E o Oscar vai para... uma indígena que só quer paz
Imaginem que o atual detentor do Oscar de melhor filme vá à Aldeia Limão Verde. Na localidade, visite uma pequena escola e escolha uma professorinha que nunca viu uma potente câmera hollywoodiana. Essa é a história que está por trás de "Roma", o filme que as bolsas de apostas dão como o provável vencedor de muitas estatuetas.
O nome da professorinha é Yalitza Aparício, a protagonista que da voz à realidade mexicana -e brasileira- de inúmeras mulheres indígenas: vive trabalhando como doméstica em uma residência de classe média. Realidade e realidade. Da vida real como estudante de um curso para ser professorinha de um povoado, majoritariamente indígena, para a vida cinematográfica de empregada doméstica na cidade grande.
Yalitza só quer paz
Os jornalistas já não são bem vindos no pequeno povoado de Tlaxiaco. Dezenas de repórteres peregrinam durante semanas a esse pequeno povoado em busca das origens de Yalitza.
Um enxame de jornalistas perseguiu o pai de Yalitza até que ele bateu seu carro. A avó de Yalitza -da etnia triqui, que não fala espanhol- foi encurralada para arrancar-lhe uma entrevista. Um sujeito se fez passar por namorado de Yalitza para cobrar US$ 25 por entrevista por testemunhos inventados.
A imprensa alterou a vida desse pequeno e esquecido povoado no sul do México. Há poucos dias o diretor de "Roma", o vencedor atual do Oscar, Alfonso Cuarón, exigiu energicamente que deixassem em paz a mãe e os três irmãos da provável vencedora do Oscar.
O racismo toma conta da imprensa mexicana
Os mexicanos estão felizes com a provável vitória de Yalitza? Nem todos. Uma parcela importante da população repudia a nominação.
A "piada" recorrente é de que escolherão uma indígena que no filme só diz "Sim, senhora" e "Não, senhora". Esse tipo de comentário vem encontrando eco nas redes sociais. Mas os insultos racistas vem gerando milhares de reações que estão obrigando os difamadores a se desculpar. Pelo menos no México o racismo está perdendo a batalha nas redes sociais.
O México começa a expulsar seus fantasmas mais profundos. E tudo graças a um filme em branco e preto e uma atriz que nunca havia filmado. Yalitza diz que só quer paz.