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Em Pauta

Dopamina, a molécula que nos faz sentir muito bem e muito mal

Mário Sérgio Lorenzetto | 17/02/2022 07:00

💡Só 0,0005% do cérebro produz dopamina. E mesmo assim, ela nos domina.


🎻 A dopamina é o maestro da orquestra. Pode rebaixar o ritmo ou tocar enlouquecidamente.


🔛 Quando ativa, a dopamina nos faz sentir muito bem ou muito mal. É energia e motivação, o circuito mental que se ativa quando existe alguma ameaça. Aumenta a possibilidade de sobreviver, reproduzir e ter futuro. Mas nem sempre nos faz bem. O que é bom para a transmissão de nossos genes, não é necessariamente bom para nos sentirmos melhor. O circuito da dopamina evoluiu quando vivíamos nas bordas da inanição e ela nos ajudava a sobreviver. Hoje, segue fazendo com que vejamos comida altamente calórica e, mesmo sabendo que não nos é conveniente, a queiramos.


🛋 A maioria dos psiquiatras acredita que uma pessoa fiel é mais feliz que quem não é. Todavia, desde o ponto de vista genético, seria melhor espalhar nossos genes com muitas mulheres. Por isso, ao ver uma possível parceira, a dopamina faz com que sintamos desejo sexual de nos reproduzirmos. Seria bom para os genes, talvez nem tanto para o cérebro.


⌛ É muito difícil aceitar que aquilo que nos incita a trabalhar obsessivamente é a mesma coisa que nos motiva a buscar o prazer no sexo. Mas é a mesma busca pela sobrevivência possibilitada pela dopamina.


⏰ A dopamina vive do futuro. Quando conseguimos algo que desejamos e chega o momento presente, ela se apaga. Ela nos faz comprar alguma coisa nos prometendo a felicidade. Mas uma vez comprado, ela se desconecta. E a felicidade não chega. Ela proporciona o prazer da antecipação, não o da satisfação. Nunca é bastante. A dopamina funciona como um motor, não uma meta. Tem a ver com imaginar algo e não com conseguir. Não é a molécula do prazer e sim do desejo.


🎉 Vivemos esperando. Esperando que o futuro seja melhor que o presente, e isso pode levar à insanidade. É fundamental que entendamos que a felicidade é excepcional e passageira. Por outro lado, a insatisfação é constante. Sempre pensamos que o momento seguinte será melhor. É, ao mesmo tempo, uma arma que garante nossa sobrevivência, mas também é uma condenação à insatisfação.


🎎 A ação da dopamina está relacionada à cultura. No mundo ocidental a grande busca é pelo progresso. No oriental, viceja a tradição. Queremos tudo mais e mais rapidamente e sempre mais, mais, mais... por que é assim? Esse por que é a dopamina.


💘 A dopamina faz com que o amor dure. O amor apaixonado pode ser a experiência mais prazerosa que temos na vida. Faz com que os humanos se sintam como deuses. Quem o sente, pensa que o mundo mudou. É perfeito. Mas ele é dopaminérgico: dura apenas de 12 a 18 meses. Nunca é eterno.


💕 O amor companheiro não é necessariamente inferior. Ocorre quando alguém te conhece profundamente e te aceita como você é. Ocorre entre pessoas e animais que se unem por toda a vida. A diferença fundamental para o amor apaixonado é que precisa ser constantemente trabalhado. É muito semelhante à amizade. E não precisa ser dopaminérgico, não tem data para acabar. Requer esforço, mas em troca, uma pessoa querida está mais protegida no mundo. E consegue mais coisas.


🛏 Mick Jagger, em sua biografia, assegura que foi para a cama com 4.000 mulheres. É certo que, nesse caminho para chegar às 4.000, desfrutou bem pouco de bons momentos de sexo. O problema dos prazeres dados pela dopamina é que eles desenvolvem tolerância. O cérebro responde cada vez menos. Se você come dois pasteis, o segundo aporta menos prazer. Soa muito católico, mas o cérebro funciona assim.


😇 Sobre o catolicismo e a dopamina. Quem ler "ama a teus inimigos", o maior preceito do Novo Testamento, e não entrar em choque, jamais será um praticante da religião. Será apenas um membro do "clube ou partido" religioso, alguém que procura ter relações em uma igreja ou templo. Amar o inimigo é dar uma cambalhota na dopamina.

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