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Em Pauta

Morrer na solidão da UTI. A epidemia silenciosa da dor

Mário Sérgio Lorenzetto | 26/04/2021 07:03
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade

Há muito tempo, no Tibete, uma mulher viu seu pequeno filho, adoecer e morrer em seus braços. Desesperada, saiu pelas ruas implorando que alguém a ajudasse a encontrar um remédio que pudesse curar a morte do filho. Como ninguém podia ajudá-la, a mulher procurou um venerado monge. Colocou o corpo do filho a seus pés e falou da profunda tristeza que a estava abatendo. O mestre, então, disse que havia, sim, uma solução para a dor.


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Traga uma semente de mostarda.

Ela devia trazer para ele uma semente de mostarda de uma residência onde nunca tivesse ocorrido uma perda. A mulher partiu, exultante, em busca da semente. Foi de casa em casa. Sempre ouvindo a mesma resposta: "Muita gente já morreu nesta casa". "Desculpe, já houve morte nesta família". Depois de percorrer a cidade inteira procurando a semente, a mulher compreendeu a lição. Voltou ao mestre e disse: "O sofrimento me cegou a ponto de pensar que eu era a única a sofrer a dor da morte". Esta é a fábula dos tempos da pandemia. Todos estão sofrendo a perda de um ente querido.


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A epidemia silenciosa da dor.

A epidemia está escondendo o terror e o sofrimento dos que morrem sozinhos nas UTIs. É o que chamam de "morte higiênica". Mas essas mortes solitárias tem consequências para os parentes. Duas pesquisas - na Inglaterra e nos Estados Unidos - calculam que, para cada vítima mortal da covid-19, há um impacto direto em nove familiares próximos (avós, pais, filhos....), que são parte de uma crise além da sanitária, social e econômica. Essa crise devido à morte de um ente querido está levando milhões de pessoas a abusar do álcool, à automutilação, à depressão profunda e ao abuso doméstico.


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A sociedade moderna e o tabu da morte.

Mesmo antes da pandemia, a sociedade moderna transformou a morte em um tabu. Ninguém fala sobre ela. É uma sociedade que alçou um altar á juventude eterna e à adoração do deus físico esculpido. A morte, para essa sociedade, não pode ser verbalizada. Tem de ser escondida. E isso trouxe consequências graves quando a morte passou a rondar as portas de todas as residências. Passaram a negar sua existência. "A morte não existe". "Vamos à festa".


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Reconciliar com a morte.

Respeite a morte. Reconcilie-se com ela. Não por morbidez. Não para esquecer de viver. Não porque seja bom deixar de existir. Mas simplesmente porque ela vai acontecer. Resta apenas aprender a conviver com ela. Não forçar esse encontro final, mas encará-la de frente, compreendê-la, admiti-la. E, quem sabe, assim, sofrer menos com a visita que ela nos fará um dia. Que seja o dia mais distante possível. Uma excelente vida para você!

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