Halloween: por que acreditar em fantasmas?
Halloween é uma época em que fantasma e decorações assustadoras estão em exibição pública. Uma noite para lembrar dos mortos. As origens do Dia das Bruxas moderno remontam ao "samhain", uma celebração celta para o fim da colheita, começo da metade escura do ano em partes da Europa e o Ano Novo para esse povo que habitou partes significativas do norte europeu. A tradição dos celtas determinava que eles colocassem às portas de suas casas doações de leite e alimentos para os mortos. Também procuravam alguma proteção para que os fantasmas não adentrassem em suas residências pregando peles de animais nas paredes. Enfim, os celtas acreditavam piamente que nessa noite as fronteiras entre os vivos e os mortos desapareciam e os fantasmas podiam ser comumente encontrados.
Essa tradição viaja da Irlanda para os Estados Unidos e, há bem pouco tempo, chega ao Brasil.
A igreja católica e o Halloween.
Em 601 d.C., para ajudar na cristianização do norte da Europa, o Papa Gregório I orientou os missionários a não proibirem as celebrações pagãs, mas a apenas cristianizá-las. Assim, ao longo do tempo, as celebrações do "samhain" se tornaram a Noite de Todas as Almas, quando falar com os mortos era religiosamente apropriado. O Dia das Bruxas, aquelas milhares de mulheres que serão posteriormente lançadas à fogueira pela Inquisição, se tornou sacro ou pelo menos muito bem aceito pelos católicos.
Não apenas as crenças pagãs em torno dos espíritos dos mortos continuam, mas elas se tornaram práticas importantes da igreja desde a Idade Média. O próprio Papa Gregório I incentivava uma prática que vivia na zona cinzenta, de rezar missa pelos mortos. Gregório I ia além, afirmava que todos que vissem fantasmas deveriam encomendar uma missa. Os mortos, nesse olhar católico, poderiam necessitar do auxílio dos vivos em sua jornada para o paraíso.
A venda de indulgências.
A necessidade de fortunas incomensuráveis para construir a Basílica de São Pedro, no coração do que hoje é o Vaticano, levou a corte do papa a impulsionar as crenças das almas presas no purgatório e, consequentemente, para livrá-las desse horrível ambiente, à prática da venda de indulgências - pagamentos à igreja para reduzir as penas pelos pecados. Confessar os pecados dos outros e pagar. Era a prática necessária para se livrar da cadeia do purgatório e conquistar o paraíso. A crença generalizada em fantasmas foi uma prática muito lucrativa.
Lutero e a destruição das indulgências.
Foram essas crenças que determinaram o ambiente propício para as Reformas. A divisão do cristianismo em protestantismo e seguidores do Vaticano foi liderada pelo teólogo alemão Martinho Lutero. De fato, suas "95 Teses", de 1517, foram em grande parte um protesto contra as vendas das indulgências. Posteriormente, os fantasmas foram identificados como "superstições católicas" nos países protestantes.
Mas os fantasmas não queriam sumir. Debates sobre sua existência permaneceram vivos.
O espiritismo do século XIX.
Nos anos 1800, um novo movimento, forte na França católica, afirmava que os mortos poderiam conversar com os vivos. Esse movimento cresceu muito e se apresentava com várias técnicas. Desde as sessões espíritas - um médium conversa com um espírito e transmite para os assistentes -, passando pelas famosas placas ouija e pelas fotografias de espíritos se faziam famosas e ocupavam amplos espaços nos jornais.
Embora o espiritismo tenha se desvanecido em importância cultural apos a Primeira Guerra Mundial, muitas de suas abordagens permaneceram vivas e atuantes. Atualmente, a mais famosa dessas abordagens são os "caçadores de fantasmas", que procuram provar a existência de fantasmas usando técnicas científicas.
Um amplo mundo de fantasmas.
Essas crenças não são apenas parte do mundo católico. A maioria das sociedades guarda seu conceito de fantasma. Em Taiwan, os fantasmas estão presentes em quase todas as casas. Cerca de 90% dos taiwaneses relata ter visto pelo menos um fantasma na vida.
Juntamente com outros países como Japão, Coréia, China e Vietnã, Taiwan comemora um "Mês Fantasma", que inclui um "Dia Fantasma" central, a data quem os fantasmas vagam livremente pelo mundo dos vivos. Essas comemorações estão ligadas ao budismo. O Sutra de Urabon, onde Buda instrui um jovem sacerdote sobre como ajudar sua mãe, a quem ele vê sofrendo como um "fantasma faminto", é a crença determinante para a ligação do budismo com o "Mês Fantasma".
Como nas crenças ocidentais e nas africanas, os fantasmas asiáticos são vistos como "amigáveis" ou "hostis". Os amigáveis são comumente ancestrais ou familiares e são bem vindos ao lar durante o Mês Fantasma. Os hostis são os fantasmas zangados ou famintos que assombram os vivos.