Libaneses: púrpura e dedo do meio levantado
A civilização que nasceu no litoral do Líbano era denominada "fenícia" pelos gregos, seus mais duros adversários. Era uma civilização formada por seis cidades-estado - Tyro, Biblos, Sidon, Simira, Arwad e Beirute - , não havia um reino. A Fenícia foi o primeiro exemplo de uma "economia-mundial". Todavia, cercada por dois impérios que a tributavam ferozmente - Assíria e Egito - levou séculos para conseguir manter sua riqueza. Conta a lenda fenícia que um de seus reis, cansado de entregar graciosamente montanhas de cedro para os egípcios, levantou o dedo do meio e o mandou retornar a sua terra caso não pagasse pela melhor madeira da Antiguidade. O egípcio pagou 30 moedas de prata, cordas e um cesto com 30 peixes. Estava findada a dependência fenícia dos dois impérios.
A riqueza fenícia advinha não só de sua madeira famosa, mas, principalmente do pó de púrpura usado para tingir tecidos. A cor púrpura era a predileta de todas as elites em todos os séculos da Antiguidade. Primeiros os gregos, a criar a moda dessa cor, a levaram para o Egito, Assíria e, séculos depois, para o Império Romano. Oriunda da trituração da concha de um molusco abundante no litoral libanês, esse conhecimento, mantido em sigilo por séculos, só se tornou universal quando foi parar no Marrocos.
A primeira escrita universal foi criada pelos fenícios.
Mas a riqueza dos libaneses-fenícios não vem tão somente de árvore e tinta. Se a Mesopotâmia (Iraque) criou a comunicação escrita, foram os fenícios que criaram o primeiro alfabeto universal. Formado por 22 letras, o alfabeto fenício foi o primeiro a apresentar a rigidez que o faria ser usado em toda a região do Mediterrâneo. Esse era um alfabeto "abjad", que não usa vogais. As suas duas primeiras letras "alpha" e "beta" (aleph e beth) originaram o que conhecemos como alfabeto. Comerciantes fenícios levaram esse alfabeto a Creta e à Grécia. Os gregos adotaram a maior parte das letras, alterando, no entanto, algumas delas para vogais. Há ainda uma façanha superior à do alfabeto. Os libaneses foram o primeiro povo a transformar um alfabeto em obrigação do governo, criando aquilo que seria as primeiras rudimentares escolas de línguas. Todo jovem libanês tinha de conhecer o alfabeto para comercializar com outros povos e para se preparar para administrar suas cidades.
Libaneses, Fenícios, cartagineses e púnicos. Quatro nomes para um só povo.
Se para nós eles são os libaneses, para os gregos, os campeões do comercio de longa distância, eram os fenícios. Para os romanos, os descendentes do fenícios que habitavam a atual Tunísia, eram os púnicos. Para os todos os habitantes do litoral europeu do Mediterrâneo, eles eram os cartagineses. Já não restam dúvidas. Todos os povos que viveram no atual Líbano deram origem aos moradores de Túnez, na Tunísia, e mais uma longa lista. Quem acredita que Cádiz, Málaga e Granada, belas cidades espanholas, foram criadas por libaneses? E Palermo e Sorento, quem fundou essas duas cidades do litoral italiano? Com certeza: foram os libaneses. Além da história e da arqueologia, os testes genéticos populacionais demonstraram, indubitavelmente, que são todos libaneses. E mais. Um em cada 17 dos atuais residentes do litoral francês também são originários de libaneses, conforme seus testes genéticos.
A primeira linha de produção em massa é invenção libanesa.
Quem não sabe que a primeira linha de produção em uma fábrica é criação de Ford? Pois saibam que essa é uma história muito mal contada. Forçada. A primeira linha de produção fabril é obra dos libaneses. Foram eles que criaram o método, usado até a atualidade, de estaleiros montarem peças iguais para organizar módulos. O método nos parece simples, mas foi uma revolução inigualável, apenas copiável. Desenharam um barco. Marcaram cada peça do barco com um número ou letra. Cortaram dezenas de peças iguais a cada uma delas. Assim, produziam dezenas de barcos iguais ao mesmo tempo e ainda consertavam avarias em tantas outras dezenas. Acredita-se que Ford tomou conhecimento desse método em um estaleiro e o levou para a indústria de automóveis... e daí, para todas as indústrias do mundo.