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Em Pauta

Manifestações de rua, Roma ainda importa

Mário Sérgio Lorenzetto | 03/09/2021 07:00
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É tentador pensar nos antigos romanos como uma versão de nós mesmos. Colocaram em marcha, por exemplo, desastrosas expedições militares nas mesmas regiões do mundo em que o Ocidente tem fracassado tantos séculos depois. Iraque foi uma tumba para os romanos e para os exércitos ocidentais atuais. E uma de suas piores derrotas ocorreu no ano 53 d.C. pelas mãos de um império rival, perto da fronteira atual entre Siria e Turquia, com um sinal especialmente macabro. Cortaram a cabeça do comandante romano e além de com ela desfilar, realizaram uma peça teatral, como o Estado Islâmico dos dias de hoje costuma fazer.


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A Bolsa Família Romana.

Havia debates intermináveis sobre a repartição de cereais gratuitos ou subvencionados para os cidadãos romanos. Era um uso apropriado dos recursos do governo? Muitos se orgulhavam pois era a primeira vez que um governo garantia a subsistência básica de seus cidadãos. Outros acreditavam que era uma forma de estimular a vagabundagem e as arcas do governo não aguentariam. Também tinham a mesma lógica do milionário moderno que reclama isenções de impostos de seus produtos.


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A organização política e as manifestações de rua.

Tal como hoje, havia uma complexa rede de relações políticas. Todos tinham de respeitar as leis aprovadas nas assembleias (comitia). Mas plebe era organizada para votar organizada em "tribus". As decisões da plebe eram as "plebiscita". E  suas reuniões eram as "concilia". Mas as "plebiscita" não tinham força de lei. Eram apenas recomendações. E vem daí, dos inúmeros conflitos pelo não reconhecimento das "plebiscita", que surgiram as manifestações de rua. Irrompiam, quase sempre, em busca de algum benefício para determinada "tribus". Mais cereais para determinada região era comum, naquela que foi a maior cidade do ocidente por mais de mil anos. Roma tinha um milhão de habitantes.


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Ovos podres neles...

Não há muitos registros de manifestações de rua, de passeatas, na Roma antiga. A mais comum era atirar ovos podres contra as cortinas das liteiras que passavam carregando alguma autoridade. Os escritores romanos não tinham muitos olhos voltados para os níveis moderados de agitação. A maior preocupação era com o tipo de recepção que as autoridades teriam nos jogos e espetáculos públicos. As revoltas e passeatas ocorreram, via de regra, devido ao precário fornecimento de comida.


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A guerra dos pães.


Uma das mais famosas foi a que ocorreu em 51 d.C., quando Cláudio recebeu uma saraivada de pães no Fórum - uma arma inesperada em tempos de escassez de comida. Em outra, muitos fazendeiros escaparam por pouco de ser queimados vivos, por uma multidão furiosa, que protestava contra a exportação de trigo e por esses proprietários terem escondido esse grão em lugar seguro. Mas havia o contrário. Os padeiros se uniram em passeata para reivindicar um aumento no valor do pão que produziam.


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Luta de classes?

Ricos e pobres concordavam que ser rico era uma condição desejável, e que a pobreza devia ser evitada. Assim como a ambição dos escravos romanos em geral era ganhar a liberdade, e não abolir a escravidão como instituição. Eunos e Espártaco, líderes de movimentos de libertação de escravos, foram exceções. A ambição dos pobres não era reconfigurar radicalmente a ordem social, e sim encontrar um lugarzinho mais perto do topo na hierarquia da riqueza. Exceto alguns raríssimos pensadores extremistas - sem seguidores -, ninguém no mundo romano acreditava que a pobreza fosse digna. Também não acreditavam que a pobreza poderia desaparecer - isso até a expansão do cristianismo....

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