Eleições: Paraguai escolherá seu novo presidente amanhã
Pedro Juan Caballero é o Paraguai que todos temos em nossas retinas. A marca do país mais pobre da América do Sul. Destroçado por uma feérica ditadura de 35 anos, se tornou uma terra de exilados e migrantes. Mas, ao lado desse Paraguai, há outro muito diferente. Em Assunção há bairros modernos, com uma classe média pujante, onde a pobreza caiu de 50% para 28%. E mais, a economia paraguaia cresce mais de 4% ao ano. E isso perdura há 15 longos anos. Resultado das imensas plantações de soja e da Maquila, a lei de incentivos para a industrialização, para fabricar produtos que serão consumidos no Brasil. É um dos raríssimos países estáveis da América Latina, sem altos e baixos na inflação, com impostos baixíssimos, mão de obra barata e sindicatos inertes.
Paraguai é o país mais conservador de nossa região, vota neste domingo para escolher um novo presidente e todas as pesquisas assinalam que apostará, como quase sempre, no Partido Colorado, o de Stroessner e do presidente atual, Horácio Cartes. O candidato colorado é Marito Abdo, o filho do secretário particular do ditador Stroessner, que desfruta de uma fortuna feita naquela época. Sua proposta econômica é continuísta. Também promete uma reforma geral e profunda no Poder Judiciário.
"Há um crescimento econômico, mas não inclusivo", diz o candidato do Partido Liberal.
O outro grande candidato, Efraín Alegre, líder do Partido Liberal, que conseguiu unir boa parte da esquerda com a Frente Guasú, do bispo Lugo - que está impedido legalmente de concorrer - promete construir um Paraguai mais inclusivo, mas não aponta reformas radicais. Nem sequer Lugo as fez, manteve a ortodoxia econômica que está na pauta do país desde a derrocada de 2003. "Há um crescimento, mas não inclusivo. Paraguai têm enormes recursos naturais, mas têm 2 milhões de pobres em uma população total de 6 milhões de habitantes". Alegre admite a grande dificuldade de ganhar do Partido Colorado: "Estão governando desde os anos 1940. Há uns 300 mil funcionários públicos, e 95% deles são do Partido Colorado. O clientelismo é muito forte". Mas ele confia em uma surpresa.
Tal como no Brasil, há dois Paraguais.
Todos os candidatos concordam que há dois países dentro do território paraguaio. Os 27% que ficam à margem é quase todo constituído por trabalhadores rurais expulsos pela mecanização da sojicultura e da derrubada de matas que essa plantação provoca.
Em Assunção é bem fácil de ver esses dois mundos tão díspares. Há bairros modernos com hotéis de luxo, shoppings, edifícios recém construídos. Em poucos metros, inclusive nas vizinhanças do Poder Legislativo, se enxerga a miséria. Separada apenas por uma rua, vem a Chacarita, o bairro mais humilde do centro, com casas de teto de zinco que são inundadas todos os anos, sem que ninguém tome providências.
Ao lado de muitos carros luxuosos, correm, a toda velocidade, pequenos cavalos puxando carroças. Luxo e miséria convivendo em um espaço. Muito mais próximos, um do outro, do que no Rio de Janeiro.
A transformação da economia paraguaia.
O Paraguai mudou muito. Na época da ditadura estava baseada na falsificação de produtos, contrabando, narcotráfico e tráfico de armas. Tudo que vemos e sentimos em nossas fronteiras, são heranças do período ditatorial. Mas, se na fronteira a economia é uma mistura de legal com ilegalidade, em Assunção, é completamente diferente.
Há alguns anos, os mandatários paraguaios estiveram no Brasil e disseram: "Sigam importando da China ou lhes oferecemos o Paraguai, para que as empresas brasileiras produzam em nosso território com um custo similar ao da China", explica Carlos Fernandez, o chefão do Banco Central. É o modelo mexicano. Ele também afirma que o "Brasil está para a América Latina como os Estados Unidos para o mundo". Com isso, conseguiram criar mais de 13 mil empregos e continuam crescendo a uma taxa de 50% anual.
A outra grande mudança que conseguiram nesses anos foi no Rio Paraguai. Enquanto a Argentina colocava travas sobre travas para o imenso potencial de transporte que há no rio que une nossos países, os paraguaios liberaram os transportes. Hoje, eles contam com a terceira maior frota de barcaças do mundo.
Mas também há 100.000 indígenas completamente abandonados à própria sorte. São eles que engordam as "tropas" guaranis em nosso território e afluem a nossos postos de saúde como único lugar onde podem receber algum tratamento digno.