Duas no pé e uma na bunda, a ingratidão do governo
Na segunda metade do século XIX, havia uma aldeia Terena na localidade de Mato Grande, atual distrito de Albuquerque, em Corumbá. Também existiam em torno de dez aldeias próximas a Miranda, perfazendo um total de aproximadamente 4.000 indígenas. A ideia do governo era a de que eles se tornassem os guardiões da fronteira, uma muralha contra os paraguaios.
O êxodo terena.
Em 1.864, com a iminência da invasão das tropas de Solano Lopez, os eternos inimigos dos guaranis, se refugiaram nas imediações de Porto Esperança e na Serra de Maracaju, onde hoje estão Sidrolândia e Dois Irmãos do Buriti. E eles iniciaram um processo de simbiose com o Exército Brasileiro. Não foi difícil, os terenas tinham uma organização militar favorável a contatos dessa natureza. Mas houve um grande êxodo, nenhum terena desejava estar perto dos guaranis das tropas paraguaias. Nessa região, se encontraram com ofaiés expulsos das barrancas do rio Paraná, transformando-a em um terra multicultural.
A guerra contra os guaranis.
Os terenas que foram para a região serrana pegaram em armas. Impuseram resistência contra as tropas paraguaias. As armas utilizadas foram as que os soldados brasileiros deixaram em Miranda por ocasião da rápida fuga diante da invasão das tropas inimigas. Também deram apoio às tropas brasileiras, especialmente na época em que ela tinha sido atingida pela “grande fome”, quando milhares de soldados morreram esquálidos. E foram a ponta de lança, sempre à frente de nossas tropas nos combates.
2.000 hectares lhes restaram.
Nas décadas de 1.920 e 1.930, os terenas foram aldeados em uma área de 2.000 hectares. Mas não conseguiram manter essa área. Perderam parte dela no avanço da “captura”, o contingente policial de Aquidauana que os perseguia com a mesma ênfase que destinavam a um grupo de malfeitores denominado “os baianinhos”.
Dos 2 mil aos 17 mil.
Décadas depois, com a erupção dos movimentos indígenas de ocupação de terras que pertencem a fazendeiros, os terenas dessa região passaram a reivindicar 17 mil hectares, afirmando que seriam suas tradicionalmente. Invadiram fazendas e houve morte de policial e de indígena. Foi um desastre para todos. O governo nunca se dispôs a comprar terras para eles. Os fazendeiros estão sendo lesados e os indígenas desterrados. É como um líder terena afirmou: “os terenas receberam do governo, por lutarem ao lado do exercito brasileiro, apenas três botinas - duas no pé e uma na bunda”. A ingratidão é o sobrenome do governante brasileiro. E ainda mais inacreditável, fala em comprar terras para guaranis, mas finge que os terenas não tem história e nem existem.
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