Em busca do pênis perdido. O amor dói?
Uma mulher de 22 anos conduz seu carro a toda velocidade em plena madrugada. Quando tenta girar o volante para fazer uma curva fechada, suas mãos resvalam. Estão ensanguentadas. Nesse momento, Lorena Bobbitt, nascida no Equador, em 1970, se da conta de que leva o pênis de seu marido na mão direita. Mas ele não está no assento ao lado. Baixa a janela, o atira e segue sua fuga para lugar nenhum. Essa cena terrorífica está baseada em dados reais. Aconteceu há 25 anos. Foi a castração mais meditativa da história. Uma tragedia grega, um thriller de terror e para os meios de comunicação do mundo inteiro se converteria em uma mescla de comédia e terror.
Sede de vingança ou de água?
Na noite de São João de 1993, quatro anos e quatro dias após seu casamento, John Wayne Bobbitt (o nome lembra o ator, machão do faroeste) chegou em casa bêbado e possivelmente estuprou sua mulher Lorena. Segundo ela, não era a primeira vez. Mas seria a última. A mulher se levantou, foi à cozinha para beber água e viu uma faca de trinchar aves. Recordou-se das continuas agressões sofridas e do dia que o marido a obrigou a abortar. O resultado é que Lorena tinha mais sede de vingança que de água e a faca era uma oportunidade de 20 cm para trinchar o machão. Assim que voltou à cama, destampou Bobbitt, pegou seu pênis pela ponta e o cortou.
A procura do pênis perdido.
Enquanto Lorena se escondia no salão de beleza onde trabalhava, Bobbit protagonizava uma versão perversa do esportista que recebe a notícia do médico de que nunca mais poderá praticar. "Pode reconstruir-me, doutor?", perguntou Bobbitt com as pernas ainda ensanguentadas. "John", respondeu o cirurgião Jim Sehn, "não temos o pênis".
Mas em uma época virada no destino, a polícia encontrou o membro depois de horas de busca exaustiva noturna.
Ao receber a novidade, o doutor Sehn temia o pior: que o pênis estivesse recoberto por lama, gravetos, terra, que tivesse sido atropelado por um carro ou mordiscado por um rato. "Mas estava intacto", recorda o cirurgião. "E muito bem cortado". "O talho tinha sido cirúrgico", disse.
Dez horas de cirurgia depois, o pênis estava reconstruído com êxito pelo Dr.Sehn, o único herói dessa história. O vilão e a vítima eram John e Lorena Bobbitt. Mas não havia coincidência de opinião de quem cumpria qual dos dois papéis. Quem era o vilão? Quem era a vítima?
A mulher violentada e o homem simbólico.
Ela afirmava que ele sempre desejava o orgasmo e ela nunca tinha tempo de chegar ao prazer. "É egoísta", acrescentava. E, assim, tornou-se o símbolo de uma geração de mulheres que passou a debater a procura e o direito ao orgasmo feminino. Ele, um saco de tanta virilidade, tornou realidade ancestrais terrores masculinos subconscientes.
Durante os primeiros anos dos 90, os meios de comunicação não paravam de debater esse assunto. Elas passaram a exigir orgasmos. Eles se entrincheiraram em seus mais recônditos temores de não lhes dar prazer. E o mundo fez-se diferente.
Epílogo na justiça.
Durante o julgamento do Bobbitt, nada menos de 60% da população dos EUA acompanhou o televisionamento que o livrou da cadeia. Boa parte da população mundial acompanhava o desenrolar pelos jornais. Foi a,primeira vez que jornais "respeitáveis", como o New York Times, estampou em suas capas a palavra "pênis". Antes escreviam: "órgão sexual masculino".
Lorena se erigiu como o ícone da luta das mulheres pelo prazer, nada a ver com feminismo. Bobbitt foi defendido pelo National Center for Men, uma entidade que lutava pelos direitos dos homens. Mas a dívida de US$200 mil por sua defesa, teve de pagar. Em um programa de rádio vendia... cachorros-quentes. Também vendiam chocolates com forma de pênis. Mas o que mais vendeu foi uma camiseta com o slogan: "O amor dói ". Lorena também foi considerada inocente.
Ele foi parar em filmes pornográficos e ela foi casar com outro homem. O primeiro filme, "John Wayne Bobbitt: Uncut", um jogo de palavras para "sem censura" e "sem cortes", foi o vídeo porno mais vendido até o momento.