O Corinthianismo é a religião do povo
A coisa começou pelo inferno. As mais prestigiosas pesquisas sobre o nível de crenças religiosas detectavam, há um par de décadas, que as pessoas punham em duvida o castigo eterno. A dúvida é como uma mancha de azeite: insidiosa, se estende fina e perfeita. O inferno, aquele herdeiro expressionista do Seol dos judeus, do Hades dos gregos e do Plutão dos romanos, começou a perder corpo. Há uma década, o Papa de Roma, assegurou que o inferno era uma espécie de estado, mas nenhum lugar físico. Em consequência, o paraíso vira assolado pela mesma ideia. Tampouco seria um lugar para sonharmos com sua existência. Nem inferno, nem céu. A geografia espiritual esfumaçou. O encanto com um terreninho no céu virou poeira. Sobre o purgatório não há necessidade nem de menção, tão diminuta essa ideia dantesca virou há um século.
Quando a ideia de vida eterna era revolucionária.
O cultivo nesta vida dos elementos que tornariam possível desfrutar de outra vida mais além da morte, talvez seja devido aos gregos. É uma pauta difícil de elucidar. Mas tudo indica que foram eles quem, nos mistérios eleusinos, mais se esforçaram para afiançar a existência desse outro mundo pós morte. Seria deles a herança das três "religiões do Livro" - cristianismo, judaísmo e islamismo. Era uma revolução. Uma enorme novidade essa de termos uma vida após a morte. Mas as religiões nascem e morrem. Vários paraísos já não existem. Ninguém banqueteia no Walhalla. A barca dourada dos faraós tampouco cruza os céus. Outras religiões nascem.
O nascimento da religião dos Corinthianos.
Paulo, o fundador do cristianismo viveu longo tempo em Corinto. Essa cidade grega dista algo como 80 quilômetros de Atenas. Ainda que a maioria acredite que a religião de Cristo nasceu em Israel ou no Egito. Se tivesse, a certidão de nascimento do cristianismo, estaria lavrada como local de nascimento Corinto e não alguma cidade israelense ou egípcia. O cristianismo é dos corintos. Uma religião calcada no povo. Inicialmente, uma religião de profundo ardor. Não eram raros aqueles que davam suas vidas por ela.
Esse é o espírito da nova religião brasileira. O Corinthianismo é profundo, ardoroso. Nada é mais importante que praticar essa fé.
As religiões e a vida nasceram no caos. Como todos sabem, o Corinthians é fruto do caos. Nasceu a partir de fatos aleatórios e despretensiosos que, ao serem associados, desencadearam uma sequência de acontecimentos imprevisíveis e de grandes proporções.
O bater de palmas ou os gritos dos Corinthianos, durante um jogo, pode provocar o surgimento de um tornado na área adversária.
A identificação do Corinthiano não se dá por ancestrais comuns, nem pela cor da pele ou pela condição social. No Corinthians, essa identificação se dá pela alma.
É uma religião. Quando imaginam que o tamanho da torcida diminuirá, aumenta. Quando se conclui que um placar adverso está definido, um Corinthiano santificado, o altera. Quando pouco se espera, muito acontece. A história do Corinthians tem passagens grandiosas, como os de uma religião. Essa religião também é feita de memórias. Algumas já quase apagadas pelo tempo, outras mais nítidas e recentes. Uma religião com seus guerreiros. São Jorge, o santo guerreiro. Uma religião com suas batalhas e heróis.
Uma crença que têm seus santos. São Rivelino, o reizinho. São Basílio, o salvador. São Vladimir, o sangue nos gramados. São Sócrates, o santo protetor da genialidade. São Neto, o gênio mais amado e odiado de todos os tempos. São Carlitos, o argentino que mereceu um lugar destacado no altar. São Ronaldo, o gordo mais querido do Brasil.
A religião dos Corinthianos é passional, exaltada, impulsiva, intensa e completamente irracional. Habemos religião! Finalmente!