Envolvimento dos jogos de azar e polícia desde 1.800
O chefe da polícia da Corte já avisava em 1841 a Câmara de Vereadores sobre os resultados da busca efetuada em três casas de jogos de azar na freguesia do Sacramento, mais populosa do Rio de Janeiro.
O número de pessoas detidas naquela noite - mais de 40 - não devia causar espanto, pois era de conhecimento público que os jogos de azar constituíam uma das principais formas de entretenimento dos homens pobres. Um botânico alemão, de passagem pelo Brasil, chegou a afirmar que os negros e mulatos gostavam mais de jogos de azar e de dançar que de comer e beber. Mas não eram apenas negros e pardos. Nos registros policiais da época encontram-se prisões de caixeiros, carpinteiros, trabalhadores da construção civil, soldados, pessoas sem ocupação, crianças e, principalmente, marinheiros.
Só o bilhar era permitido.
Talvez pela ligação com a nobreza que não só o criara como praticava durante as 24 horas de sua eterna vida de lazer, o bilhar era o único jogo de azar permitido em lugares públicos. Mas as casas de bilhar eram usadas para a prática de todos os tipos de jogos de azar, aproveitando da fachada legal. Queria jogar no bicho? Dirigia-se a um bilhar. Jogos de cartas? Também deveria ir a um bilhar. Já os jogos de dados, os de pior reputação, eram praticados nos bilhares e em casas clandestinas.
As "public houses".
As public houses eram casas clandestinas de jogatina e prostituição. Ficavam na zona portuária, símbolo de tudo que havia de infame no mundo do crime. Nelas ocorriam espancamentos, roubos e mesmo mortes. Eram uma ameaça à segurança e tranquilidade pública. Quando reunida, a "arraia-miúda" - como eram chamados os homens pobres - escapava ao controle da polícia. E isto deveria ser evitado a qualquer custo. A tarefa não era fácil, pois a população resistia às intromissões, inventando formas de driblar as ações policiais.
Fechavam uma casa, abriam outra e davam propinas a policiais.
Vários chefes de polícia se empenharam em acabar com as public houses. Processos, multas e prisões ocorriam com frequência. Esforços ineficazes. Os proprietários dessas casas construíram dois métodos que passaram para a eternidade, estão presentes até nossos dias: fechavam uma casa, abriam outra no mesmo dia e subornavam policiais em enorme quantidade. Estavam sempre preparados para o momento da prisão ou do fechamento das casas de jogos. Chegaram a criar uma polícia especial para combater esse problema. Andavam com uniformes azuis com enfeites avermelhados. De nada adiantou. Rapidamente, acertavam-se com os donos das casas de jogos.
Um português, um chileno e um mestre do disfarce.
Os donos de casas de jogos deveriam erigir estátuas para três figuras históricas: o português Manoel Teixeira de Castro Junior, o chileno Manoel Rodrigues e um outro indivíduo que era um mestre nos disfarces, uma hora aparecia com o nome de Diogo Viodix, outra surgia como Charles Smith e assim seguia... sempre trocando de nomes e disfarces. São eles os grandes criadores da metodologia até hoje adotada pelas casas de jogos. Todas as trapaças e enganos hoje existentes foram criados pelos três estrangeiros. A solução encontrada pelo chefe de polícia foi a de criar uma lei especial para deportá-los. Eram incorrigíveis e muito preparados para enganar a polícia.