Canibalismo: comendo a coragem do inimigo
Tabu. O canibalismo é um dos maiores tabus do mundo autodenominado civilizado. Foi uma virada de 180 graus nos costumes de boa parte das populações no mundo, quando deixaram de comer carne humana. Tradicionalmente, escondem essa prática em muitos países. Os orgulhosos e arrogantes argentinos, tiveram tribos indígenas que comeram os primeiros espanhóis que por lá aportaram. Para muitos, o berço da civilização foi a Grécia. Nas ilhas gregas, o carnaval era festejado com muito vinho, sexo e carne humana. Somos um povo diferente. Além de não escondermos o canibalismo dos tupinambás do nosso litoral, transformamos essa prática em arte. Há musicas, filmes, livros, telas e peças teatrais glorificando o ato de devorar carne humana. Como era esse ritual?
A história contada por Hans Staden.
Em 1.553, o alemão Hans Staden naufragou em Itanhaém, litoral de S.Paulo, e ficou nove meses na aldeia do cacique Cunhambebe. Ele participou de uma expedição de canoa até Bertioga para capturar inimigos. Mortos e feridos foram devorados no campo de batalha e durante a retirada. Os cativos foram levados para a aldeia. A ideia era de que as mulheres tinham de participar do ritual antropofágico. Tal como a imensa maioria de nossos indígenas, o valor fundamental dessas sociedades era predar o inimigo. Eles viviam para guerrear. A lógica não era de extermínio, mas cultivar a inimizade. Pensavam que só poderiam ter algum valor guerreiro apropriando-se das qualidades do oponente simplesmente comendo-os.
O cativo tinha muitas regalias.
Antes de virar carne de festa, o cativo recebia a casa do captor. Também tinha à disposição uma irmã, ou filha, como esposa. O preso circulava pela aldeia e era exibido aos vizinhos. A execução atraía convidados em festas e danças regadas a “cauim”- bebida fermentada a base de mandioca. O preso recebia a chance de vingar sua morte, antecipadamente. Pintado e decorado, era amarrado pelo ventre com a “mussurama”- uma corda de algodão - e recebia pedras para jogar contra a audiência. Insultava a todos, provando sua coragem.
“Mata-me“
O carrasco vestia um manto de penas, imitava uma ave de rapina e usava uma "ïbirapema”- borduna. O preso gritava: "Mata-me! Tens muito que te vingar de mim! Comi teu pai. Comi teu irmão. Comi teu filho! E meus irmãos vão me vingar e comer vocês todos”.
Churrasco de gente.
Um golpe na nuca bastava. Corriam mulheres velhas, com cabaças, para recolher o sangue. Tudo era consumido por todos. As mães besuntavam os seios de sangue para os bebês também provarem do inimigo. O cadáver era esquartejado, destrinchado, assado em uma grelha e disputado por centenas de participantes (provavelmente, era o preludio de nossos churrascos).