho Vermelho do século XVII era devorada pelo lobo, não seria de estranhar que a atual repreenda a fera por sua atitude sexista quando a abordasse no bosque. A força dos contos de fada, não obstante, têm sua raiz na importância dos símbolos e nos convidam a explorar a obscuridade do mundo, a cartografia dos nossos medos, tanto ancestrais como íntimos. Conto de fadas sem suspense é doce de leite... enjoativo. Não podemos esquecer que o "Conto da Aia", hoje muito popular graças à série televisiva, também se inspira na Chapeuzinho Vermelho.
Cada época têm seus lobos ferozes. A cautela desmedida com o fim de não ferir sensibilidades podem tornar os contos em algo sem sabor, em diversões inofensivas. Começam a ser ambientados em um mundo vesgo, onde não existem as decepções, a dor e nem os conflitos. E as crianças a cada dia experimentam menos seus limites. São privadas de algo valioso: a estimulação da fantasia, a compreensão de muitas emoções e, inclusive, a inspiração para descobrir soluções. Charles Dickens já afirmava: "a tolerância, a cortesia, a consideração pelos pobres e pelos idosos, o afeto pelos animais, o amor à natureza, a aversão à tirania e à força bruta... muitas dessas virtudes alimentaram os corações das crianças pela primeira vez graças à enérgica ajuda dos contos de fada". O lobo é vegano ou come a Chapeuzinho?