Mulher coragem: Senhorinha Barbosa aprisionada duas vezes
Se Antônio João é o herói da guerra urdida por Solano Lopez, a coragem de Senhorinha Barbosa é seu espectro feminino. Ninguém teve o infausto destino de ser preso duas vezes pelo ditador paraguaio. Presa, única e exclusivamente, por ser brasileira. E essa atrocidade não bastou, ainda teve de lutar pela herança dos filhos. Uma mulher sozinha no áspero mundo dos homens. Quem foi essa mulher quase esquecida pela nossa história?
Em Bela Vista.
Rafaela Senhorinha Maria da Conceição Barbosa foi uma das primeiras moradoras de Bela Vista. Em 1.846, com Gabriel Barbosa, seu marido, fundou uma fazenda, junto com três filhos e quatro escravos. Construíram duas casas, relativamente distantes, a que chamaram Monjolinho e Retiro. Gabriel foi assassinado três anos depois.
Presa no sertão-barbárie.
No mesmo ano, ainda chorando a morte do marido, teve de enfrentar sozinha a captura e prisão por uma patrulha militar guarani. Foi levada com seus três filhos menores para o interior do Paraguai. Seu pai, Antônio Barbosa, recorreu aos governantes do Brasil exigindo providências para o caso do sequestro de seus familiares. Por exigência do Visconde de Rio Branco, representante diplomático em Assunção, foram libertados mais tarde. Retornaram ao Brasil e Dona Senhorinha se casou, segundo os costumes da época, com seu cunhado, José Francisco Lopes, que também era viúvo com três filhos e foram viver na fazenda em Jardim.
Presa novamente.
Em agosto de 1.864, D.Senhorinha e seus filhos, foram presos novamente. Estava novamente sozinha. José Francisco, seu novo marido, estava viajando. Foram levados para a aldeia paraguaia de Horqueta, próxima a Concepción. Por esse motivo, José Francisco decidiu servir de guia para o exercício brasileiro, se convertendo no famoso Guia Lopes. Ficaram presos por cinco anos. Ninguém consegue explicar como sobreviveram pois não lhes forneciam alimentos. Talvez tenham cultivado seus próprios alimentos. Foram resgatado pelas tropas brasileiras. Estavam nús, descalços e famintos.
Confeccionaram suas próprias roupas.
Há um documento curioso que mostra um pequeno vislumbre do que aconteceu após a segunda libertação de D.Senhorinha. Trata-se de uma relação que descreve a aquisição de agulhas, linhas, botões, colchetes e dedais para os oito membros dessa família. Revela que eles tiveram de confeccionar suas vestimentas.
A luta pela herança .
A coragem de D.Senhorinha teria uma terceira prova. Como analfabeta, teve de contar com alguns homens para garantir a herança de seus filhos. Os documentos não deixam claro, mas é provável que suas terras estavam sendo tomadas por gente da região. Quando se fala em guerra, tradicional esfera de poder exclusivamente masculino, nunca se pensa em mulheres e crianças, mas elas foram tão fortes como o maior dos heróis de nossa história.
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