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Em Pauta

Cem anos depois, a Rússia ainda debate o comunismo

Mário Sérgio Lorenzetto | 08/11/2017 08:24
Cem anos depois, a Rússia ainda debate o comunismo

A Rússia deixou de comemorar o 7 de novembro, data da tomada de poder pelos comunistas. À partir de 2005, a Rússia festeja o 4 de novembro, o Dia da Unidade Popular, uma tentativa de unir todos os russos e esquecer o passado. O único ponto de apoio espiritual comum entre as gerações, passou a ser o 9 de maio, o dia em que a Rússia comemora a vitória na Segunda Guerra Mundial.
As turbulências seguem projetando-se na Rússia atual e seus dirigentes são obsessivos pelo controle. Cem anos depois, o debate sobre o comunismo ainda está aceso no maior país do mundo. O sistema desenvolvido por Vladímir Putin, desde sua chegada ao poder em 2.000, reage com antecipação ante qualquer indício - ilusório ou real - de perda de controle. Há leis que impedem algumas manifestação de seus opositores. No último 5 de novembro centenas de opositores foram presos por saírem às ruas em resposta a uma convocação de Viacheslav Maltsev, fundador de um movimento denominado Artpodgotovka, que havia prognosticado uma nova revolução para esse dia.

Cem anos depois, a Rússia ainda debate o comunismo
Cem anos depois, a Rússia ainda debate o comunismo

A herança comunista ainda vive.

A Rússia ainda não conseguiu desmontar toda a herança soviética. Os cadáveres de Lenin e de outros líderes comunistas seguem na Praça Vermelha em frente a restaurantes e boutiques de luxo. Os hábitos arraigados no período soviético são mais persistentes do que imaginavam os atuais donos do poder.
O coronel Vladímir Putin era um espião da KGB na Alemanha comunista. A forma de pensar e de atuar de Putin está marcada por sua formação nos serviços secretos e muitos do políticos e funcionários que o rodeiam têm a mesma origem. A grande diferença com a época soviética é que então os serviços de segurança se submetiam à ideologia, linha e controle do Partido Comunista e agora são esse ex-comunistas que dão o tom e gozam de uma privilegiada situação frente a outras instituições.

Cem anos depois, a Rússia ainda debate o comunismo
Cem anos depois, a Rússia ainda debate o comunismo

Março de 2018 reelegerão Putin e os humores com Ocidente ruíram.

No próximo março haverá eleições presidenciais na Rússia. Tudo parecer indicar que Putin será eleito para mais seis anos de mandato. A Rússia esteve aberta ao Ocidente nos primeiros tempos de Putin. Mas se decepcionou. Desde 2014, devido à política na Ucrânia, as relações com o Ocidente se deterioram ainda mais. As sanções e contra sanções, o clima de desconfiança mútua, produziram novas barreiras econômicas, políticas e psicológicas. O nível de vida dos russos se deteriorou. Ainda que pese a conquista de 100% da população ser alfabetizada e parcela enorme estar nas boas universidades existentes. Mas os gastos militares corroeram os investimentos em saúde. A Rússia segue vivendo de suas enormes reservas de petróleo e gás. Uma economia que caminha para o obsoletismo.

Cem anos depois, a Rússia ainda debate o comunismo
Cem anos depois, a Rússia ainda debate o comunismo

O Partido Comunista Russo é o segundo maior.

A política russa continua como na época dos czares. A extrema centralização de poderes dessa época da monarquia foi legada aos comunistas e estes, levaram essa herança para os poderosos de Putin. Vivem em uma sociedade muito próxima de uma ditadura desde a Idade Média. A Duma Estatal - Câmara de Deputados - que têm 450 representantes está dominada pelo partido de Putin, denominado Rússia Unida. As demais forças se adaptam à linha do Kremlin. O Partido Comunista da Rússia - PCFR - conta com 42 deputados, é o segundo da Duma e faz oposição cerrada a Putin. Estão constantemente denunciando aumentos de impostos e corrupção. Mas esses comunistas pouco tem a ver com as ideias de Lênin, são nacionalistas, burocratas e tradicionalistas. Além disso, apoiam a política externa de Putin e acolheram com entusiasmos a anexação da Criméia.

Cem anos depois, a Rússia ainda debate o comunismo
Cem anos depois, a Rússia ainda debate o comunismo

Russos que fugiram da revolução para o Brasil.

Ainda que pouco conhecidos, há, aproximadamente, 1,8 milhão de descendentes de refugiados russos da revolução comunista. O comando do Exército Branco, que combatia o Exército Vermelho, deu ordem de aprisionar todos os navios que parassem em Sebastopol, na Criméia. Confiscaram 126 navios prevendo a derrota. Fugiram para a França, Alemanha e Bulgária. Nessa época, por volta de 200 russos vieram para o Brasil no Provence e no Aquitaine, os dois navios que desembarcaram no porto de Santos. A alternativa era o exílio na Sibéria ou um tiro na nuca.

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