John Reed, o jornalista que mudou o comunismo
Heródoto, César, Marco Polo, Ibn Battuta, Álvar Nuñez Cabeza de Vaca. São jornalistas antes do jornal. São cronistas, contaram histórias que transformaram o mundo. O último, Álvar Nuñez Cabeza de Vaca, com suas crônicas, transformou quase metade do atual Estados Unidos em uma terra desejada por todos. Não satisfeito, veio à América do Sul para mostrar ao mundo o que existia em terras desconhecidas, que hoje chamamos de Mato Grosso do Sul.
John Reed é da mesma cepa. Esse jovem que nasceu em outubro de 1887 - há 130 anos - em uma mansão localizada em Portland, nos Estados Unidos, cedo foi mandado para Harvard. Lá meteu-se em tudo que existia, de esportes diversos ao jornalismo. Mas o que mudaria sua vida foi um pequeno clube de estudantes socialistas.
Quando terminou os estudos resolveu ir à Europa não como um milionário, mas como um trabalhador em um navio cargueiro. Quando retornou aos EUA, começou a escrever e publicar poemas em revistas de pequena circulação. E teve participação ativa em greves de trabalhadores e foi preso quatro vezes por causa dessas agitações. A seguir, foi ao México escrever sobre a revolução que por lá grassava. Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, retornou à Europa para acompanhá-la.
Em agosto de 1917, viajou para São Petersburgo para ver o movimento que havia derrubado o czar seis meses antes. Reed estava ali em outubro de 1917. A revolução bolchevique deu uma forma nova ao mundo. E foi John Reed quem contou essa história com maestria. Não é possível imaginar que essa revolução teria feito tanto sucesso no mundo sem a crônica de Reed. Seus pretensos pensadores: Marx, Lenin e Trotski são leituras herméticas, muito distantes da população. Reed promoveu como ninguém o que ocorreu na Rússia dominada pelos bolcheviques. Ali viu os fatos, falou com os protagonistas, entendeu o mecanismo, escreveu um livro inesquecível. Deu um excelente título a sua obra mestra, "Dez dias que abalaram o mundo", que ainda hoje é usado em todo o jornalismo mundial como manchete para milhões de ideias. Faz um século. E a pergunta continua a mesma: como tão boas intenções foram resultar em um estrondoso fracasso e tantos assassinatos? John Reed não viveu para ver a derrocada do comunismo e sua transformação em um regime de ódio e intolerância. Três anos depois do livro, faleceu em um hospital de Moscou. Era tão importante que foi enterrado no Kremlin.
Günter Schabowski, o jornalista trapalhão que apressou a derrubada do Muro de Berlim.
Schabowski era membro do governo da Alemanha Oriental, a conhecida Alemanha comunista. Também era o redator-chefe do "Nova Alemanha", o jornal oficial do partido dos comunistas. Um dos homens mais importantes e influentes dessa parte da Alemanha, tinha sido condecorado com a Medalha Karl Marx. Medalha para comunistas tinha imenso valor, não era apenas um enfeite no paletó.
Em novembro de 1989 as fronteiras da Alemanha Oriental tinham virado uma peneira. Centenas de pessoas fugiam para a Hungria ou para a Tchecoslováquia diariamente. Os governantes chegaram à conclusão de que deveriam liberar os vistos de saída do país para quem quisesse. Derrubariam o Muro de Berlim. Mas a trapalhada de Günter Schabowski retirou de suas mãos essa decisão.
O anúncio deveria ser dado no dia 10 de novembro, mas, tendo sido informado às pressas e de maneira truncada, Schabowski, no dia 9 de novembro, foi para uma conferencia da imprensa que estava sendo transmitida ao vivo. Em resposta a uma pergunta, Schabowski lê, em voz alta, um documento anunciando que serão entregues vistos para viajar ou emigrar para o estrangeiro sem nenhum condicionante. A partir de quando, pergunta um jornalista. Schabowski não sabia responder. Inventa: "Do que sei agora, imediatamente". O fim da história todos conhecem. Milhares de jovens foram ao famigerado muro e o derrubaram. Schabowski foi expulso do partido e demitido do governo. Por pouco não foi parar na cadeia.
Dia da Vitória com bebês russos. Qual o dia da Vitória do Brasil?
O brasileiro que vai aos Estados Unidos costuma ficar extasiado com a quantidade de bandeiras que vê nas portas das residências e lojas. Aquele que vai à China tem surpresa similar, há uma infinidade de bandeiras desfraldadas em todos os rincões. A comparação é imediata: falta-nos patriotismo, não nos orgulhamos de nossas vitórias.
O dia da Vitória na Rússia é ainda mais exemplar. Milhões de pessoas vão às ruas todos os 9 de maio, o Dia da Vitória sobre os nazistas. Mas não é uma comemoração onde demonstram força. Mostram profundo respeito por seus antepassados que morreram nos campos de batalha. Primeiro você verá um carrinho de bebê diferente de tudo que já viu. Ele leva dois ou mais cartazes presos, por trás. São fotos dos parentes que tombaram na guerra. Os nomes e a as datas de nascimento e morte estão abaixo das fotos. Nesse dia - 9 de maio de 1945 - o governo nazista assinou a capitulação. Foi o fim do que eles chamam de Grande Guerra Patriótica. Nós a conhecemos como Segunda Guerra Mundial. A estimativa de perdas humanas dos russos variam entre 20 até 35 milhões. Os cartazes com fotos dos mortos na guerra colados nos carrinhos de bebês desfilam aos milhões por duas a três horas em todas as cidades, nas mãos de seus descendentes. As multidões algumas vezes gritam, outras vezes cantam, mas no geral se mantêm em silêncio. Respeito e patriotismo entrelaçados.
Dos cerca de 160 mil brasileiros que combateram na Guerra do Paraguai, pelo menos 50 mil não retornaram para suas casas. Inicialmente, não tivemos um Tratado de Paz em conjunto, envolvendo os quatro países. O Brasil não aceitava as pretensões dos argentinos sobre uma parte do Grande Chaco, região vizinha à nossa, rica em quebracho - um produto usado na industrialização do couro. Assinamos um Tratado de Paz em separado com o Paraguai no dia 9 de janeiro de 1872. Para nós, do Mato Grosso do Sul, esse deveria ser um dia de comemorações. De fato, esse tratado, é a nossa certidão de nascimento. O 11 de outubro de 1977 é a data de nossa maioridade.