Como mentir com pesquisas eleitorais
Se um milagre nos der um saco de feijão, alguns pretos e outros cariocas, só há uma maneira de sabermos quantos grãos temos de cada um: contando-os. Entretanto, podemos achar, aproximadamente, quantos são pretos de maneira bem mais fácil - apanhando um punhado do saco e contando só os grãos do punhado. Consideraremos que a proporção seja a mesma no saco inteiro. Se esta amostra for bastante grande, e escolhida adequadamente, representará o todo suficientemente. Valerá para a maior parte das finalidades. Caso a amostra seja pequena, não passará de uma adivinhação inteligente, e nada terá para recomendá-la, além de um ar espúrio de precisão científica. A triste verdade é que as conclusões de tais amostras, tendenciosas, ou muito pequenas, encontram-se atrás de muitas das informações que lemos, ou que acreditamos conhecer.
A amostra básica de uma pesquisa eleitoral é diminuta. Varia de 400 a 800 eleitores pesquisados em um universo de mais de 400 mil. Essa amostra de eleitores é denominada "aleatória", é selecionada por puro acaso, de um "universo", uma palavra pela qual os estatísticos designam o todo, do qual a amostra é uma parte. Cinquenta papeizinhos são retirados de uma caixa. Ou cada vigésima pessoa encontrada na Rua Rui Barbosa é entrevistada - mas, lembre-se, esta é uma amostra das pessoas que andam na Rua Rui Barbosa naquele momento. Um entrevistador de pesquisa eleitoral disse que havia entrevistado os eleitores na estação rodoviária porque "todos os tipos de pessoas podem ser encontrados em uma estação rodoviária". Não pensou que os proprietários de automóveis não estavam representados na pesquisa e eles são algo como mais de 160 mil. A amostra puramente aleatória é a única que pode ser examinada com alguma margem de confiança, por meio da teoria estatística, mas existe algo de errado com ela. Necessita de entrevistar uma quantidade tão elevada de pessoas que se torna quase inexequível por, pelo menos, dois fatores: preço e tempo levado para realizá-la. É extremamente cara, algo como mais de R$ 100 mil e leva várias semanas para ser entregue - a tendência eleitoral do inicio da pesquisa e o fim podem ter mudado drasticamente.
Um substituto, mais econômico, que é largamente utilizado no campo das pesquisas eleitorais, é a denominada "amostragem aleatória estratificada". Para se obter esse bicho-de-sete-cabeças, divide-se o "universo de eleitores" em vários grupos, na proporção de sua prevalência: sexo, idade, escolaridade... É aqui que as complicações aparecem. As informações são oriundas do IBGE e tem uma margem de erro relativamente pequena quando de sua realização, mas, geralmente, uma margem de erro elevadíssima pela defasagem temporal - o IBGE faz o censo de vez em nunca. Se tiver dinheiro, faz a cada cinco anos, caso contrário, de dez em dez anos. Os eleitores de Campo Grande de hoje não são os mesmos de dez anos atrás.
Os entrevistadores da pesquisa eleitoral saem à campo para encontrar tantos homens e mulheres. Fácil. Homens dos 20 anos aos 30 anos. Começou a ficar difícil, pois muitos mentem a idade. Homens com 20 a 30 anos e analfabetos. Piorou, raramente algum brasileiro admite em público que é analfabeto. A mentira da escolaridade é imensa entre nós. É um caso sério.
Quando ler uma pesquisa que diz: "30% dos eleitores vota no candidato Pafúncio", deve ser lida sempre colocando uma imensa interrogação, muitas dúvidas.
"Medicina tradicional" é reconhecida pelo governo boliviano.
A medicina universitária a trata como "curandeirismo", mas o fato é que o governo de Evo Morales, na Bolívia, a tornou oficial. Os "médicos tradicionais" estão recebendo diploma do governo e emprego formal, em conjunto com os formados pelas universidades, nos centros estatais de saúde.
Eles compartilham consultas, há salas de parto interculturais, plantas medicinais nos viveiros dos centros de saúde e laboratórios para a farmacopeia andina. Coca, malva, retama, alcachofra, eucalipto... remédios para tratar a bílis ou as cólicas biliares. Alguns dizem que não necessitam de poderes sobrenaturais, nem sobreviver à queda de um raio ou nascer pelos pés e não pela cabeça. Muitos "médicos" aymaras e quéchuas só são considerados aptos para o exercício desse tipo de "medicina" se atenderem a uma dessas condições.
Os novos "médicos do governo" também tem outros dons: podem ler nas folhas da coca o destino das pessoas, medir a pressão arterial sem aparelhos e detectar possíveis moléstias através da observação da retina. Atendem partos e curam a "doença do susto" em crianças, uma enfermidade guarda-chuva, que equivale a muitas outras para os médicos universitários. Além de serem contratados pelo governo podem receber pacientes em suas casas ou "clínicas" e atendem a domicílio. Nessas situações, imperam as trocas. Carnes, cevadas, batatas, milho, um frango, uma toalha de mesa tecida, queijo, quinoa...
A maioria das cidades do interior boliviano não dispõem de água tratada nas residências, o que provoca enfermidades intestinais e mortes, mas dispõem de novos e flamejantes campos de futebol com grama artificial, um dos maiores empenhos do governo Morales. Há, também, novas salas de parto. Elas não tem portas, mas tem cortinas grossas, paredes de cores vivas, a cama de madeira e barras para parir de pé, se desejarem, e uma cozinha. Os nascimentos, segundo a tradição indígena, são acompanhados pela ingestão de infusões e de uma sopa de cordeiro com que se alimentam as mães após o parto. Não se vem jalecos ou roupas típicas de hospitais.
Só o "médico científico" usa essa roupa. As "cholitas", mulheres indígenas nunca usam abrigos em que pese as frequentes temperaturas abaixo de zero no altiplano boliviano. As salas tem algum tipo de aquecedor, ainda que sejam brasas. As cholitas usam apenas a "pollera", um tipo enorme de fralda coberta por quatro ou cinco anáguas. Na Bolívia atual a maior preocupação das autoridades médicas é atender, ainda que minimamente, as gestantes e os partos, mas apesar do esforço, 40% dos partos continuam ocorrendo nas residências sem qualquer tipo de auxílio médico.
História maluca: o soldado polonês beberrão.
Voytek não só gostava de tomar umas "geladas" como fumava muito. Voytek era soldado da Companhia de Suprimentos de Artilharia do Exército da Polônia. Era um soldado como outro qualquer: nome registrado, posto e número. Além de sua predileção por esportes corpo a corpo, Voytek tinha fascinação por banhos demorados. Rapidamente, ainda criança, aprendeu a ligar sozinho o chuveiro. Ele também colocava a "mão na massa", ajudava as tropas carregando munição pesada. Sua maior façanha foi descobrir um espião árabe que havia se infiltrado no acampamento. O prêmio foi concedido em garrafas de cerveja e permissão para um banho que levou uma manhã inteira.
Com o fim da guerra, a companhia de Voycek foi alocada em uma vila escocesa e ele continuo sua trajetória lendária. Todavia, Voytek não era humano, era um urso. Foi levado para o zoológico de Edimburgo, onde continuo sendo o animal mais adorado do público até sua morte, em 1963.